Torne-se perito

Perús e pijamas de flanela no "Thanksgiving"

A 11 de Setenbro, o cientista político Robert Putman viu nascer "as sementes de uma nova espécie de América". Uma América onde se come mais peru, mais puré de batata e mais couves de Bruxelas, os petiscos típicos do "Thanksgiving", o dia de acção de graças dos Estados Unidos, que se comemora hoje.O tamanho dos perus nas mesas dos americanos é, provavelmente, a face mais visível da mudança intuída por Robert Putman. "Agora damos mais atenção uns aos outros, comunicamos mais, abraçamo-nos mais", disse o cientista, citado pela edição americana da revista "Newsweek", onde surge um estudo sobre a forma como o ataque terrorista mudou os cidadãos. A tragédia de Nova Iorque e de Washington - as cidades atacadas -, mostrou aos americanos como é frágil a vida. Tornou-os vulneráveis. Quando se está fragilizado, procura-se o que é importante: a famílias, as amizades, os amores, o que o "Thanksgiving" celebra. Satisfazem-se os desejos: come-se o que apetece. Procura-se o conforto, nem que seja na forma de objectos como pijamas de flanela e tapetes de peluche."As pessoas dizem-me que é difícil deixar de pensar em comida", disse o psiquiatra Alvin Rosenfeld. Um mês depois do ataque, os jornais e as televisões dos EUA começaram a fazer reportagens sobre os novos hábitos alimentares dos cidadãos. Em Nova Iorque, a cidade das dietas, os donos dos restaurantes explicaram que, subitamente, os pratos mais ricos e as sobremesas cheias de natas e de chocolate se tornaram um êxito. "Quero lá saber da linha", disse à NBC uma mulheres sentada num restaurante a comer massa com queijo. Uma empresa de material de cozinha fez saber que, nas últimas semanas, se registou uma subida vertiginosa na venda de tabuleiros para lasanha. A associação dos produtores de batata divulgou que a venda do tubérculo aumentou 11 por cento em relação ao ano passado. No caso do puré de batata instantâneo, o aumento foi de nove por cento.A Butterball Turkey Talk Line, uma organização que se dedica ao peru, este ano os americanos vão comer um número recorde destas aves. A Butterball Turkey Talk Line, que se dedica a ajudar as pessoas a escolher perus a e acozinhá-los, disse que hoje se comerão mais perus do que nunca. A organização já recebeu milhares de chamadas telefónicas a pedir conselhos - cem mil telefonemas até ao fim do ano, é a estimativa.Explicaram os responsáveis da organização que a novidade não é apenas a quantidade de chamadas, mas o teor das dúvidas: como cozinhar perus enormes, maiores que a média dos anos anteriores. O número de espectadores da Food TV, um canal de televisão exclusivamente dedicado à culinária, aumentou desde 11 de Setembro. E, como disse nos últimos dias uma das estrelas desta estação, o luso-americano Emeril Lagasse, se o "Thanksgiving" não costuma ser dia de dietas, este será ainda menos. Não foi apenas na comida que a nação atacada procurou conforto. Ainda que os comerciantes se queixem que o consumo baixou, e muito, há áreas em que aumentou. Segundo a "Newsweek", aumentou a venda de pijamas de flanela - na firma Garnet Hill as vendas subiram 455 por cento e a cor mais procurada é o rosa paixão.Aumentou a venda de tapetes, sofás, almofadas e cadeirões com ar fofo, como os feitos de peluche. O número de televisores vendidos baixou, mas o número de vídeos e de DVD alugados subiu tremendamente - os americanos passam mais tempo em casa, em serões de família, e os filmes da Disney tornaram-se dos mais procurados, em especial "Bambi". Tanto conforto, tanta comunicação, tantos abraços, tem consequências. O número de divórcios baixou nos últimos dois meses, assim como as estatisticas sobre violência doméstica. E, dizem os serviços de demografia, dentro de nove meses deverá assistir-se a um "baby boom".

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