Portugal foi palco de atentados terroristas nos anos 80

Na década de 80, Portugal foi palco de uma série de atentados terroristas, relacionados com grupos extremistas do Médio Oriente. Estes ataques relançaram, na altura, a discussão em torno do Serviço de Informações da República (SIR). Em 1984, foi aprovada a lei-quadro que ainda hoje se encontra em vigor, embora com algumas alterações. Um ano antes, em 1983, o país tinha assistido a dois dos maiores atentados terroristas perpetrados por organizações estrangeiras no território português: o assassinato de um representante da OLP e o ataque à embaixada da Turquia, que fez sete mortos. Uma quarta-feira, dia 27 de Julho, pelas 10h40 da manhã, dois automóveis aproximaram-se da embaixada da Turquia, na Avenida das Descobertas, em Lisboa. Perante os portões fechados, um dos condutores projecta o carro contra as grades para tentar forçar a entrada. A segurança atira sobre um dos homens, que tem morte imediata. Os outros quatro fogem, refugiando-se na residência oficial contígua à embaixada. Aí, fazem reféns a mulher e o filho do encarregado de negócios turco.Um agente da PSP entra na casa, disposto a negociar com o grupo armado. Passados minutos, dá-se uma violenta explosão. Ao que tudo indica, os quatro homens, que pertenciam a um comando arménio, tinham armadilhado o primeiro andar. Por acidente, os explosivos são detonados. Morrem os quatro terroristas, o agente da PSP e a mulher do encarregado de negócios.O atentado foi reivindicado em Paris por uma organização desconhecida, o Exército Revolucionário Arménio. Quatro terroristas arménios, possuidores de passaportes libaneses, tinham vindo de Beirute via Roma. Um viajara de Damasco.Nas duas viaturas alugadas, foram encontradas munições e víveres que davam a entender que o plano dos terroristas era permanecer alguns dias dentro das instalações. Foram ainda encontrados explosivos de fabrico soviético, três pistolas metralhadoras Valan-Makarof, de fabrico polaco, e uma Scorpion norte-americana.A actuação da polícia, neste caso, suscitou várias críticas pelo facto de um dos agentes da PSP ter entrado sozinho e, mais tarde, pela ordem dada ao Grupo de Operações Especiais (GOE) - criado no ano anterior - para assaltarem a casa com reféns e "atirarem à vista". Numa das suas primeiras provas, o GOE, no entanto, demorou cerca de 40 minutos até encontrar já sem vida os terroristas. A mulher ainda foi transportada com vida para o hospital, acabando por morrer.Outra coisa inexplicável foi o facto de funcionários da embaixada terem avisado na véspera a polícia da presença de um carro suspeito que rondava a embaixada. Na posse da matrícula, a polícia descobriu o nome dos homens que o tinham alugado, mas não o paradeiro. No dia seguinte, esse foi um dos automóveis utilizados no atentado. Os diplomatas turcos ainda tinham presente na memória o assassinato do adido comercial da embaixada da Turquia em Lisboa, em 1982. Erkut Akbay foi atingido com quatro tiros quando chegava a casa em Linda-a-Velha, pelas 13h. O autor, pertencente a um comando arménio, fugiu a pé.Conselheiro de Arafat sem segurançaUm domingo, dia 10 de Abril de 1983, era assassinado, no Algarve, Issam Sartawi, representante da OLP nos trabalhos do XVI Congresso da Internacional Socialista (IS). O acto terrorista foi reivindicado pela organização extremista palestiniana de Abu Nidal.Sartawi era conselheiro pessoal de Yasser Arafat e conhecido pelas suas posições favoráveis à abertura do diálogo com a esquerda israelita para uma solução pacífica do problema palestiniano. Uma atitude que lhe valeu o ódio dos radicais palestinianos. Os seguidores de Abul Nidal chamavam-lhe "traidor" e "agente ao serviço dos israelitas"."Apesar daquilo que os dirigentes palestinianos têm afirmado, eles desde há muito reconheceram efectivamente Israel e não há necessidade nenhuma em esconder isso do resto do mundo", dissera aos jornalistas em Fevereiro desse ano.O assassinato deu-se no átrio do Hotel Montechoro, pelas 9 horas da manhã. Um homem disparou seis tiros à queima-roupa, pondo-se em fuga. A arma, uma Beretta de fabrico italiano, foi mais tarde encontrada pelos jornalistas a 300 metros do hotel. Sartawi tinha dispensado segurança pessoal, mas o primeiro-ministro da altura, Mário Soares, foi muito criticado pela oposição por não ter tomado medidas de protecção a altas individualidades.O embaixador de Israel em Portugal já tinha também sido alvo de um atentado, reivindicado por extremistas palestinianos, em Novembro de 1979. Saiu ileso, mas morreu um polícia e ficaram feridas várias pessoas. O autor do atentado esperava sozinho Ephraim Eldar junto ao edifício da embaixada, com uma arma automática na mão. Eram 9h30 quando o Volvo azul do embaixador se aproximou do prédio da Rua António Enes. A rajada de tiros fez apenas alguns ferimentos ligeiros ao israelita porque o motorista ainda conseguiu pôr em marcha o carro quando se apercebeu do ataque.

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