O Governo está desgastado, diz Fernando Gomes

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Fernando Gomes diz-se tranquilo com desistência de Nuno Cardoso PÚBLICO

O candidato socialista à Câmara do Porto continua a falar com pinças da sua passagem pelo Governo e dos conflitos que teve com o primeiro-ministro e com outros dirigentes nacionais do PS. Fernando Gomes não deixa, no entanto, de reconhecer que o executivo de Guterres não tem feito as reformas de que o país necessita e explica essas fragilidades pelo desgaste do Governo.

PÚBLICO

- Está aliviado por Nuno Cardoso ter desistido da corrida à Câmara do Porto?

FERNANDO GOMES

- Seria para mim penoso enfrentar um candidato que foi uma pessoa que eu trouxe para a vida pública, que impus ao PS com todos os custos que daí advieram, a quem dei a mão quando estava na faculdade e com quem acordei uma espécie de transmissão de poder na minha saída autárquica. Seria, portanto, penoso, muito desagradável e com profundíssima tristeza que enfrentaria um candidato que eu próprio criei. A sua desistência deixa-me de alguma forma mais tranquilo para os combates políticos que se avizinham.

Em 1997, houve um braço-de-ferro com o PS quando colocou Nuno Cardoso como "número dois" da sua lista. Essa escolha implicaria já que ele ficasse com a presidência da câmara, com a sua previsível saída para o Governo, e que fosse o candidato em 2001?

Não. O eng.º Nuno Cardoso assumiu comigo que não seria candidato nas próximas eleições autárquicas. Apenas levaria o mandato até ao fim e isto já depois de alguma troca de impressões, porque ele queria ficar enquanto eu ficasse e queria sair quando eu saísse. Mas é verdade também que o eng.º Nuno Cardoso tomou a iniciativa sozinho, sem falar comigo, sem dizer ao partido que não era candidato, o que deixou o PS com liberdade para escolher o seu próprio candidato.

Acha que se Nuno Cardoso concorresse, teria maioria?

Não sei. Isso seria especulativo e neste momento estamos a falar de um cenário que não existe. Mas sem dúvida nenhuma que de alguma maneira podia dividir votos dentro do PS. Mas, mais preocupante do que os votos, seria uma disputa no seio da mesma família política, com todas as feridas que isso pode trazer.

Fica no ar a ideia de que Nuno Cardoso terá desistido por ter sofrido grandes pressões.

Não posso responder. Não tenho qualquer informação nesse sentido; apenas sei o que saiu nos jornais, a frase de Jorge Coelho, no fim de semana anterior, de que "um candidato que se candidata contra um candidato oficial do PS é demitido do partido".

Está arrependido de o ter escolhido para "número dois"?

Não. O eng.º Nuno Cardoso soube ao longo deste tempo prosseguir com o projecto socialista, por nós iniciado e que eu encabecei em 1990. Esse projecto não sofreu grandes desvios, mas há estilos de gestão, de liderança diferentes, estilos de diálogo democrático completamente diversos. Claro que há pequenas coisas na cidade que eu não faria assim, mas isso é natural porque somos pessoas diferentes, personalidades diferentes, com maneiras de agir diferentes.

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