Vivienne Westwood: A primeira criadora "punk" fez 60 anos

"Designer" do "punk"? "Designer" do "punk"? "Designer" é suficiente. É até mais do que suficiente. Vivienne Westwood não é apenas uma extravagante criadora de moda, que até se apresentou sem cuecas à frente da rainha de Inglaterra - é também considerada uma das mais importantes no século que passou. Aos 60 anos, pensa em tudo menos em parar.

Numa sala com chão de mármore, nos bastidores do palco da Salle Wagram em Paris, apenas alguns minutos antes do seu desfile, Vivienne Westwood está a ser entrevistada para uma estação de televisão americana. Fazem-lhe uma pergunta a que já respondeu inúmeras vezes e à qual voltará a responder muitas mais. Que pensa da observação, feita há dez anos pelo extremamente influente editor da "Woman's Wear Daily", que afirma ser ela uma das seis estilistas mais importantes do século XX?"Lembro-me que o Sr. Fairchild, para mim, era a pessoa mais importante da imprensa", responde com voz doce, com a pronúncia do Derbyshire que lhe é característica e que parece completamente deslocada no meio do ruído dos secadores de cabelo e da conversa superficial dos modelos, artistas, maquilhadores, modistas e assistentes que falam francês, italiano, japonês e inglês europeu. Lá fora, Bianca Jagger e a "Scary" Spice encontram-se na fila da frente, sorrindo abertamente aos "paparazzi". O local em que se encontra está apinhado, três modelos ainda não apareceram e o seu marido e colaborador anda nervosamente de um lado para o outro, faz chamadas do portátil, tentando encontrá-las.No entanto, com o caos a rodeá-la, mantém-se calma, tranquila, senhora da situação. Veste uma blusa de renda de um branco sujo que, não se percebe bem como, se enrola em redor de uma mini-saia branca, "collants" verde-esmeralda e sapatos brancos pontiagudos. O cabelo é um remoinho, uma lufada cor de mel. A cara está pálida, cor de marfim, os olhos parecem pedaços de vidro verde, os lábios de um escarlate profundo. A mala de mão está pendurada no ombro esquerdo, na mão esquerda aperta com força um colar de bronze em forma de globo, uma versão em três dimensões do seu logótipo, na direita um Gitanes. Acena com ele enquanto fala, para acentuar o que diz."Mesmo quando não tinha nada que se parecesse com uma colecção a sério", continua, "ele sempre me apoiou muito. Recebi a condecoração da Ordem do Império Britânico e acho que nunca a teria recebido se não fosse o sr. Fairchild. Mas de repente, depois dessa observação dele, os britânicos pensaram: olha, se calhar esta louca é mesmo uma 'designer'."De momento, parece que os britânicos pensam isso outra vez. Ainda está para ver se irão ou não mudar de opinião, como já aconteceu.Parece difícil acreditar que Vivienne Westwood completou há pouco 60 anos. Vivienne, a primeira "punk", a "Buffalo Gal" original, a mulher que nos deu a "minicrini" e o "bustier", a roupa interior como roupa exterior, saltos escarlates com uma plataforma de 20 centímetros e uma fazenda escocesa nova e oficialmente reconhecida, o MacAndreas (assim baptizado em homenagem ao marido), essa mesma Vivienne tem agora idade para pedir a reforma. Decorreu um quarto de século desde que os Sex Pistols fizeram rebentar o mito de um consenso contracultural, usando as "T-shirts" desenhadas por ela e por Malcom MacLaren, vociferando versos que escreveram sobre o seu ódio aos "hippies" e o desejo de fazer o tempo voltar ao Ano Zero.Durante o último quarto de século, evitou por pouco a falência e embrenhou-se na alta cultura, casou, tornou-se avó e enfrentou os caprichos da moda internacional, para reaparecer com a reputação intacta e um negócio próspero. Os britânicos têm-na alternadamente aclamado como sendo um génio e ignorado completamente.Parece igualmente estranho que tantas vezes os jornalistas