Carlos Paredes comemora hoje 77 anos

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Carlos Paredes deixou de tocar guitarra em 1993 DR

O guitarrista português Carlos Paredes, afectado há oito anos por uma mielopatia crónica que o afastou da sua guitarra, festeja hoje 77 anos numa semana em que foi editada uma "Antologia" da sua obra.

Carlos Paredes, o mestre da guitarra portuguesa a quem Amália Rodrigues uma vez qualificou como "um monumento nacional, como o Mosteiro dos Jerónimos", nasceu em 16 de Fevereiro de 1925 em Coimbra e foi o último elemento de uma longa genealogia de grandes guitarristas.

A sua biografia está desde cedo intimamente ligada à guitarra portuguesa, seguindo uma tradição familiar iniciada com o seu bisavô, António Paredes, e continuada pelo avô Gonçalo, pelo tio-avô Manuel e depois pelo pai, Artur Paredes.

Carlos Paredes começou a tocar guitarra com o pai aos quatro anos e desde então nunca parou até que em 1993 a doença o afastou do seu instrumento.

"Quando eu morrer, morre a guitarra também", disse o músico há alguns anos ao "PÚBLICO".

O seu primeiro trabalho discográfico foi o EP "Carlos Paredes" em 1957. Depois de vários discos do género ("Verdes Anos", "Romance No. 2", "Fantasia" e "Porto Santo"), foi finalmente editado em 1967 o seu primeiro álbum, "Guitarra Portuguesa".

Antes, Paredes compôs várias obras para o cinema e o teatro, que no entanto nunca foram editadas em disco.

Ao longo da década de sessenta, o cinema tornou-se uma presença constante na obra do guitarrista, que compôs bandas sonoras para os filmes "Verdes Anos" (1962), "P.X.O." (1962), "Fado Corrido" (1964), "As Pinturas Do Meu Irmão Júlio" (1965), "Mudar De Vida" (1966), "Crónica Do Esforço Perdido" (1966), "A Cidade" (1968), "Tráfego e Estiva" (1968), "The Columbus Route" (1969) e "Hello Jim" (1969).

No teatro, a sua música ilustrou nomeadamente as peças "O Render Dos Heróis", "As Bodas De Sangue", "A Casa De Bernarda Alba" e "António Marinheiro".

Em 1967, Amália foi a responsável pela sua primeira grande apresentação no estrangeiro, na mítica sala Olympia, em Paris.

Desde a edição em 1967 de "Guitarra Portuguesa", foram publicados até agora mais onze álbuns de Carlos Paredes.

Em Dezembro de 2000, foi editado o seu último trabalho de originais, "Canção Para Titi - Os Inéditos 1993", gravado em Julho de 1993, quando o músico já se encontrava seriamente afectado pela doença do foro neurológico que o haveria de impossibilitar de tocar guitarra.

"Uma Guitarra Com Gente Dentro"

Na semana em que o músico comemora 77 anos, foi editada a antologia "Uma Guitarra Com Gente Dentro", o mais completo disco de Carlos Paredes com todos os seus êxitos.

No trabalho, de 22 faixas, que passa em revista a carreira do artista desde "Verdes Anos", o seu primeiro grande êxito, até ao álbum "Dialogues" de 1990, Carlos Paredes toca a solo, por vezes acompanhado por Luísa Amaro e Fernando Alvim ou ainda em duetos com Charlie Haden e António Victorino d`Almeida.

A capa da colectânea inclui um prefácio assinado por Maria João Seixas, em que a conhecida intelectual portuguesa traça uma perspectiva intimista da obra de Carlos Paredes.

"O arrepio que sentimos ao ouvi-lo não é inibidor de vontade nem nos paralisa melancolicamente, antes nos projecta para um adiante que devemos saber conquistar. Quando ouço falar em "identidade nacional", proponho, ainda hoje, que se escute Carlos Paredes para melhor se perceber quem somos e o que devemos ousar querer ser", sublinha Maria João Seixas no prefácio da obra.

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