João Amaral defende que AR devia ter recebido Dalai Lama

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Markus Stuecklin/EPA

"O Dalai Lama devia ter sido recebido no Parlamento, como chefe religioso do budismo tibetano", defende João Amaral, deputado do PCP e vice-presidente da Assembleia da República, num texto de opinião intitulado "Bem-vindo, Dalai Lama!", que ontem publicou no portal netpaque.pt.

Assumindo-se, assim, em divergência com a conferência de líderes parlamentares e com o presidente da Assembleia da República, Almeida Santos, que decidiram não receber o Dalai Lama no Parlamento, João Amaral entra também em divergência clara com as orientações da direcção do PCP sobre esta questão. Isto porque, além de o PCP não se ter feito representar no encontro de deputados com o Dalai Lama, terça-feira passada, no Hotel Tivoli, no "Avante!" da passada quinta-feira, o dirigente comunista Carlos Aboim Inglez, do departamento de relações internacionais do PCP, escrevia um cerrado ataque ao Prémio Nobel da Paz, sob o título "Tibete a 'Causa' e as causas".
João Amaral sustenta, no seu texto: "O Dalai Lama é o líder da religião, mas não só: como chefe político, ele corporiza aspirações de maior autonomia. É Prémio Nobel da Paz. Tem feito evoluir as concepções quanto ao sistema de governo, defendendo alguma separação dos poderes religioso e civil (a um nível ainda assim muito distante dos nossos padrões). É um apologista da tolerância e harmonia, e, na lógica do budismo, defende os Direitos Humanos."
Daí que conclua, criticando a direcção do seu partido, os órgãos de Estado e o embaixador da China em Lisboa : "Não tenho dúvidas da importância de manter a unidade e estabilidade da China, para esta poder prosseguir a sua evolução por forma pacífica. Mas receber com dignidade o Dalai Lama é um dever para com uma religião do mundo e para com o Tibete que a pratica. Aceitar a especificidade da situação tibetana não é atacar a China, é reconhecer a existência de uma minoria, com tudo o que isso implica. O tom imperial do embaixador chinês é desajustado."
Esta posição de João Amaral surge, agora, em contraste aberto com o texto de Aboim Inglez, que, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, causou incómodo em muitos dirigentes e militantes comunistas, não só pelo conteúdo, mas também pela violência da forma. Num texto em que sustenta que o Tibete não tem direito à autonomia, nem nunca existiu individualmente,
Aboim Inglez começa por dizer: "Tivemos entre nós, uma semana, o sr. Kenzin Gyatso, mais conhecido pelo título do 14º Dalai Lama, numa das suas constantes itinerâncias pelo mundo, na condição de cabecilha do que resta da clique reaccionária e retrógrada tibetana, conluiada com o imperialismo para atacar a China pela via da mentira e do separatismo."
Aboim Inglez sustenta de seguida: "Essa é a 'Causa' do sr. Kenzin Gyatso, envolta no habitual blá-blá-blá de defesa dos 'direitos humanos', da religião, da 'espiritualidade', etc., etc." Já sobre as criticas proferidas ao Governo e à AR por não receberem o Dalai Lama, Aboim Inglez prossegue dizendo: "O grande escândalo agora foi que tão alta figura como esta 'Sua Santidade' não teve a recepção oficial dos órgãos supremos do Estado português (PR, Governo, AR) - porque era uma visita particular."
Defende Aboim Inglez: "É bom que se saiba que nem hoje nem nunca, desde o século XIII, setecentos anos, nenhum Estado do mundo reconheceu o Tibete como Estado independente, mas sim como parte integrante da China." Por isto tudo, Aboim Inglez aplaude a decisão de António Guterres e de Almeida Santos: "Bem fez neste caso o Estado português (e oxalá não ceda), não se prestando à farsa e decidindo segundo as normas habituais das relações entre Estados soberanos, neste caso Portugal e a China." E conclui: "Os ignóbeis achincalhos produzidos recaem é sobre quem os proferiu."

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