britânicos considerem liminarmente como uma pessoa sem sentido de humor esta mulher que imprimiu seios nas "T-shirts" para homens, que costumava colar nos dentes papel dourado dos maços de tabaco, que posou para fotografias usando uma das suas próprias malas de plástico como se fosse um lenço de cabeça, que fez aquela imitação brilhante de Thatcher para uma capa da "Tatler" e que foi receber a sua condecoração ao Palácio de Buckingham usando um vestido cor de carne largo e de linhas direitas, que deixava ver o corpo, sem cuecas. Será que o humor dela é simplesmente demasiado antiquado - não convencional e feito com um ar sério - para os gostos de hoje?No seu escritório, franze as sobrancelhas e diz-me que lhe pareço familiar: já nos encontrámos antes? Bom, não, mas já a vi muitas vezes ao longo dos anos. Onde? Bom, a primeira vez foi no espectáculo dos Sex Pistols em Islington, no cinema Screen On The Green. Os seus olhos verde-pálido iluminam-se. "Oh, esse foi o melhor, uma actuação absolutamente fantástica." Mas quando menciono Glenn Matlock, o baixista original dos Pistols, irrita-se, pondo de lado esse "estudantezeco sifilítico". É bom saber que a idade não suavizou todas as suas facetas cortantes.Hoje sabe que, de súbito, está de novo "na moda". Claro que não se rala nada com esse facto, pois já passou por tudo isso antes e além disso não se considera realmente como fazendo parte da indústria da moda.Sendo a indústria da moda o que é - cíclica, de memória curta e intervalos longos -, uma nova geração redescobriu o seu trabalho e mergulha afanosamente em revistas como "Dazed & Confused", "I-D" e "Pop". Gostam especialmente das suas colecções do início dos anos 80, da Buffallo, da Punkature e da Nostalgia, do material "mud"; peças originais mudam de mãos a troco de centenas de libras (os artigos mais antigos, o vestuário "punk" e à pirata, foram arrebatados pelos museus e por coleccionadores japoneses). A artista Tracey Emin tece elogios nas revistas e passa os modelos de Vivienne para anúncios de revista. Entretanto, as últimas colecções de Balenciaga, MiuMiu e Sophia Kokosalaki prestam todas homenagem à "Rainha Viv", que de repente se transformou na "designer" preferida de todos. Para culminar, o Victoria & Albert Museum está a planear exibir, em 2004, uma vasta retrospectiva da sua obra.É verdade que confessa não estar tão feliz desde há muitos anos. O negócio prospera, as encomendas estão constantemente a chegar, acaba de lançar um segundo perfume. "De momento, adoro desenhar roupas, estou tão feliz com o meu trabalho."Nem sempre assim foi. Durante anos viveu num andar que antes pertencera ao município na Nightingale Lane, no bairro de Clapham, se bem que agora possua uma casa grande numa zona mais chique do mesmo bairro. No início da década de 90, a sua empresa, que lutava para sobreviver, era gerida pelo filho, Joe Corré, a partir de um espaço degradado, perto da Camden High Street. "Estavam mesmo falidos nessa época", relembra uma ex-funcionária. "Houve uma altura em que pagavam em saias e blusas de malha. Ela manteve aquilo de pé única e simplesmente com a sua determinação. Qualquer pessoa com um pouco menos de confiança nas suas próprias capacidades teria soçobrado."Contudo, se o negócio se encontra hoje mais saudável do que nunca, parece pouco provável que tenha sido Vivienne a salvá-lo. "Ela é como a Rainha", declara outro ex-empregado, quando lhe perguntaram qual a atitude dela em questões de finanças. "Ela não percebe realmente nada de dinheiro. Utiliza o cartão Amex da empresa para telefonar para o Festival Hall e reservar lugares para toda a temporada, para ela e para o Andreas e, no entanto, acha-se muito frugal."Curiosamente, para uma "designer" de craveira internacional, distinguida pelos serviços prestados à moda, e apesar