Dirigente da JCP demitido por ter subscrito abaixo-assinado

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Outros sectores de onde partiram muitos apoios ao abaixo-assinado foram o da saúde e dos intelectuais Bruno Rascão (Arquivo)

É o primeiro caso de afastamento deliberado na sequência da entrega do abaixo-assinado que pede um congresso extraordinário do PCP. Bruno Carapinha, responsável pela organização do ensino superior de Lisboa da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) foi demitido do cargo que ocupava por ter subscrito aquele documento.

Anteontem à noite, realizou-se uma reunião da direcção daquele organismo, em que participaram Paulo Raimundo, membro da comissão política do partido, e Alexandre Teixeira, responsável na Organização Regional de Lisboa pela ligação à juventude. Os dois dirigentes anunciaram que Bruno Carapinha não podia mais manter-se à frente da organização do ensino superior de Lisboa porque tinha sido quebrado o elo de confiança política que os dirigentes consideraram ser necessário para o desempenho de tais funções. E assumiram que foi por causa do abaixo-assinado, entregue no domingo na sede do PCP, que defende um congresso extraordinário e uma convergência política com as várias forças de esquerda. Bruno Carapinha, de 23 anos, tinha sido eleito, entre os membros da direcção do organismo, para o cargo há aproximadamente um ano. Na reunião de anteontem, participaram cerca de 17 membros da direcção (que tem perto de 25). Apenas um se mostrou favorável ao seu afastamento. Os militantes da JCP presentes - vários tinham subscrito também o abaixo-assinado - consideraram que o afastamento foi determinado por delito de opinião e que tal decisão foi uma injustiça. Segundo relatos da reunião recolhidos pelo PÚBLICO, o sentimento maioritário foi o de revolta. Algumas pessoas defenderam a necessidade de se realizar um congresso extraordinário antes das eleições legislativas, outras que fosse depois das eleições, outras sublinharam que o abaixo-assinado não foi um acto antiestatutário.
Na resposta, Paulo Raimundo e José Teixeira reiteraram os termos da nota da comissão política de segunda-feira, que considerava o abaixo-assinado "reprovável" e formulado apenas com o "intuito de alcançar um capital de queixa que eventualmente sirva no futuro para novas e ainda mais graves atitudes".
Com o afastamento da direcção do ensino superior de Lisboa, Bruno Carapinha - que é estudante de História na Faculdade de Letras de Lisboa - deixará também de ser funcionário do PCP, ou seja, será na prática despedido por questões políticas e por subscrever um abaixo-assinado.
Contactado pelo PÚBLICO, este militante da JCP recusou-se a fazer qualquer comentário sobre as circunstâncias da sua demissão. Confirmou apenas ter endereçado um abaixo-assinado ao comité central enquanto militante. "Estou à espera da resposta deste organismo máximo do partido", disse, sublinhando que se trata de "um assunto interno".
De acordo com um militante comunista, o funcionamento interno e a distribuição de pelouros obrigava a que este assunto da JCP de Lisboa fosse tratado pessoalmente por Domingos Abrantes, responsável no secretariado por Lisboa, e Luísa Araújo, responsável na comissão política pela JCP.
Hoje à noite, realiza-se o plenário do organismo do ensino superior de Lisboa, onde deverá ser discutida a demissão de Carapinha e onde outros membros da JCP poderão aproveitar para marcar a sua posição relativamente aos recentes acontecimentos. Um militante contactado pelo PÚBLICO admitia ontem que viessem a ocorrer demissões de pessoas que, mais do que solidárias com Bruno Carapinha, quererão expressar o seu desacordo com os processos seguidos pela direcção do partido, acrescentando que se está perante um caso de "purga".
No entanto, a presença esperada de Domingos Abrantes na reunião poderá servir para desencorajar eventuais contestações.
Outros sectores de onde partiram muitos apoios ao abaixo-assinado foram o da saúde e dos intelectuais. Em Lisboa, estes dois organismos são constituídos por pessoas que não são funcionárias (políticas) do PCP.

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