Uma noite surreal em Nova Iorque

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Manhattan parece esta noite uma cidade-fantasma Doug Kanter/AFP

Numa altura em que o perímetro envolvente ao complexo do World Trade Center continua interdito - mesmo à maioria das equipas de salvamento, uma vez que os riscos de novos desabamentos são elevados - um importante dispositivo de segurança e salvamento prepara-se ao cair da noite para entrar em acção.A circulação automóvel foi proibida em todo o Sul da ilha de Manhattan para permitir a rápida deslocação dos camiões de bombeiros, de gruas e de gigantescos geradores que esperam apenas sinal para avançar.
Foi igualmente decretada a interdição de circulação a Sul da Canal Street, a algumas centenas de metros dos destroços do World Trade Center. Centenas de polícias vigiam a área garantindo que ninguém entra na zona. "Uma vez que abandonem a zona, não é possível regressar", explicou um polícia que se encontrava no local, citado pela AFP.
Soldados da Guarda Nacional envergando capacetes e escudos posicionaram-se frente a vários supermercados da zona, temendo eventuais saques. Vários carros blindandos foram colocados em algumas das principais artérias da cidade, bloqueando os acessos a edifícios como a sede das Nações Unidas de forma a evitar eventuais incursões terroristas na zona.
Apesar dos apelos à calma lançados pelo "mayor" Giuliani, centenas de pessoas acorreram as supermercados, utilizando bicletas ou patins, uma vez que a circulação da maioria das ruas, mesmo fora da zona interdita, está condicionada.

Destruíram "a nossa segunda casa"

Christine Davis, uma nova-iorquina de 59 anos, decidiu ir ver de perto a destruição provocada pelo embate dos dois aviões sobre um dos ex-libris de Nova Iorque. "O World Trade Center era como a nossa segunda casa. Já não há mais nada. Ainda ontem comprei lá o vestido de noiva que a minha filha deveria usar no casamento daqui a duas semanas. Como poderá ela agora usá-lo?", comentava desolada. Um pouco mais longe centenas de pessoas, entre simples curiosos e familiares das vítimas, reuniam-se em torno do Centro Médico de Saint Vincent, o principal hospital da cidade, onde deram entrada 300 dos primeiros feridos a serem evacuados das torres gémeas do World Trade Center.
Centros de acolhimento foram criados em várias estações ferroviárias e centros de congressos da cidade para albergar os milhares de pessoas que foram obrigadas a abandonar as suas casas. A maioria das igrejas e da sinagogas de Nova Iorque vão permanecer abertas durante toda a noite para acolher fieis e consolar familiares das vítimas.
Em toda a Manhattan reina uma atmosfera surrealista: a maioria das grandes avenidas estão desertas, sendo apenas percorridas por comboios de viarturas dos bombeiros e da polícia, em cada esquina da cidade, os transeuntes reúnem-se para ouvir as últimas notícias sobre a tragédia difundidas em rádios colocados sobre os "capots" de automóveis.

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