de ser membro do Royal College of Art, não ensina em nenhum dos cursos de moda britânicos - apenas, declara, porque não a convidam. Mas deu aulas em Viena - onde conheceu Andreas, que foi seu aluno - e de momento ensina em Berlim. Então porque não pertence ao corpo docente de St Martin's?"Não encontro explicação", diz. "Mas recordo-me de um aluno me ter dito que uma das suas tutoras em St Martin's lhe havia dito que eu não era 'designer' de moda". De qualquer modo, afirma, há muita gente que sai de St Martin's sem qualquer capacidade técnica."Já não existe uma hierarquia de valores. O progresso verdadeiro deve-se sobretudo ao génio humano, e esse é raro, e normalmente surge de uma verdadeira elite, de uma hierarquia", declara, citando a importância dos patronos da aristocracia desde os tempos do Renascimento, em particular a dos salões intelectuais da burguesia parisiense do século XIX. Talvez por isto ela própria tenha sido ignorada tantas vezes: uma crítica sem papas na língua da estupidificação da cultura britânica não tem tempo a perder com a vaca sagrada do gosto do público. Numa época de Big Brother e Popstars, esta atitude não cai muito bem e a imprensa de moda por certo não quer ouvi-la proclamar, como provavelmente fará, que a maior parte da moda é uma camuflagem sem graça e convencional, para consumidores tímidos e ignorantes.Vivienne Westwood admite que as suas opiniões absolutamente fora de moda foram moldadas pelo seu amigo Gary Ness, um editor canadiano, ex-pintor, que passou a maior parte da vida em Paris. Alguns dias após a nossa primeira entrevista, convida-me para o apartamento deste, no sétimo bairro, em parte para explicar uma relação que, afirma, tem sido "como ir para uma escola maravilhosa, que teria custado milhões de libras". "Seja o que for que me desperte o interesse, o Gary tem um livro sobre o assunto, ou encontra um quadro, ou um poema, sobre um tema afim. Indica-me sempre o caminho certo para aprender mais sobre esse assunto, ou sugere-me uma área de estudo complementar."Toma chá enquanto Andreas está sentado calmamente a seu lado. É alto e indecentemente belo, com ombros largos e uma cintura estreita, grandes olhos azuis, uma juba de cabelo escuro lustroso e uma cicatriz na face direita que parece ter sido adquirida num duelo. Conheceram-se há dez anos, quando ele foi aluno de Vivienne na Academia de Viena para as Artes Aplicadas, onde é professora honorária.Casaram-se por ele ser natural da Áustria, nessa altura um país não membro da UE, e por terem sempre problemas com a imigração quando viajavam. "É engraçado", diz ela, "porque ele era meu namorado e eu disse-lhe: 'Temos de arranjar alguém para casar contigo e depois vai tudo correr bem.' E ele respondeu: 'Bom, eu devia era casar contigo.'"Ficamos sentados a conversar, sobretudo a ouvir Gary Ness a falar sobre cultura, arte, moda, os media, história, sobre tudo, enquanto Vivienne lhe coloca questões, obrigando-o a explicar os seus pontos de vista, a justificar as suas opiniões. Parece muito inocente, muitas vezes aberta de um modo comovente e mesmo indiscreta - faz vários comentários sobre a sua empresa que, embora de pouca importância, poderiam ser embaraçosos caso fossem publicados. Ness, um esteta elegante e erudito mas impertinente, na casa dos sessenta, encontra-se a recuperar de uma crise severa de zona. Está recostado numa chaise longue de veludo cor de vinho, a beberricar um copo de água, abanando-se com um leque de verniz negro, olhando-me com suspeita por detrás do seu longo nariz aquilino. O cabelo grisalho encontra-se penteado para trás, esticado a partir de um bico de viúva, a barba grisalha muito bem aparada; veste um fato de xadrez cinzento impecável e calça sapatos de passeio pretos. Conheceram-se em 1977, quando ele pediu a Vivienne que o deixasse