Torne-se perito

"Partido" dos independentes arranca com três presidentes de câmara

Não foi só a onda "laranja" que no domingo varreu quase todo o país autárquico (aqui e ali salpicada por tons azuis e amarelos, nos casos em que o PP concorreu coligado com o PSD) que engoliu a maré "rosa" nas autarquias, que já vinha desde 1989 e foi a alavanca decisiva para o PS chegar ao poder em 1995. Também a entrada em cena dos independentes em 22 concelhos - que pela primeira vez puderam candidatar-se às câmaras e assembleias municipais (AM) - prejudicou sobretudo os socialistas. Dos três municípios que caíram nas mãos deste novo "partido" - que agora tem tantos presidentes como o CDS-PP... -, dois eram do PS e um dos populares. Nos três casos, tratou-se da reeleição dos respectivos presidentes. Todos eles ganharam com maioria absoluta, duas das quais esmagadoras. O campeão dos independentes foi Luís Azevedo, de Alcanena, que deu uma "lição" ao PS, partido pelo qual tinha sido eleito há quatro anos, e que agora apostou no líder da distrital de Santarém e ex-governador civil, Carlos Cunha. Como independente, Azevedo atingiu os 57,81 por cento, conseguindo mesmo mais seis pontos do que em 1997, deixando o PS abaixo dos 20 por cento. Elegeu cinco vereadores, contra apenas um do PS e outro do PSD. Esmagador, como se esperava, mas talvez um pouco menos em relação às expectativas, foi também o mediático Daniel Campelo. Em Ponte de Lima, chegou aos 57,36 por cento (menos quatro do que nas últimas eleições) e perdeu um vereador para o PS (que reentra na câmara), ficando agora com quatro, o dobro dos do PSD. Em Penamacor, a concelhia do PS apostava em Domingos Torrão para substituir o actual presidente socialista, mas a distrital de Castelo Branco vetou essa possibilidade. Torrão avançou como independente com o apoio do PSD, que não apresentou lista à câmara, e ganhou ao PS com quase 46 por cento dos votos, elegendo três vereadores contra dois dos socialistas. Já na AM, o PSD venceu à tangente, o que comprova a mais-valia de Torrão. Em quatro concelhos as listas independentes não ganharam, mas tornaram-se na única oposição aos respectivos executivos municipais: Vila Verde, em que um ex-militante do PSD, Álvaro Santos, concorreu com o apoio do PS e do PP (que não se candidataram) e elegeu dois vereadores, contra cinco do PSD; situação semelhante aconteceu em Aguiar da Beira, com Virgílio Cunha, apenas com diferença no número de vereadores; caso idêntico ainda em Montemor-o-Novo, onde Agostinho Simão não conseguiu derrotar a CDU; em Penedono, Armando Martins, que contava com o apoio do PS, teve dois eleitos contra três do PSD. Em Famalicão, a lista independente, liderada pelo presidente cessante Agostinho Fernandes (eleito pelo PS), também ficou em segundo, mas neste caso o candidato do PS, Fernando Moniz, irá igualmente eleger vereadores. Com a forte divisão na família socialista, ganhou naturalmente a coligação PSD-PP, encabeçada por Armindo Costa. À hora do fecho desta edição, não era ainda certo que a AD atingisse a maioria absoluta, porque faltava apurar os resultados em três das 49 freguesias do concelho. Por isso mesmo, os mandatos das três forças ainda não estavam distribuídos. Inquestionável é o peso político de Agostinho, que leva 10 por cento de vantagem sobre Moniz, enquanto na AM o PS quase alcança a lista independente. Três concelhos há em que os independentes não foram os mais votados, mas deverão ser o fiel da balança da futura gestão autárquica. Em Terras de Bouro, a lista do militante do PSD Joaquim Cracel (que integrava elementos afectos ao PSD, PS e PP) elegeu um vereador, enquanto o PSD e o PS ficaram com dois. Mais renhida foi a eleição na Sertã. PS, independentes (que apresentou o anterior presidente, José Manuel Carreto) e PSD, por esta ordem, ficaram todos na casa dos 29 por cento, tendo os socialistas ganho apenas por seis votos... Resultado: o PS tem três eleitos, contra dois dos independentes e dois do PSD. Mais curioso é que, para a assembleia municipal, venceu o PSD, por uma margem mais dilatada. Já no Bombarral, a dispersão de votos pelas cinco candidaturas foi de tal ordem que a câmara aparenta ficar ingovernável. Ganhou o PSD, que ficou com dois eleitos, tantos como os independentes, liderados por um ex-vereador "laranja", Luís Duarte, que foi apoiado por algumas franjas do PSD e PP locais. PS, CDS e CDU têm todos um vereador cada um. Com um vereador, mas sem qualquer influência na gestão autárquica, há quatro candidaturas independentes: Mealhada (Odete Isabel), S. Pedro do Sul (Bandeira Pinho, ex-presidente eleito pelo PS), Vouzela (Maria do Carmo Bica) e Leiria (Hélder Roque, da área social-democrata). Com fraca expressão eleitoral e sem representantes nos executivos ficaram os independentes de Penafiel (Justino do Fundo, ex-presidente), Santa Maria da Feira (Alcides Branco), Albergaria-a-Velha (Delfim Bismark), Fundão (António Campos), Entroncamento (José Pereira da Cunha, presidente cessante), Setúbal (Luís Fernandes, ex-militante do PS) e Vizela (Horácio Vale). Tanto esforço para (quase) nada, terão, porventura, desabafado, anteontem à noite, dois dos principais impulsionadores das candidaturas independentes às câmaras e assembleias municipais. É que os resultados eleitorais obtidos por Luís Fernandes, ex-militante do PS de Setúbal, e Álvaro Santos, antigo membro do PSD de Vila Verde, foram, no mínimo, frustrantes, para quem tanto se empenhou nesta causa (Fernandes até promoveu um encontro nacional sobre esta questão em Setúbal). Mas os números são cruéis. Os independentes sadinos ficaram em quarto lugar, apenas com 3,86 por cento dos votos, o que não deu para eleger qualquer vereador. Ficam somente com um deputado municipal. Em Vila Verde, os resultados foram superiores, mas insuficientes. É que Álvaro Santos - apoiado pelo PS e pelo PP - aspirava à vitória, mas o actual presidente, José Manuel Fernandes (PSD), cilindrou o seu adversário, ultrapassando os 70 por cento de votos (cinco mandatos), mais 30 por cento do que em 1997! A lista independente ficou -se pelos 23,5 por cento, obtendo dois vereadores, quando a soma do PS e do PP há quatro anos atingiu 55 por cento. Para a AM, obtiveram 16 mandatos, contra 40 do PSD e três da CDU. A.P.

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