A comédia virou confissão

O teatro acabou para Neil Hannon. "Regeneration" é o álbum da autenticidade, que marca uma profunda mudança rumo na carreira dos Divine Comedy. Segue-se uma entrevista sem a mínima pitada de humor.

No Verão de 1999, Neil Hannon decidiu comemorar uma década de existência dos Divine Comedy e acertar contas com a sua antiga editora, a independente Setanta, lançando a retrospectiva "A Secret History". Foram dez anos em que o cantor/compositor de origem irlandesa começou por aparecer como um excêntrico fora do baralho britpop e acabou promovido à ribalta internacional. A crescente popularidade ditou a transferência para a "major" Parlophone, onde agora é lançado "Regeneration". Mas, como o título já indicia, o primeiro álbum da segunda década de existência dos Divine Comedy assinala uma profunda mudança de orientação na sua carreira. Foi-se a ironia e a fantasia, mas também o escapismo pop e a extravagância orquestral, para dar lugar a uma nova autenticidade confessional em versos que frequentemente se aproximam de manifestos pessoais, conjugados com a exploração de um som mais grave e dramático. Os fãs conquistados pela inteligente ligeireza de canções como "National Express" ou "Generation sex" serão certamente apanhados de surpresa - para não dizer que ficarão decepcionados. Mas porquê fazer-lhes a desfeita, sobretudo quando a popularidade recém adquirida não impediu os Divine Comedy de manterem um estatuto de prestígio? Foi o que começamos por perguntar a Neil Hannon, numa entrevista onde ele afirma a sua convicção de que a pop é arte e define a beleza em termos de autenticidade. P. - Este disco representa uma profunda metamorfose nos Divine Comedy. Porquê mudar agora quando o vosso antigo som estava a ganhar popularidade?

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