Tom Barman: “Unplugged in Paradise Garage”

Foto
O à-vontade de Tom Barman foi o motor do concerto no Garage DR

Um microfone, uma guitarra e um piano de cauda era tudo quanto havia em palco no concerto de Tom Barman ontem no Paradise Garage. O vocalista dos dEUS não precisava de mais nada para conquistar o público, mas ainda assim trouxe consigo uma boa-disposição a toda a prova que só tornou a noite um prazer ainda maior.

O cenário chamava ao intimismo, como que à espera daqueles pequenos grandes momentos tirados de uma ocasião assim. Afinal, não é todos os dias que se pode ter ao vivo um cheirinho de dEUS através da presença da sua maior voz, Tom Barman. E escutar temas que não vão directos ao ouvido, preferindo antes escorregar para o canto mais fundo e reservado de cada um. Eram muitos os fãs dessas canções, com o Paradise Garage composto a preceito para o concerto.

O cenário, a entrada com “Magnolia”, o veludo anguloso da voz de Barman, as luzes suaves como cortinas a tapar e a descobrir Barman alternadamente, tudo fazia prever um concerto feito de envolvência, partilha e até de uma certa comoção. E se estes ingredientes não estiveram de todo ausentes – especialmente na primeira parte do concerto – a verdade é que Barman parecia estar com mais vontade de falar, de brincar e de fazer rir o público. Embriaguez da música ou ressaca da noite anterior (no Porto), o certo é que ao palco do Garage subiu um Tom Barman muito bem-disposto e comunicativo, ao ponto de alguém perguntar, no público: “mas isto é um espectáculo cómico?”

Sim e não. Sim, porque cantor e público (e pianista de serviço) partilharam sorrisos, gargalhadas até, fosse por causa dos assobios desafinados de Barman, pelas suas gaffes ou, porque não?, pelas histórias de outros tempos da sua vida. Mas não, o espectáculo não foi só rir, porque se há coisa que Barman tem é o dom de, ao começar a cantar, imediatamente invocar na plateia um silêncio feito de respeito, atenção e absorção ao máximo.

E o público absorveu todo o desfile de emoções que viu serem geradas e criadas em palco, ora fazendo referência à obra dos dEUS, ora passeando por outros autores da colecção de memórias do vocalista. E, assim, por ali passaram “Magdalena”, “River man”, “Pink Moon”, “Everybody’s weird”, “Instant street” e “Serpentine”, com o público a cantar o refrão timidamente, talvez por receio de quebrar a delicada atmosfera que se compuzera.

Um dos momentos da noite foi a apresentação de uma música nova em que, sem falsas modéstias, Barman mostrou os seus dotes de guitarrista, num ritmo alucinante que levou o público a um calor crescente. Um calor que viria a desaguar no ritmo de “cabaret” de “Poinçonneurs”. Seguir-se-ia a balada “Nothing really end”, “Right as rain”, “My funny valentine” e “After midnight”, a apelar a uma noite ainda mais longa.

O encore aconteceu, mas foi totalmente desmistificado por Barman. “Esta é aquela parte em que eu vou lá atrás e depois volto ao palco”, disse por entre um sorriso irónico e a cumplicidade do público. E voltou mesmo, com a beleza de “Little Arithmetics”, outro grande momento. Tão suave que, do público, se ouvia apenas um sussurro colectivo no refrão.

Mas houve ainda tempo para “Louisiana”, “Harry & Irene”, “Fruit free” e para um novo encore, que o público exigiu contra tudo e todos. As luzes acenderam e começou até a passar outra música, mas a assistência não desarmou e, passados uns bons minutos, Barman não teve solução senão voltar, para um último banho de emoções que, para a maioria dos presentes, terá roçado o divino, não fosse dEUS o seu nome do meio.

Sugerir correcção
Comentar