"Cinderela" abala monarquia norueguesa

Oslo, capital da Noruega, está engalanada para acolher o casamento de Haakon, príncipe herdeiro, com Mette-Marit Hoiby, naquele que será o primeiro casamento real do milénio. Mas a boda foi precedida por meses de polémica - impulsionada pelo passado da noiva e futura rainha do país. Durante a cerimónia de hoje uma dúvida vai pairar entre os noruegueses: quanto tempo vai ainda durar a monarquia?Até agora, a casa real norueguesa era uma das poucas "intocáveis" na Europa. Raramente era atacada pelos "media" e a população tinha uma opinião favorável ao regime. Desde a II Guerra Mundial que os índices de popularidade mantinham-se estáveis entre os 75 e os 80 por cento. Tudo mudou quando Haakon, o príncipe herdeiro, anunciou que iria casar com Mette-Marit, uma jovem plebeia com quem já vivia há um ano. Seguiram-se meses de debate. Questiona-se sobretudo a imagem da família real. Diz-se que, com este casamento, vão tornar-se vulgares cidadãos, fazendo perder a mística da monarquia. A popularidade da monarquia desceu até aos 58 por cento. Cerca de 24 por cento dos noruegueses defendem a sua abolição, a favor da república, e 11 por cento estão indecisos, mas optam por não defender o regime.A polémica já chegou ao parlamento. Os partidos Trabalhista, Democrata-Cristão e Liberal querem fazer uma avaliação e estudar eventuais alternativas políticas, inclusivamente a mudança para um regime republicano. Algo que pode ser incluído na revisão da Constituição. Apesar disso, todos os partidos são unânimes ao afirmar que pretendem manter a monarquia.Entre tanta discussão, o próprio príncipe declarou, esta semana, que pensou em abdicar do trono. Haakon foi o primeiro príncipe herdeiro europeu a viver com a namorada antes de casar. Para além do passado da noiva, o facto de ser mãe solteira coloca algumas dúvidas. Mas os especialistas afirmam que o pequeno Marius, o filho de Mette-Marit, nunca será príncipe. Não é a primeira vez que a Noruega discute o casamento de um herdeiro do trono. Também, há 33 anos, o rei Harald quebrou o protocolo. Teve de esperar nove anos até casar com Sonia Haraldsen, uma jovem plebeia que trabalhava numa loja. Na altura enfrentou a forte oposição do pai, o rei Olav V. Talvez, por isso, o actual monarca esteja tão à vontade para falar sobre a futura nora. Considerou-a "honesta e corajosa" por, na quarta-feira, ter falado abertamente na televisão sobre o seu passado e afirma que é adequada ao papel de rainha. Também a opinião pública parece ter uma boa imagem da princesa. Cerca de 84 por cento consideraram positivas as suas declarações. A imprensa chama-lhe "Cinderela". Polémicas à parte, hoje os monárquicos apostam num casamento com "pompa e circunstância". Quase todas as casas reais europeias estarão representadas: rainha Sofia de Espanha, príncipe Carlos do Reino Unido, Rei Carl Gustaf da Suécia, o Rei Alberto da Bélgica... Mas a festa também vai ter um lado mais descontraído. Mette-Marit e Haakon decidiram convidar um grande número de cidadãos para a cerimónia. Já na quinta-feira os noivos tinham dado uma festa, na qual estiveram presentes, para além de alguns jovens de casas reais europeias, muitos amigos íntimos. No fim da cerimónia, que decorrerá na catedral de Oslo, cumprimentarão a população e posarão para os fotógrafos num jardim público.Por enquanto, desconhece-se a ementa da festa. Mas sabe-se que a lua-de-mel vai ser passada numa longa viagem de comboio pelo país, durante a qual os noivos esperam visitar várias aldeias e cidades.Entretanto, os festejos nas ruas já começaram. Há uma semana que, um pouco por todo o país, realizam-se festas populares em honra dos noivos e cunham-se medalhas comemorativas do casamento. Ontem, no centro da cidade, trabalhadores estendiam carpetes vermelhas e arranjos de flores. Algumas lojas enfeitaram as montras com retratos de Haakon e Mette-Marit e bandeiras azuis e amarelas - as cores oficiais do casamento. As pastelarias exibem bolos de casamento e um restaurante até disponibiliza um menú, que diz ser a réplica do da boda de hoje. Mas uma parte do povo norueguês mantém-se indiferente ao casamento. O aeroporto de Oslo recusou a decoração "oficial". Os hotéis da capital nem sequer estão cheios. "Eles estão apaixonados", declarou à Reuters Elisabeth, uma jovem de 23 anos, numa rua de Oslo. "O que interessa o resto?"

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