Pegadas de dinossauro em perigo na Praia Grande

As pegadas de dinossauros descobertas há mais de 20 anos a 50 metros do areal da Praia Grande, Sintra, estão ao abandono. A falta de sinalização e a degradação das escadas de acesso são um perigo para qualquer interessado e motivos para o seu desconhecimento.

"Uma autêntica vergonha e incúria das entidades responsáveis", foi como o director do Museu Nacional de História Natural, Galopim de Carvalho, classificou, em declarações à Lusa, a situação a que está votada a jazida da Praia Grande do Rodízio, considerada uma das mais importantes da Península Ibérica.

"Aquela jazida pertence ao Parque Natural Sintra-Cascais (PNSC) que não faz nem fez nada para recuperar as pegadas e os mais de cem degraus de acesso que estão intransitáveis e são um perigo para quem ali passe", afirmou o geólogo, criticando também o Instituto de Conservação da Natureza e o Ministério do Ambiente.

A laje quase vertical com as pegadas do Cretácico inferior, com cerca de 110 a 115 milhões de anos, foi descoberta em 24 de Abril de 1981 por José Madeira, na altura estudante do quarto ano de Geologia e hoje professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Face à situação actual da jazida, Galopim de Carvalho alerta para o perigo de uma eventual derrocada, dada a grande instabilidade da arriba. "A camada que tem as pegadas está empinada e a água entra por trás, pela parte argilosa, o que pode provocar uma derrocada e logo um desastre a quem esteja na praia", salientou o geólogo.

De acordo com Galopim de Carvalho, a jazida da Praia Grande "é muito rica", porque as pegadas são muito fundas e correspondem pelo menos a dois tipos de animais, e é mais antiga que a de Carenque - igualmente ao abandono no concelho de Sintra, por cima do túnel da CREL -, que têm 95 milhões de anos.

"Quando comecei há meia dúzia de anos a entregar projectos de recuperação, [o arranjo da jazida da Praia Grande] custava cerca de 3.000 contos, há dois anos sensivelmente 14.000/15.000 contos, agora não sei, mas não acredito que sejam os custos a impedir esta recuperação", disse o director do Museu da História natural, garantindo que já enviou ao PNSC vários projectos e até segundas vias que caiem constantemente "em cesto roto".

Para José Madeira, o processo de amarração das lajes, com perfurações na arriba, a recuperação da escada e a criação de uma plataforma de observação na parte rochosa é dispendioso, mas "de grande interesse geológico e paisagístico".

O director do PNSC, Óscar Knoblich, admitiu conhecer o problema de insegurança dos acessos e adiantou que vai avançar um projecto que visa criar "um acesso directo de Almoçageme e alternativo ao que existe já na Praia Grande e é único". Para o presidente do PNSC não restam dúvidas de que aquela zona tem que ser preservada, mas há que apostar numa "solução duradoira e que garanta continuidade e não desperdiçar dinheiro noutra que seja tão precária como a que existe".

A Câmara de Sintra já se disponibilizou para discutir o problema com a direcção do PNSC, disse o vereador da Cultura, Cardoso Martins.

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