O "Homem-Aranha" voa pela primeira vez no cinema

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Coube à Austrália o privilégio de, na segunda-feira à noite, ter servido de cenário à primeira apresentação mundial de meia hora do muito aguardado "Spider-Man", um filme com o jovem Tobey Maguire (o actor de "As Regras da Casa" e "Wonderboys - Prodígios") no papel do herói da BD da Marvel.

É verdade que um "trailer" de 60 segundos já tinha sido exibido nos Estados Unidos perante plateias entusiásticas, confirmando que "Spider-Man" é uma forte aposta para a temporada de Verão nas salas de cinema americanas (a estreia em Portugal está agendada para 28 de Junho).

Numa conferência de imprensa realizada no Town Hall (uma espécie de Paços do Concelho) de Sydney, Maguire e as co-vedetas Kirsten Dunst (de "Virgens Suicidas") e Willem Dafoe, bem como o realizador Sam Raimi, enfrentaram a imprensa pela primeira vez. Raimi adiantou que a tónica do filme assenta na prevalência do bem no homem: Peter Parker, a personagem de Maguire que se transforma em Homem-Aranha, começa por empregar os seus poderes em benefício próprio, mas acaba por canalizá-los para ajudar a humanidade. "Ele cresceu num bairro pobre de Queens, mas depois de um árduo percurso torna-se num verdadeiro herói em circunstâncias extraordinárias".

Um revigorado Tobey Maguire projecta a sua típica imagem de inocência no papel de um "nerd" ingénuo, com óculos ao estilo de Clark Kent, que depois de ser mordido por uma aranha geneticamente sobredesenvolvida ganha poderes sobrehumanos. O seu amigo (interpretado por um atraente James Franco), ou qualquer outro dos colegas de turma mais vistosos, têm tudo a seu favor para ficar com a rapariga de que todos gostam, mas assim que Peter começa a salvar o mundo enquanto Homem-Aranha sabemos que isso vai mudar.

Como foi ganhar poderes, conquistar a rapariga e envergar um apertado fato elástico? "Apeteceu-me fazer qualquer coisa que tivesse mais a ver comigo", ironizou Maguire.

Claro que, na vida real, o actor gosta de vestir vulgares "jeans" e camisolas de malha, é o melhor companheiro do boémio "enfant terrible" que é Leonardo DiCaprio, e teve um caso com Kirsten Dunst durante as filmagens -não é, propriamente, inocente. Em Sydney, soltou o cabelo, foi assistir às corridas de cavalos de Royal Randwick, e admitiu que ultimamente não tem mantido o intenso regime alimentar que levou a cabo durante mais de cinco meses devido ao filme. "Tenho andado a comer imensos 'donuts'", confessou com um sorriso.

O dilema das Torres GémeasTal como a BD em que se baseia, a acção de "Spider-Man" decorre em Nova Iorque, pelo que seria perdoável pensar que a tragédia de 11 de Setembro só veio aumentar a curiosidade em relação ao filme. Raimi explicou que este já estava praticamente finalizado por essa altura, e que se decidiu manter as imagens das torres gémeas do World Trade Center como uma espécie de tributo, embora o final e o "trailer" tenham sido alterados.

"Um dos assistentes de realização filmou cenas de propósito para o 'trailer' sem a nossa supervisão, em que se via o Homem-Aranha a apanhar o helicóptero de uns criminosos numa gigantesca teia suspensa entre as Torres Gémeas. Teve uma excelente reacção junto do público, mas depois de 11 de Setembro não nos pareceu apropriado incluir cenas das torres que despertassem tanto entusiasmo."

Um terço do orçamento de 80 milhões de dólares foi gasto em efeitos especiais. Mas, finalmente, tornou-se possível fazer uma adaptação ao cinema de "Spider-Man", um clássico da BD escrito há 40 anos. James Cameron ("Exterminador Implacável", "Titanic") desistira do projecto há muito tempo, por considerá-lo impossível de filmar, e só os avanços tecnológicos dos últimos três ou quatro anos é que o vieram desmentir. A velocidade com que o Homem-Aranha abre caminho entre o topo dos edifícios de Manhattan é um verdadeiro prodígio. Contudo, algumas das ideias de Cameron foram mantidas, como as teias fedorentas que o Homem-Aranha projecta das suas mãos, apesar de Raimi garantir que o resultado é uma conjunção de vários elementos do argumentista David Koepp ("Parque Jurássico") e dos próprios autores da Marvel.

Como se restassem dúvidas, haverá um "Spider-Man" II e III. O orgulhoso Raimi anunciou na conferência de imprensa que acabara de assinar contrato para realizar a primeira sequela, ao passo que Maguire, que recebeu cerca de quatro milhões de dólares, arrecadará uma percentagem considerável dos lucros se as sequelas renderem boas receitas. A história demonstra que é o que costuma acontecer.

Kirsten Dunst, que recuperou o loiro natural depois de se converter em ruiva para o filme, afirmou que, no início, os seus fãs não gostaram da ideia de ela mudar a cor do cabelo. Willem Dafoe, revelando o seu habitual sorriso diabólico, deliciou-se no seu papel do vilão, Green Goblin ("duende verde"), embora o "trailer" apresentado em Sydney só inclua uma das suas cenas, coberto com uma máscara semelhante à de Darth Vader - mas, naturalmente, verde. Praticante assíduo de ioga, o actor de 46 anos afirma que adora fazer filmes de acção. Ficou entusiasmado com a ideia de participar em "Spider-Man" quando o exaltado Raimi lhe telefonou quando Dafoe filmava em Espanha.

"Sam explicou cada detalhe psicológico, cada pequena repercussão", relembra. Não foi preciso mais para convencê-lo a juntar-se ao outrora realizador de culto que ficou nos anais do cinema de terror graças aos seus filmes de "Evil Dead", mas que, por outro lado, é suficientemente ecléctico para ter dirigido um "western" como "Rápida e Mortal" e outros desvios ao género como "O Plano". Com "Spider-Man", tudo indica que se tornou mais "mainstream" do que nunca - espera-se apenas que mantenha alguma da intensidade que conferiu à sua filmografia anterior.

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