A câmara de Bissau tem 508 varredores para limpar a cidade, mas a limpeza mais eficaz tem sido o das varas de suínos que deambulam pela urbe, coadjuvados pelos bandos de abutres que se alimentam nas lixeiras. Esta situação mereceu fortes reparos do primeiro-ministro, Alamara Nhassé, que, empossado pelo presidente Kumba Ialá apenas no domingo, quer ver a cidade limpa rapidamente."A câmara de Bissau tem 508 varredores e não precisa de estar à espera de ajuda externa para comprar vassouras", disse à agência Lusa o chefe do executivo guineense. "Apesar das centenas de funcionários da limpeza existentes na câmara, nunca se viram dez a trabalhar ao mesmo tempo". E deixou um aviso a quem estiver à frente do município: "Podemos nomear hoje e exonerar amanhã um presidente de câmara, se a cidade não estiver limpa até que isso aconteça de forma permanente"."Esta postura vai igualmente servir para todos aqueles que estão ao serviço do Estado. Quem não estiver a cumprir com as suas responsabilidades será afastado", disse o primeiro-ministro à Lusa, adiantando que foram essas as palavras que ouviu do presidente, sobre si próprio, antes de ser nomeado chefe do executivo.Alamara Nhassé teve uma atitude de firmeza há cerca de uma semana, ainda como ministro da Administração Interna (MAI), de que transitou para a chefia do Governo, quando exonerou o presidente da câmara de Bissau, Orlando Mendes Viegas, por considerar que a cidade estava "suja demais". Actualmente, a gestão da câmara de Bissau é conduzida por Fernando Arlete, ex-vice de Orlando Mendes Viegas. Nunca se realizaram eleições autárquicas na Guiné-Bissau, apesar de por diversas vezes terem sido agendadas. Assim, os autarcas têm sido nomeados directamente pela administração central.Afirmando-se homem "duro" e apologista da "decisão firme", Nhassé entende que a limpeza da cidade de Bissau e a falta de energia eléctrica - que sofreu alterações desde a sua posse na chefia do Governo, sendo agora constante o fornecimento de electricidade - são "situações que podem ser resolvidas internamente" sem "esperar pela ajuda externa".O fornecimento constante de energia eléctrica a Bissau só tem paralelo recente com o período da guerra civil de 1998/99, quando o então presidente guineense João Bernardo "Nino" Vieira exigia uma cidade iluminada por questões de segurança. Também coincidente com o anúncio da indigitação de Alamara Nhassé para primeiro-ministro e posterior tomada de posse, foi a chegada às ruas da capital guineense de grupos formados por jovens para trabalhos de remoção de lixeiras improvisadas e ajardinamento de alguns locais. No entanto, os abutres e as varas de suínos continuam a ter um papel importante na higiene da capital guineense. As lixeiras "temporárias", algumas perto do centro da cidade, como na Rua Eduardo Mondlane ou junto ao Parque XX Aniversário (Mercado do Bandim, o maior centro de comércio da Guiné-Bissau), subsistem, apesar de ser visível o esforço do município para "varrer" a urbe.A importância da limpeza biológica proporcionada pelos porcos e abutres reside na eliminação de eventuais "campos" para a multiplicação de colónias de bactérias patológicas, porquanto os restos de comida e alguns animais domésticos mortos são também depositados nestes locais. Apesar dos visíveis problemas relacionados com a limpeza, a cidade de Bissau ganhou uma "cara nova" nos últimos dias, com a remoção de lixeiras e também com a renovação das esburacadas estradas da capital, numa azáfama que a população de Bissau já não via há muitos anos.Como garantia de que "as coisas não vão voltar a ser o que eram", Alamara Nhassé disse à Lusa: "Façam a comparação com a cidade que temos hoje e a cidade que vamos ter dentro de dois ou três meses".