É um dos candidatos aos Óscares e, se não conhecessemos a eficiência da máquina promocional da Miramax, ficaríamos boquiabertos. Tudo (mas mesmo tudo) resulta de uma indigência confrangedora: Juliette Binoche compõe uma pirosa "chocolatière" que chega a uma pequena aldeia do Sul da França com as suas receitas maias e tenta modificar o puritanismo da comunidade, dominada por um estereotipado vilão composto por Alfred Molina. Johnny Depp, lamentável na pele de um cigano irlandês, passeia-se sonâmbulo pelo cenário; numa das cenas culminantes, Molina introduz-se na montra da chocolataria e, depois de ter decapitado todas as pagãs estátuas de chocolate, rompe o seu casto jejum da quaresma, comendo chocolates, e adormece. Se, como dizia o poeta, "não há metafísica se não nos chocolate", nada neste filme desconchavado justifica tais profundidades. Nem mesmo a ligação com a ancestralidade mexicana da protagonista ultrapassa a fancaria folclórica. Quando muito (e com muito boa vontade), apenas a interpretação de Judy Dench, na velha avó contestatária, justifica a ida a tão indigesto repasto. O realizador, Lasse Hallstrom perde-se numa direcção pesada e cheia de lugares comuns. Onde está o prometedor autor de "Vida de Cão" e de "What's Eating Gilbert Grape"? Afogado em chocolate, em sensaboria e em clichés.
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