Moby conta como viu as torres do World Trade Center cair
O músico, conhecido pelo incrível sucesso do álbum "Play", faz um diário do que vê de sua casa, emotivo e muito pessoal.Na primeira mensagem, Moby está desorientado e repete "O que é que aconteceu?", mas quando regressa ao computador conta como quando acordou as torres estavam em pé, mas "agora não estão. Oh, meu Deus. Toda a gente que eu conheço em Nova Iorque está a soluçar". O músico pergunta-se, horas depois da queda das torres e do anúncio de que haverá milhares de mortos, "quem fez isto?", confessando que não sabe como se sente.
No dia dois da crise que se abateu sobre Nova Iorque, a tristeza e o desespero transpiraram das curtas mensagens que afixou no sítio da Internet, onde descreveu o seu estado de espírito: "Oscilo entre a raiva e a mágoa e o espanto. Ainda bem que tenho amigos cá em casa, senão acho que me passava". Ainda no mesmo dia, quarta-feira, Moby analisou o que ia vendo nas televisões, avaliando as falhas do sistema de segurança dos EUA e postulando que "muitas coisas neste país deviam mudar".
O músico não poupa críticas às autoridades norte-americanas e, do seu apartamento de Manhattan, escreve furiosamente mensagens cada vez mais longas. "Imaginem que são o guarda-costas do Bruce Willis. Agora imaginem que são muito bem pagos para evitar que o Bruce Willis se magoe. Agora imaginem que quando estão a trabalhar, o Bruce Willis é espancado e ferido com gravidade. Isto não é comparável ao papel do FBI, da CIA e dos militares?".
"Muito simplesmente, eles falharam". O músico recorda os impostos "exorbitantes" que os norte-americanos pagam e a falha que as autoridades cometeram ao deixar que os atentados acontecessem. Num verdadeiro diário online, Moby desculpa-se por estar "doido de raiva".
E num assomo digno de Sting, em "Russians" - quando o cantor fala da necessidade, durante a guerra fria, de evitar a violência, manifestando a esperança de que se pense nos filhos dos norte-americanos e dos soviéticos - confessa-se chocado com o desejo do Presidente George Bush de retaliar e manter uma guerra do Bem contra o Mal, porque terá sido esse tipo de atitude que levou os terroristas a atacar os EUA. E frisa: "Temos de parar em alguma altura".
Lá fora, "os fogos ainda ardem e a nuvem de fumo tem um cheiro ainda mais tóxico do que ontem". A casa do músico está na zona proibida pela polícia. Por não ter documentos que provem que mora ali, não vai sair de casa porque podem não o deixar voltar. E, da janela, vê "o grande buraco no céu onde as torres gémeas estavam", dando expressão à principal sensação dos nova-iorquinos ao período pós-catástrofe. A incrível alteração na linha do horizonte, onde os dois arranha-céus marcavam uma presença agora amputada.
Ontem, no dia em que se começaram a desenhar os contornos da intriga terrorista, Moby continuou a descrever o que é viver em Manhattan nos dias que mudaram o mundo. "Fingimos [os habitantes da cidade] que não é real, mas é, e não se consegue evitá-lo por muito tempo", adiantando que quase todos os que vivem na cidade que nunca dorme conhecem alguém que trabalhava no World Trade Center.
"Por isso esperamos. E choramos. E bebemos. E atordoamo-nos. E ficamos zangados. E ficamos tristes".
No mesmo dia, o músico fez a revelação desconcertante que um dos seus amigos pode ter morrido na tragédia e que por isso não escreverá durante algum tempo, porque não sabe como lidar com o fórum cibernético. Promessa que não cumpre, porque no dia seguinte (hoje) volta a publicar duas mensagens, até agora, em que agradece a chuva nos céus de Nova Iorque, sabendo que dificulta os trabalhos de resgate mas interpretando a água que cai sobre Manhattan como algo que está a "limpar as almas" dos habitantes da ilha sitiada.
Um dia antes, ainda confuso e triste pelas mensagens
agressivas que chegaram ao site, pedia: "Por favor, tentem compreender, o que a maior parte de vocês viu na TV eu vi do meu telhado".