Cimento e calor usados na luta contra o cancro

Primeiro, é injectado um cimento (um material cerâmico com propriedades magnéticas) que solidifica no interior do tumor, definindo os seus contornos e fronteiras. Depois, o rato cimentado vai ao "forno", ou seja, é submetido a uma temperatura entre os 45 e os 50 graus Celsius, utilizando um campo magnético de alta frequência, para produzir a hipertermia. A acção resulta num aquecimento preciso da região onde se encontram os tecidos tumorais, na alteração de velocidade de crescimento dos tumores implantados e numa destruição da rede capilar que alimenta o tumor. O cancro atacado terá de ser sólido, o que exclui da lista de eventuais futuros alvos, entre outros, a leucemia.

Para José Cavalheiros, orientador da tese de Teresa Almeida, as principais vantagens da nova técnica chamada de HFH (Highly Focused Hipertermia) em relação às técnicas de hipertermia clássicas são a facilidade de definir os contornos exactos do tumor com a injecção do cimento e a possibilidade de repetir o tratamento, caso necessário, dado que este material é bem aceite pelo organismo (não provoca efeitos secundários, assegura) e pode permanecer no local.

Com a HFH é ainda possível subir um pouco a temperatura usada nos métodos tradicionais. O ataque térmico à rede capilar que alimenta o tumor - sem afectar os capilares normais - produz um colapso destes vasos, micro-hemorragias e falta de oxigénio. O objectivo é tentar "desencadear um mecanismo de apoptose", ou seja, induzir a as células malignas a suicidarem-se.

Mas uma das mais promissoras janelas abertas por esta investigação - que envolveu o departamento de Engenharia de Materiais da Faculdade de Engenharia do Porto, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e a Faculdade de Medicina de Universidade de Coimbra - é a procura de uma resposta do sistema imunitário. "Esse será o próximo passo", diz Teresa Almeida, acrescentando que alguns estudos realizados levam a supor que é possível conseguir uma reacção do organismo que pode ser comparada a uma "vacina". "Com o processo de aquecimento, o organismo desenvolve proteínas de choque térmico que activam o sistema imunitário", explica. Ou seja, de cada vez que surge esta proteína estranha, o organismo procura removê-la. Assim, não só mata o tumor como elimina as metástases. Conseguir esta resposta com esta nova técnica é a meta das próximas experiências, que vão continuar ainda no mundo dos ratos.

Mas, para que a aventura continue, Teresa Almeida sublinha que "é preciso financiamento". E a titulo de exemplo informa: "Um rato de laboratório custa cerca de dois contos". E, durante o ano que durou a vertente experimental do seu trabalho de doutoramento, utilizou cerca de cem ratos.

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