ET, onde andas tu?

Aos astrofísicos Jean Heidmann, Alfred Vidal-Madjar, Nicolas Prantzos e Hubert Reeves foi colocada uma grande questão: estamos ou não sozinhos no Universo? Das respostas nasceu um livro de entrevistas que nos atira para o espaço.

E se, ao acordarmos de manhã, descobríssemos que não estamos sozinhos no Universo? Que os radiotelescópios que escutam a imensidão do espaço captaram sinais artificiais indicando a presença de uma civilização inteligente? O mundo entraria num frenesim. Não se falaria de outra coisa senão que já não seríamos as únicas almas inteligentes do Universo, que os seres humanos não são assim tão excepcionais e que os extraterrestres teriam cabeças ou braços desta maneira ou daquela maneira, que seriam pacíficos ou violentos...Talvez, de início, pensássemos que seria uma espécie de repetição do programa radiofónico "A Guerra dos Mundos", quando Orson Welles, inspirado no livro de H. G. Wells, disse que os marcianos aterraram na Terra. O pânico espalhou-se, a 30 de Outubro de 1938, por todos os Estados Unidos.As reacções de pânico fazem parte dos cenários pensados por quem busca extraterrestres (ET), conta no livro "Estaremos Sós no Universo?" o radiastrónomo francês Jean Heidmann, entretanto falecido, que era membro do comité SETI (procura de vida extraterrestre inteligente) da Academia Internacional de Astronomia. "Foram pensados muitos cenários, desde as reacções de pânico até aos conflitos filosóficos e religiosos. Sem esquecer a reacção dos comerciantes e dos publicitários desejosos de lucrar com o acontecimento. A recepção de uma mensagem não deixaria de provocar alguns tremores de terra."A diferença é que o anúncio à Humanidade teria a formalidade emprestada pelo secretário-geral das Nações Unidas, como manda o protocolo estabelecido. A questão que se colocaria depois é a da mensagem que os terrestres então enviariam aos extraterrestres. Jean Heidmann propunha que, para lhes falarmos de nós mesmos, nada melhor que uma grande enciclopédia universal, como a "Britannica", que recorre à colaboração de especialistas de todas as nacionalidades, ideologias e credos. Nada de mensagens como a que Carl Sagan concebeu para ser enviada nas sondas Pioneer e Voyager, pois nem os próprios terráqueos sabem muito bem decifrar os desenhos lá gravados do átomo de hidrogénio ou das coordenadas do nosso sistema solar no Universo, critica Alfred Vidal-Madjar, do Instituto de Astrofísica de Paris.A fase seguinte seria a das viagens a outros mundos. Nicolas Prantzos, do Centro Nacional de Investigação Científica francês, diz que talvez daqui a 200 ou 300 anos tenhamos sistemas de propulsão capazes de devorar distâncias entre as estrelas. As mais próximas da Terra - um sistema duplo composto pela Alpha Centauri e a Proxima Centauri - ficam à distância de quatro anos-luz, só que parecem não ter planetas. Mas os nossos foguetões teriam de viajar, não a 40 mil quilómetros por hora, o máximo actual, mas a 30 mil quilómetros por segundo, ou seja, um décimo da velocidade da luz. Mesmo assim, só alcançaríamos Centauri ao fim de 40 anos. Sagan, como muitos outros, não acreditava que vivêssemos numa solidão cósmica no meio das 150 mil milhões de estrelas da Via Láctea, sem falar das outras galáxias. Só que, os ET mantêm-se calados. O chamado paradoxo de Fermi parece resistir. Dizia o físico italiano Enrico Fermi, em 1950, que se existissem civilizações ET, pelo menos uma já teria tido tempo para ter deixado escapar as emissões artificiais que por lá fervilhassem. "Onde estão eles? Não os vejo", dizia.Se Fermi cá estivesse, Jean Heidmann dir-lhe-ia que se calhar ainda não encontrámos os canais de escuta certos, pois os ET podem usar técnicas de comunicação desconhecidas. Hubert Reeves, defensor da existência de ET, dir-lhe-ia que talvez os sinais não tiveram tempo de chegar. Da mesma maneira, se alguém estiver à nossa escuta muito longe, nada viu ainda. Os terrestres só emitem ondas electromagnéticas há um século. Os folhetins televisivos do "Dallas" estão agora a uns 20 anos-luz da Terra e as ondas do cogumelo nuclear de Hiroxima a 55 anos-luz, por exemplo.Para já, a descoberta de planetas noutros sistemas solares multiplicou enormemente a probabilidade de haver outras Terras. O primeiro foi descoberto em 1995, em volta a estrela Pégaso 51. Ultrapassam os 50 agora. Mas Alfred Vidal-Madjar interpreta esta abundância como um sinal contrário e, tal como Prantzos, sente-se forçado a aceitar o paradoxo de Fermi: "Enquanto o SETI não captar sinais, mais o paradoxo se reforça e me leva a concluir que estamos sós!" E se forem descobertos vestígios de vida mesmo à nossa porta, em Marte? "Curiosamente, isso reforçaria o paradoxo. Quantos mais vestígios de vida forem descobertos, mais será demostrado que a vida pode aparecer em todo o lado e deveria então pulular nos inúmeros planetas extra-solares. A vida é muito mais difícil de fabricar do que pensamos. Se não estivéssemos sozinhos, isso saber-se-ia.""Estaremos Sós no Universo?" é um documento entusiasmante. Pena é que a tradução portuguesa não seja das melhores. Naveta em vez de nave ou foguete em vez de foguetão são imprecisões recorrentes. Mais aborrecido é quando se toma mil milhões ("milliard", em francês) por biliões, um erro que percorre todo o livro. Biliões em português são milhões de milhões. Também não faz muito sentido que os nomes de obras inglesas apareçam em francês. "La Guerre de Mondes"!?

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