Estudo português aprofunda conhecimento sobre cancro no estômago

Uma investigação portuguesa, realizada ao longo de três anos, confirmou a relação entre a infecção por uma bactéria denominada "helicobacter pylori", que afecta cerca de 80 por cento da população portuguesa, e o risco de desenvolvimento de cancro de estômago. Debruçando-se sobre as características da bactéria e os perfis genéticos dos indivíduos, os investigadores conseguiram encontrar uma série de marcadores que permitem detectar uma maior ou menor susceptibilidade ao desenvolvimento de cancro gástrico. Ontem, no Porto, foram apresentadas as conclusões do projecto que envolveu patologistas, gastrenterologistas e biologistas moleculares de Portugal, Colômbia e Estados Unidos da América.

O projecto chama-se "Papel de factores do hospedeiro e da infecção por 'helicobacter pylori' na carcinogénese gástrica" - um título algo confuso para o comum dos mortais - e foi integralmente subsidiado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD). Traduzindo, os investigadores portugueses - do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup), em colaboração com o Grupo de Patologia Gástrica da Faculdade de Medicina da Universidade norte-americana de Nova Orleans - quiseram encontrar na população portuguesa uma relação entre as características genéticas de um indivíduo infectado por esta bactéria e a susceptibilidade ao cancro gástrico, associando-a também à agressividade (virulência) de certas estirpes do agente. Segundo concluíram, "acabam por ter cancro os doentes mais susceptíveis, com infecção por bactérias mais virulentas e com alterações genéticas que perpetuam a inflamação, aumentando assim a agressão da bactéria à mucosa gástrica dos doentes". É que, apesar de 80 por cento da população ser portadora da bactéria, nem todos os organismos reagem da mesma forma - em Portugal, são registados cerca de 3600 novos casos de cancro no estômago por ano. O aparecimento de gastrites mais graves - as gastrites crónicas atróficas, que causam uma forte destruição das células gástricas - já estava associado ao aparecimento de cancro. No entanto, a presença da bactéria não significa um maior risco de cancro e, em muitos casos, não necessita sequer de ser sujeita a tratamento. Aliás, segundo José Carlos Machado, um dos investigadores do Ipatimup, este estudo pode permitir, a partir do reconhecimento de uma série de características genéticas e da bactéria, diferenciar com maior precisão os indivíduos portadores que devem ser sujeitos a tratamento dos que não necessitam de qualquer ajuda na erradicação da "helicobacter pylori". "Há a possibilidade de identificar com maior rigor as características genéticas do indivíduo, elaborando uma série de marcadores moleculares para acrescentar à informação existente", refere. Para o projecto, foi constituído um grupo de controlo composto por 220 indivíduos saudáveis e um outro grupo de 152 pessoas com carcinoma do estômago.

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