"Bild" comemora 50 anos como maior jornal da Europa
O seu actual director, Kai Diekmann, de 37 anos, biógrafo de Helmut Kohl, assegura que o "Bild" mantém o espírito do fundador, Axel Caeser Springer: "um diário para gente simples". Contudo, Diekmann salienta que o "Bild" abandonou o espírito combativo e visceralmente anticomunista da Guerra Fria. Longe estão os tempos descritos no romance anti-Bild "A Honra Perdida de Katharina Blum" (1966), do prémio Nobel da literatura Heinrich Böll, dos ataques do poderoso sindicato IG-Metall, que acusou o tablóide de "ser o ópio do povo", ou dos incêndios nas redacções de Berlim e Munique no conturbado período de terror da RAF (Fracção do Exército Vermelho - grupo Baader Meinhoff).
Do primeiro chanceler alemão, Konrad Adenauer, ao actual chefe de Governo, Gerhard Schroeder, todos os chanceleres souberam reconhecer a importância de um órgão de comunicação social que se tornou a "voz do povo". O pragmático Schroeder concede mesmo que o tablóide é a sua primeira leitura matinal. Gesto que partilha com a grande maioria da classe política do país.
Actualmente, o "Bild" dispõe de mais de mil jornalistas - com uma invejável rede de "fontes" - e chega a onze milhões de alemães, o que significa uma audiência superior à de programas televisivos populares como "Quem quer ser milionário". Não é por acaso que o primeiro "duelo" entre o chanceler Gerhard Schroeder e o seu opositor nas legislativas de 22 de Setembro, o conservador Edmund Stoiber, terá lugar nas páginas do "Bild" e não nos ecrãs televisivos. No próximo dia 4 de Julho os dois políticos darão uma, inédita, entrevista ao jornal. A relação entre a política e o "Bild" sempre foi fluida. Muitos directores do jornal ou jornalistas transitaram para a vida política como assessores ou porta-vozes - Peter Boenisch (director do jornal 1961-1971) foi porta-voz de Helmut Kohl, Bela Anda é porta-voz do presente Governo, Michael Spreng tornou-se assessor de imagem de Edmund Stoiber.
A página dois do "Bild", onde estão os editoriais e a cobertura política, é a mais importante do jornal cuja retórica pode, se o jornal o quiser, derrubar governos. Parte da vitória eleitoral de Gerhard Schroeder sobre Helmut Kohl nas legislativas de 1998 é atribuída ao "Bild". Embora a política seja parte integrante deste diário desde a sua primeira edição - basta recordar as campanhas contra a construção do Muro de Berlim, o tratamento da revolução estudantil, o júbilo pela reunificação alemã - o "Bild" catapultou-se para o sucesso com histórias de alcova como a da filha ilegítima de Boris Becker - gerada num quarto de arrumações de um hotel de luxo londrino com uma duvidosa modelo russa - ou os inúmeros divórcios e infidelidades dos colunáveis, assim como crimes, acidentes vários e as notícias locais (o "Bild" tem 31 edições diferentes locais e regionais). Tudo isto condensado de forma a permitir uma leitura rápida, em pouco mais de trinta minutos.
Apesar de mais "pró-establishment" o "Bild" de Kai Diekmann, não se tornou mais "soft". Que o diga o Conselho de Imprensa alemão que, desde Janeiro de 2001, altura em que assumiu funções, já dirigiu doze admoestações a Diekmann.