pintar-lhe o retrato. "Mas nunca o terminei", diz, "porque começámos a conversar e... continuámos."Ness, que editou a biografia de Picasso da autoria de Sir Roland Penrose e era "amigo dos copos" do fotógrafo Lee Miller, insiste que o génio de Vivienne Westwood foi sempre minimizado. A sua relação de admiração mútua pode parecer ridícula a um estranho, mas é notório que Vivienne a preza muito e a considera sem preço. E Ness é de facto um acérrimo defensor dela, denunciando uma biografia recente que pinta um quadro menos lisonjeiro. "Veneno, bílis pura", sibila.O que tem de tão ofensivo? Há uma pausa. "Bom, por exemplo, dizia que o Andreas tinha ido para a cama com toda a gente no meu estúdio", diz Vivienne, consternada. Andreas acena afirmativamente com a cabeça, melancólico, encolhe os ombros. E de repente pisca-me o olho e sorri-me abertamente antes de retomar a sua expressão plácida. Confusa, olho para Vivienne e para Gary - mas, caso tenham notado, não reagem.O colar com o globo afinal é também um isqueiro. Ela acende vários Gitanes, apaga-os com um movimento circular e faz uma pequena pausa antes de acender o seguinte. Enquanto fala, as suas mãos delicadas, com uma pele muito alva e dedos pontiagudos, movem-se gentilmente sobre um tronco invisível, enrolando um tecido imaginário em torno dele - do mesmo modo que um cego poderia estudar uma forma. Entretanto, os olhos fixam um ponto em cima e à direita, como se consultasse uma espécie de menu interno dos pensamentos."Inteligência espacial", assim descreve o seu método de trabalho. "tenho um sentido muito apurado de geometria tridimensional. Sou capaz de olhar para um pedaço de tecido liso e saber que se lhe fizer um corte e colocar algum tecido em volta de um quadrado, ao levantá-lo o drapeado vai cair de determinada maneira, e consigo sentir como vai ser.""Para Vivienne Westwood o corpo fala em primeiro lugar", declara Pamela Golbin, curadora dos trajos do século XX no Louvre - a maior colecção do mundo - e perita na história da moda feminina. "Os 'designers' mais convencionais impõem uma silhueta a partir do exterior, ao passo que ela primeiro define a feminilidade, depois exprime-a através do volume do corpo e da proporção, a silhueta criada por ela nasce assim."Um exemplo disto, afirma Golbin, é o modo como utilizou o "faux cul" para a colecção "Zonas Erógenas" Primavera-Verão 1994, com a qual provocou algumas ondas. "Decidiu que estava farta de a expressão convencional da feminilidade se encontrar presente quase inteiramente nos seios e inverteu literalmente esta ênfase, pondo-a nas nádegas. Existe sempre este aspecto conceptual no trabalho dela, de tantos em tantos anos redefine a feminilidade e de que modo pensa que esta deve ser expressa nos tempos actuais.""Em Westwood, a sexualidade nunca se encontra latente, está sempre à superfície. As roupas dela intensificam a sexualidade de quem as usa... fazendo tanto quem usa como quem observa ficar extremamente atento ao corpo."Tanto Westwood como Kronthaler falam continuamente no facto de as suas roupas terem "vitalidade" e "vida". O seu ideal é um casamento perfeito entre sensualidade e estética, entre luxo e drama. Para ela, as roupas devem intensificar e refinar no utilizador o sentido da sua própria presença física; provocar uma reacção, carregar a atmosfera com uma tensão sexual e política; devem alterar directamente a realidade física do mundo que as rodeia. É evidente que este tipo de roupas coloca questões e desafia-nos a explorar, a ter em conta o desconhecido. Pode fazer-nos sentir desconfortáveis, esta moda que age como uma droga, que altera o nosso estado de consciência. É por essa razão que, no geral, preferimos Gap ou Gucci.Vivienne Swire nasceu a 8 de Abril de 1941, filha de um casal pobre, em Glossop, Derbyshire. A família