Capucho garante menos construção para Cascais
Hoje mesmo Judas deixou-lhe como "prenda" cerca de três mil novos fogos licenciados para Tires. Capucho continua sem saber a verdadeira dimensão do que lhe foi deixado em herança em matéria de urbanismo. O que o leva a adoptar agora um discurso mais cauteloso. Diz que vai travar o que for passível de ser parado. Também não excluiu a possibilidade de avançar com demolições e promete tornar públicos os indícios de corrupção que vier a encontrar na autarquia. Um primeiro calendário: amanhã vai avançar com a reformulação de uma das mais polémicas vias do concelho; dentro de 15 dias dará início ao processo de revisão do Plano de Director Municipal. Lá para Abril promete dar corpo ao cargo de Provedor do Munícipe, uma estreia na história do poder local. Em Portugal escolhe Évora como sua cidade de eleição. Lá por fora, Roma, Florença e Veneza são as suas favoritas. Pela luz e monumentalidade.
ANTÓNIO CAPUCHO
- Está completamente excluído. Neste momento, o meu partido tem a minha indisponibilidade confirmadíssima.
Já tem ideia de qual vai ser a ordem de trabalhos da primeira reunião de câmara sob a sua presidência?
Vou reunir a câmara às segunda-feiras, às 9h30 da manhã. A primeira reunião é tradicionalmente destinada a um conjunto de questões formais, nomeadamente a delegação de poderes. Ocorre na segunda-feira que vem. A segunda reunião será oito dias depois. Essa sim já com uma ordem de trabalhos alargada. Espero já estar em condições para apresentar uma resolução de revisão do PDM com adopção de medidas preventivas. A remeter à Assembleia Municipal. Presumo que daqui a 15 dias teremos isso aprovado na câmara.
A proposta que vai apresentar já inclui os objectivos da revisão?
Porventura. Mas de carácter muito geral. Porque o grande problema que eu tenho é o de não ter elementos estatísticos satisfatórias, nomeadamente sobre questões tão simples com o número de de fogos licenciados e construídos.
Ainda não tem esse elementos? Não lhe foram fornecidos nas duas reuniões que manteve com o presidente cessante?
Não. E também não tenho informação em relação a dezenas de casos que terão que ser vistos, cada um deles, à lupa. Não haverá despacho sem análise exaustiva de processos. Os objectivos de revisão do PDM terão que ser diferentes consoante um cenário de X fogos já licenciados ou de X elevado à enésima potência. Aquilo que direi é que é nossa convicção profunda, por força da observação e dos dados que apesar de tudo é possível coligir, que ultrapassámos de longe os limites de crescimento para as infra-estruturas de que dispomos e mesmo para as infra-estruturas que estão previstas em termos de acessibilidades. Pelo que será sempre uma revisão com objectivos no domínio urbanismo extremamente restrictivos. Em forte baixa.
O que vai fazer com a Quinta do Barão, em Carcavelos?
A intenção de construir torres na Quinta do Barão é completamente inaceitável para nós. Viola flagrantemente o PDM. Não tem nenhuns pés para andar. Mas não tenho uma posição tomada em definitivo sobre o que poderá ser feito na Quinta do Barão.
E a Quinta dos Ingleses, também em Carcavelos?Neste momento parece existir a intenção, do promotor, de apresentar um novo Plano de Pormenor bastante mais comedido [o anterior contemplava a construção de 1500 fogos]. Para mim, qualquer plano para a Quinta dos Ingleses é indissociável de um grande parque urbano. Concomitantemente, o promotor parece estar interessado em transformar grande parte da habitação, junto à estação, em escritórios. Ora, um dos meus objectivos é precisamente tornar Cascais atractivo para o terciário. Para tornar o concelho cada vez mais dependente de receitas que lhe venham da actividade económica e menos da construção. Eu quero saber exactamente quais são os direitos adquiridos na Quinta dos Ingleses. É o que procurarei fazer logo que chegue à câmara. Que o Departamento de Urbanismo, se necessário recorrendo a uma assessoria externa, me diga exactamente quais são os direitos e a partir daí ter uma base de trabalho para negociar com o promotor.
Relação com promotoresVai impedir mais construção nos Jardins da Parede [onde estão a ser erguidos cerca de 2500 fogos]?
Só vendo. Quem me dera poder travar o que pudesse ser travado nos Jardins da Parede, que serão um factor gerador de caos em toda a zona. E um aborto no plano urbanístico. Tudo o que eu puder aliviar nos Jardins da Parede, mesmo com contrapartidas, será extremamente útil. Tenho é a maior dificuldade, quer por condicionantes de natureza financeira, quer de natureza jurídica, de estar a assumir compromissos que traduzam esta minha vontade de aligeirar todos estes megaprojectos em curso ou em fase de apreciação.
Vai embargar construções no Abano?
Sem dúvida nenhuma. Não apenas embargar. Vou até às últimas consequências. Mas tenho de estar seguríssimo no plano jurídico. Não posso estar a brincar com o património alheio. O que garanti aos eleitores, e gostaria que ficasse claro, é, primeiro, que a minha predisposição em termos de crescimento é no sentido fortissimamente restrictivo. Segundo, que sou absolutamente insensível às pressões de carácter urbanístico ou aos interesse económicos. Pelo contrário. Quero manter relações cordiais com promotores desde que cada um ocupe o seu espaço. Mas não posso é agir à revelia da lei.
E põe a hipótese de avançar com demolições?
Os meus adversários dizem que o meu maior gozo deve ser sentar-me numa plateia a assistir a uma implosão. Não me dá gozo especial. Mas devo confessar que não acredito que seja credível a política que defendo se, num caso limite em que a solução é a implosão, esta deixar de ser feita.