Doentes portugueses receberam fármaco contaminado com Creutzfeld-Jakob

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O fármaco, essencial para diagnosticar a tromboembolia pulmonar, continha albumina doada por um britânico, vítima de Creutzfeld-Jakob DR

Os dois lotes de "Amersham Pulmonate II Agent", um rádio-fármaco utilizado para diagnosticar a tromboembolia pulmonar, foram retirados das instituições de saúde por ordem do Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) em Novembro de 1997. Apesar do medicamento não ser autorizado no mercado português pode ser utilizado pelos hospitais depois de uma autorização especial, uma vez que é essencial para diagnosticar a tromboembolia. Mas os lotes - o A548 e A554 - que chegaram a Portugal há três anos atrás continham uma composição de albumina - uma proteína solúvel que pode ser encontrada no plasma sanguíneo humano - doada por um cidadão britânico que acabou por falecer vítima da variante humana da doença das vacas loucas (Creutzfeld-Jakob). O medicamento foi administrado no Hospital de Santo António, na instituição de Medicina Nuclear da Boavista, no Porto; no Hospital da Universidade de Coimbra (HUC); no Instituto de Medicina Nuclear, na Atomedical, no Hospital Garcia de Orta, e no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa.
Segundo diz o JN na sua edição de hoje, o Ministério da Saúde não sabe ao certo quantos doentes receberam o medicamento, mas sabe-se que a maior parte das doses foram dadas no HUC.
Em declarações ao JN e à SIC Notícias, um dos médicos do serviço de Medicina Nuclear do HUC, João Pedroso Lima, garantiu que o balanço benefícios/riscos da administração do medicamento é "negligenciável", tendo em conta que não há alternativa na detecção da tromboembolia.
Por isso, os doentes não foram avisados de que o "Amersham" continha parte do sangue doado por uma vítima de Creutzfeld-Jakob. "Os doentes não foram avisados porque isso ia introduzir um factor de preocupação demasiado elevado, quando o risco [de contaminação] é mínimo, negligenciável", explicou Pedroso Lima hoje à SIC Notícias, acrescentando que não existe nenhum fármaco alternativo para proceder ao diagnóstico da tromboembolia - uma doença grave que se caracteriza pelo entupimento dos vasos sanguíneos.
Mesmo assim, e apesar dos riscos serem considerados mínimos, o Infarmed resolveu retirar o medicamento de circulação e informar directamente os directores clínicos dos hospitais em causa, como "medida de precaução", refere também o JN, citando Pedroso Lima.
Em Espanha, o mesmo fármaco foi administrado a cerca de 757 doentes, que começam a apresentar queixas em tribunal por não terem sido avisados do risco de contaminação com a variante humana da encefalopatia espongiforme bovina (BSE).

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