mudou-se para Harrow à procura de trabalho tinha ela 16 anos. Num baile local, conheceu John Westwood, empregado da BEA que partilhava com ela o amor pelo "rock'n'roll". "Era muito extrovertido e um excelente dançarino", afirmou ela tempos mais tarde. Casaram em 1962 e Vivienne fez o seu próprio vestido de casamento, uma coisa comum na época, embora ela própria admita que "era muito hábil com a agulha e linha" e "tinha uma figura perfeita". Pouco depois deixou o emprego de dactilógrafa para se tornar professora primária em Willesden, North London. Em 1963, o casal teve um filho, Benjamin.O casamento estava a desfazer-se em 1965 quando ela conheceu Malcom Edwards, de 18 anos, o qual posteriormente declarou ser "ainda virgem" nessa altura. Em 1967 viviam juntos na parte sul de Londres, Edwards estava no Croydon College of Art e tiveram um filho, Joseph Corré. Nos dez anos que se seguiram Westwood (manteve o nome de casada) metamorfoseou-se de dona de casa da classe trabalhadora e professora primária numa "designer" de roupa político-erótica. O primeiro passo nessa direcção foi cortar drasticamente o cabelo e com ele todos os laços que a prendiam ao passado. Em 1969, o dono da "boutique" Granny Takes A Trip, Gene Krell, conheceu Vivienne Westwood, momento que ele descreve como "inesquecível"."Estava vestida com umas calças justas de veludo com um padrão de pele de leopardo e botins de verniz preto com salto agulha, tinha o cabelo louro espetado. Fiquei atordoado com o estilo dela e tive de descobrir mais sobre ele, de compreendê-lo."Edwards (como Malcom McLaren foi conhecido até 1971) canalizou o talento criativo dela para a moda. A relação de ambos tinha uma dinâmica poderosa: ele era o situacionista de olhos rebeldes, que explicava teoria de arte e citava a sociedade do espectáculo de Guy Debord; ela era a artesã metódica que dissecava literalmente as modas do "rock'n'roll" para reinventá-las.A habilidade para o "design" de Westwood e o talento de McLaren para manipular os media evoluíram, passando por várias fases na sua "boutique" de King's Road, cada uma mais provocante e desafiadora que a anterior: Let It Rock passou a Too Fast To Live Too Young To Die, que, no Verão de 1974, reabriu com o nome de Sex, vendendo roupas de borracha e de sujeição. "Foi por volta desta altura que ela se tornou muito fundamentalista em relação ao assunto. Lembro-me de um fulano que andava com um grupo que frequentava a loja desde o seu início. Tinham começado por ser 'mods', mas gradualmente foram passando a vestir roupas Alan Ladd. Um deles olhou para as roupas de borracha e disse: 'Já não sei, isto é um bocado esquisito para meu gosto.' A Vivienne atirou-se a ele. 'Tu tens ar de quem pertence a uma olaria', disse-lhe, 'não à minha loja. Se não gostas, sai daqui.'""Cogitava como havia de criar estes heróis da rua", diz, "e queria mesmo atacar o sistema. Por isso, ao longo dos anos fui olhando para todos os símbolos de rebelião e tentei juntá-los de uma maneira original." Contudo o "punk" decaiu fortemente, por entre uma histeria que nem ela nem McLaren poderiam ter antecipado, e em 1976, após terem sido acusados de sedição por causa das "T-shirts" "pornográficas", mudaram de novo o nome da loja, para Seditionaries.Nos finais de 1979, o estilo "punk" havia dado lugar ao Novo Romântico, uma procissão de fatos cada vez mais teatrais, que simbolizavam uma época de auto-indulgência teatral. Em resposta, Westwood e McLaren criaram o "look" pirata, dado a conhecer na sua primeira passagem de modelos conjunta em 1981. Vivienne Westwood ganhou reputação internacional com as colecções subsequentes, Punkature, Savage, Hobo and Buffalo e Witches, as quais combinavam elementos de diferentes origens históricas, étnicas e culturais. Tendo-se separado de McLaren e passado as suas