Bridget em Off

"O Diário de Bridget Jones" começou por ser um fenómeno jornalístico. Bridget Jones foi uma criação da jornalista da britânica Helen Fielding, que lhe deu vida nas páginas do jornal "The Independent". Depois, Fielding escreveu um livro e passou a ser um fenómeno literário. É nesse livro que se baseia o filme de Sharon Maguire, e a esperança dos produtores (e da própria Helen Fielding, que co-assina o argumento) é certamente que ele se transforme, por sua vez, num fenómeno cinematográfico.

Na base de todos estes fenómenos estará, como de costume, um fenómeno "sociológico". Bridget Jones é uma mulher de 30 e poucos anos, "moderna", ferozmente independente, e as suas desventuras profissionais e emocionais são um pouco o preço a pagar por essa independência - há aqui um "modelo" feminino que, tenha ou não uma correspondência "real" na sociedade britânica, não deixa de possuir características mais do que suficientes para gerar fortes efeitos de identificação entre o público feminino.

Adivinha-se, a partir do filme, que o livro e os textos de Fielding serão razoavelmente divertidos, e que para que isso aconteça a linguagem empregue (aquela verve britânica, abundante em jogos de palavras, comparações e metáforas) é fundamental. Esse é, de resto, um dos principais problemas do filme de Sharon Maguire, uma vez que o humor vem menos das situações e da "acção" propriamente dita do que da maneira como os olhos de Bridget Jones a vêem e comentam. E como é que isso, juntamente com as descrições de personagens e ambientes, se restitui em formato de filme? Essa é a pergunta a que ninguém (dos argumentistas à realizadora) consegue responder muito bem, acabando por se optar pela mais redutora das soluções: uma voz "off" quase omnipresente, que não poucas vezes se torna redundante na relação com as imagens (ou são estas que se tornam redundantes e meramente ilustrativas), mas de que o filme depende, quase em absoluto, para gerar os efeitos cómicos que promete.

Porque, de resto, as aventuras de Bridget Jones à procura do "homem ideal" acabam por soar a "déja vu". Há a sombra, aparentemente deliberada, de Jane Austen (Mark Darcy, a personagem de Colin Firth, é um homónimo de um dos protagonistas de "Orgulho e Preconceito"), mas sobretudo a sombra, que o filme nunca consegue escorraçar, de tantos e tantos outros filmes demasiado parecidos com este.

"O Diário de Bridget Jones", visto ainda por um prisma "sociológico", é basicamente o relato de um mundo frívolo e cínico contado no momento em que nele se abrem algumas fissuras emocionais. Mas isso, quantas vezes já vimos, com maiores ou menores variações? Talvez por essa razão, o melhor do filme de Sharon Maguire esteja a cargo de duas personagens secundárias, os pais de Bridget, a viverem uma crise que foge um bocadinho aos estereótipos mundanos vividos pelos protagonistas.

Sobram, depois, os actores; Renée Zellweger, Hugh Grant e, sobretudo, Colin Firth, são sempre presenças minimamente curiosas e acabam por estar entre as (poucas) razões para justificar uma visita a "O Diário de Bridget Jones".

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