Teletxea Maya volta a provocar tensão entre Madrid e Lisboa
As relações entre Portugal e Espanha estiveram esta semana sob forte tensão depois do Governo português ter homologado um parecer da Procuradoria-geral da República, segundo o qual não é possível extraditar Teletxea Maya, o basco acusado pela justiça espanhola de colaboração com a ETA, noticia a edição de hoje do "Expresso".
De acordo com o semanário, a irritação das autoridades de Madrid chegou mesmo ao ponto do primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, ter interpelado directamente Durão Barroso sobre as razões da homologação, feita no passado dia 6 pelo actual ministro da Administração Interna, António Figueiredo Lopes.
Prevendo a reacção de Madrid, e numa tentativa para tentar preservar as boas relações entre os dois Executivo de centro-direita, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Martins da Cruz, aproveitou um encontro com o seu congénere espanhol, no passado dia 9 em Madrid, para lhe comunicar a decisão. De imediato, o chefe da diplomacia espanhola manifestou o desagrado e incompreensão, relata o semanário. Três dias depois, foi o próprio Aznar a interpelar Durão Barroso num encontro também em Madrid.
O chefe do Executivo espanhol terá lembrado nessa ocasião ao primeiro-ministro português as suas boas relações pessoais — que o levaram a participar na convenção eleitoral do PSD — e os compromissos de Portugal na luta internacional contra o terrorismo. Durão Barroso argumentou que o MAI não tinha alternativa, pois estava em causa o respeito pelas leis portuguesas.
Frustrada a via judicial , as autoridades de Madrid estudam agora outras alternativas para obter a extradição de Teletxea Maya, a qual vêm requisitando desde 1994.
Contudo, os tribunais portugueses sempre indeferiram os seus pedidos de extradição.
Parecer pedido pelo anterior ExecutivoO parecer da procuradoria foi pedido pelo MAI em Abril do ano passado, na sequência de um recurso apresentado pelo basco, que viu o seu pedido de autorização de residência em Portugal recusado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras com base no argumento de que não possuía bilhete de identidade ou passaporte.
O então ministro Nuno Severiano Teixeira decidiu recorrer ao Conselho Consultivo da procuradoria para que este analisasse o caso à luz da lei portuguesa. A questão era a de saber se um cidadão indocumentado poderia permanecer em Portugal e se o MAI podia obrigá-lo a sair do país. A resposta foi dada em Março deste ano, pouco antes do Governo socialista cessar-funções, pelo que caberia já ao novo ministro homologar o parecer, que aguarda agora publicação no "Diário da República", noticia o semanário.
Regindo à notícia do "Expresso", o ministro adjunto do primeiro-ministro negou, em declarações à agência Lusa, a existência de quaisquer tensões entre os dois países. José Luís Arnault garantiu ainda que "em termos da política portuguesa, é impensável que um governo vá contra decisões ou pareceres dos tribunais que se pronunciaram sobre o tema".
Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Josep Piqué, adiantou, em declarações à agência Efe, que o Governo português manifestou a Madrid a vontade de "encontrar um mecanismo que permita resolver" o pedido de extradição.
Além de considerar que o parecer da procuradora não encerra "em princípio" a via jurídica, Piqué assegurou que não tem "qualquer dúvida" de que Lisboa quer resolver este "elemento irritante" nas relações bilaterais.
O ministro espanhol afirmou ainda que não apresentou qualquer protesto formal a Martins da Cruz, adiantando mesmo ter agradecido ao chefe da diplomacia portuguesa a informação em primeira mão sobre a decisão da procuradoria. "Não se pode dramatizar nem falar de falta de cooperação, porque o que se passa é o inverso", concluiu.