criações em Paris - a primeira "designer" britânica a fazê-lo depois de Mary Quant -, foi aclamada pela imprensa de moda e as suas criações inovadoras copiadas em larga escala tanto por designers como por bandas pop.Em 1989, John Fairchild, editor da "bíblia" da moda "Woman's Wear Daily", classificou Westwood como uma dos seis melhores "designers" do mundo (e a única mulher) no seu livro "Chic Savages". Como ela afirma, provavelmente isto ajudou-a a receber a OBE em 1992. No ano seguinte, Naomi Campbell apareceu nas primeiras páginas dos jornais do mundo inteiro ao cair de uns sapatos de salto de plataforma, com 23 cm de altura, de Westwood, que de imediato desapareceram das lojas. Entretanto, as suas criações mais provocantes e inovadoras foram recriadas por outros "designers". Especialmente John Galliano, Jean-Paul Gaultier e Alexander McQueen foram, como dizer... muito influenciados pelo seu trabalho.Hoje vende roupa em todo o mundo e tem quatro etiquetas distintas: a colecção Gold Label é "semi-couture", em tecidos luxuosos com acabamentos feitos à mão no Reino Unido e apresentada em Paris. A Red Label é a linha mais comercial fabricada na Itália e apresentada em Nova Iorque. Em Janeiro de 1996, foi lançada em Milão a Vivienne Westwood Man, onde continua a ser apresentada. A Anglomania é a linha mais jovem e mais ousada que não é exibida como colecção nas "passerelles". Westwood lançou o seu perfume de marca, Boudoir, em 1998 e já foi escolhida uma nova fragrância para comercialização. Entretanto abriu lojas em Londres, Nova Iorque, Tóquio e Milão, estando mais duas para abrir brevemente, em Moscovo e em Los Angeles.E acaba de fazer 60 anos - uma idade em que muitas mulheres da sua geração e nível económico poderiam ter a tentação de agarrar no dinheiro que têm e comprar uma casinha na Provença ou na Toscânia, levar um estilo de vida calmo e agradável ao sol, longe do bulício das coisas mundanas. Mas para ela nada poderia ser pior do que uma coisa dessas, seria um horror. Adora o seu trabalho e não consegue sequer imaginar que poderá chegar uma altura em que não lhe apeteça fazer roupas, dar expressão às suas ideias através das formas femininas. E as ideias surgem-lhe a uma velocidade tal que, para acompanhar o seu próprio ritmo, tem mesmo de continuar a criar.Esta última colecção, Wild Beauty, foi inspirada no dos trajes drapeados das estátuas gregas, declara, traçando com as mãos as linhas de um vestido imaginário. Mas, tratando-se de Vivienne, a inspiração é um mero ponto de partida, que depressa se esvai quando inicia de novo o caminho em direcção àquele horizonte perdido de beleza transcendente."Pensei que uma maneira nova de conseguir aquele efeito, mas sem o volume, seria cortar as costuras curvas. Por isso acabei com todas aquelas formas tipo peça de 'puzzle'..." Compõe-se, sorri e diz: "Não devia estar a dizer-lhe isto tudo, devia ser mais misteriosa." E depois diz-me na mesma.Preocupa-se com o facto de as coisas poderem mudar de novo e ver-se outra vez posta de parte como há alguns anos? Como lhe é habitual parece ignorar a pergunta, responde indirectamente."A minha amiga Tracey", diz secamente, referindo-se a Tracy Emin, "disse-me que foi recentemente a uma espectáculo de Fendi e que as mulheres usavam todas roupas tipo anos 80. Ela usava roupa desenhada por mim e por isso deu nas vistas. E disse-me que isso a tinha feito compreender que mesmo que se consultasse os meus arquivos e usasse algumas das minhas roupas dos anos 80 iria dar nas vistas na mesma. Porque, disse-me, as minhas roupas são intemporais." Há uma pausa, durante a qual pensa se deve ou não prosseguir. Acena com a cabeça e acrescenta, com extrema delicadeza, "E eu acho que ela tem razão".© PÚBLICO/Planet Syndication

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