Transportes alternativos nas linhas da Póvoa e da Trofa

7h18. A central de camionagem da Póvoa de Varzim está praticamente deserta. No balcão da empresa Metro do Porto, o funcionário diz que, "excepcionalmente, hoje os bilhetes são vendidos nos autocarros". Nos cais de embarque, duas viaturas aquecem os motores mas a lotação já está praticamente completa, sobretudo de jovens que se dirigem para a universidade. Nuno Ortigão, director de comunicação da Metro do Porto, acompanha a saída dos dois veículos directos ao Porto: um até à Praça da República; o outro vai ficar-se pelo Bom Sucesso. O relógio da central marca 7h29, mas o do responsável do metro aponta a hora coincidente com o do horário oficial (7h23) e lá partem os transportes alternativos através do IC1(Itinerário Complementar n.º 1). O PÚBLICO optou por fazer a viagem na linha normal, ou seja, a bordo do autocarro que percorre a Estrada Nacional n.º 13. Nuno Ortigão ainda tem tempo de justificar que os bilhetes esgotaram no dia anterior, mas "até às 8h30" a situação ficava normalizada. O autocarro abre as portas e entram, em primeiro lugar, uma senhora e a filha, que desconhecem a forma de chegar ao Hospital de Pedro Hispano, em Matosinhos. O motorista explica que poderão sair junto à rotunda dos "Produtos Estrela" e passar para o serviço normal da STCP. "Por favor, então quando chegarmos lá diga", solicita a passageira. O motorista dirá.A central de camionagem dispõe de um sistema de som para a divulgação das partidas, mas àquela hora as colunas estavam caladas e o condutor não resiste, antes de arrancar, a lançar um sonoro: "Porto Normal". São 7h41, há um atraso de três minutos na saída. A primeira paragem seria na Praça do Almada (ainda na Póvoa), mas dois elementos da Metro junto ao abrigo fazem um sinal gestual de que não existem passageiros à espera e a viagem prossegue. Só na ligação até Vila do Conde, o autocarro cruza-se com sete veículos semelhantes. Mas serão dezenas e dezenas até chegar ao Porto. Ou seja, os transportes alternativos são um acrescento às carreiras normais, o que, sobretudo nas zonas citadinas, gera uma torrente de veículos pesados que enervou alguns automobilistas.Dentro do autocarro, os passageiros vão trocando opiniões sobre o serviço. O motorista contacta um colega por telemóvel: "Então, estás a safar-te ou quê? Sabes entrar no IC1?", questiona de forma divertida. Reconheceria mais tarde que só o hábito tornará os profissionais da frota - de várias empresas privadas - familiarizados com os percursos e horários. A passagem pela zona de Pedras Rubras (Maia) é complicada devido ao trânsito e aos cruzamentos que os autocarros têm de atravessar. Uma utente manda parar o autocarro e pergunta se este vai para o Bom Sucesso. "Não", resposta pronta. E para a zona do Hospital Militar?, insiste. "Também não", o que provoca a debandada da possível passageira. Os horários fornecidos pela empresa contêm umas "bolinhas" com os pontos de paragem que contradizem as afirmações do motorista. Verificar-se-á que há uma paragem na Rua de 5 de Outubro e nenhuma junto ao Bom Sucesso (assinalado com uma bolinha). Mas Nuno Ortigão, contactado pelo PÚBLICO, salienta que o condutor optou pela solução prevista. Ou seja, o grafismo já gerou confusão... 8h28. Está ultrapassada a ponte de Leça e aproxima-se a massa compacta de automóveis que acedem à Avenida AEP. O corredor "bus" fica após a rotunda (a Metro já pediu a antecipação do seu início) e até lá anda-se devagar, devagarinho... O relógio já leva uma hora de viagem e o condutor quebra o "stress", aumentando o som das colunas do rádio do qual sai um conhecido passatempo que coloca frente a frente dois ouvintes de sexos diferentes. Ouvem-se risos dos passageiros, perante os falhanços dos participantes. Sempre dá para aliviar a ansiedade, numa viagem que terminou na Praça da República uma hora e 23 minutos depois de ter começado.

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