A mais antiga editora do país regressa hoje aos livros

<EM><FONT FACE="Times New Roman" SIZE="4">PARCERIA ANTÓNIO MARIA PEREIRA RENOVADA</FONT></EM><STRONG><EM>Foi a editora de Eça, Camilo, Pessoa. Chegou a publicar 700 livros por ano. Regressa hoje à actividade</EM></STRONG>O advogado António Maria Pereira e a irmã, Antónia, lançam hoje à tarde, na Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em Lisboa, o livro "Teatro", de Camilo Castelo Branco. É o regresso ao negócio dos livros da Parceria A. M. Pereira, que teve entre os seus autores Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz e Oliveira Martins e publicou a primeira edição da "Mensagem", o único livro saído em vida de Fernando Pessoa. ANTÓNIO MARIA PEREIRA - O sentimento de que era nossa obrigação retomar uma obra notável e que constituiu um agente cultural muito importante dos últimos 150 anos. Nunca me conformei com a ideia de que essa linha familiar de pessoas ligadas à cultura tivesse acabado . E tivesse acabado exactamente quando chega ao 4º, que sou eu. Fiquei sempre à espera de uma oportunidade para a retomar. P - Qual foi em concreto a oportunidade?R - Surgiu porque tinha que surgir. O escritório [de advogados, um dos maiores do país] exigia muito da minha presença. Ao abrandar um pouco a minha actividade entendi que chegou a altura de passar a ocupar-me desta missão que a memória dos meus antepassados me confiou.ANTÓNIA MARIA PEREIRA - A minha caturrice em escrever a história da família desencadeou também esta decisão de retomarmos a Parceria. Foi uma pedrada no charco. Investiguei em bibliotecas durante nove meses a história desta editora (a primeira portuguesa, o nosso mercado editorial estava então entregue aos franceses). Foi a primeira e também a maior. Num ano chegou a editar 700 títulos! P - O que pretendem trazer de novo ao mercado livreiro português?R - Nesta hora da globalização, das coisas impessoais, massificadas, é muito importante algo que tem a ver com uma família, com uma memória. Queremos trazer essa memória para o século XXI. O nosso grande escritor foi Camilo Castelo Branco. Chegámos a ter 80 obras dele no nosso catálogo. Todos os António Maria Pereira editaram Camilos. Nós também o vamos fazer, começando com três peças teatrais seleccionadas por Luiz Francisco Rebello para este primeiro livro: "Patologia do Casamento", pouco conhecida; "O Morgado de Fafe em Lisboa"; e "O Condenado".P - O lançamento de hoje marca o relançamento da editora. Mas houve um outro livro ["Sá Carneiro-Biografia Política", de Nuno Manalvo], lançado em Dezembro.R - Foi uma oportunidade que aproveitámos. Mas Camilo é o filho desejado.P - Camilo vendeu muito na Parceria. Quantos exemplares vão fazer desta primeira obra do reaparecimento?R - Um milhar.P - É quase um regresso ao princípio: o primeiro "best seller" da editora ["Reinado e últimos momentos de D. Pedro V", por José Maria de Andrade Ferreira, 1861], vendeu mil exemplares na sua primeira edição...R - ...e obrigou a sucessivas reedições. Isto agora é um teste.P - Qual foi o maior sucesso editorial da história da Parceria?R - As obras de Camilo venderam muito e sempre. E as colecções que saíram durante a II Grande Guerra. As "Férias Com Salazar", de Christine Garnier, também: as primeiras cinco edições esgotaram rapidamente. P - E a "Mensagem", de Fernando Pessoa? Sabem quantos exemplares vendeu? Quanto lhe pagou a Parceria? R - Sabemos que passou despercebida. O resto não. Tudo aquilo desapareceu. As próprias cartas de Camilo já não as temos connosco; as cartas do Eça foram encontradas no Brasil.P - Nove dos dez escritores mais populares no século XIX eram editados pela Parceria. Quem são os vossos Camilos e Eças do século XXI português?R - Evidentemente que estamos abertos aos grandes nomes da literatura portuguesa de hoje, assim eles queiram trabalhar connosco. Mas primeiro vamos consolidar o prestígio antigo. Temos um projecto de uma colecção camiliana dirigida pelo professor Aníbal de Castro, Director da Biblioteca da Universidade de Coimbra. Os livros sairão trimestralmente, o primeiro vai ser o "Amor de Perdição". Na calha temos a reedição das "Imagens do Portugal Queirosiano", do arquitecto Campos e Matos e "América do Norte", de Alfredo Mesquita, uma obra curiosíssima da década de 20, com gravuras da época.P - Além da editora, vai haver também livraria, como no passado?R - Para já não. Estamos ainda na infância.P - Recuperaram o nome da firma. Mas além dos dois [António é o sócio maioritário; Antónia, a gerente] há outros sócios?R - O grupo Europa-América, alguns dos sócios do escritório de advogados [entre eles Luís Saragga Leal e José Miguel Júdice] e os filhos do nosso sobrinho [o jornalista catalão] Ramon Font.P - Além da carreira de advogado, o 4º António Maria Pereira é conhecido pelas suas actividades políticas [no PSD, de que chegou a ser ministro sombra] e sobretudo pelo empenhamento em causas relacionadas com os Direitos Humanos e com os direitos dos animais. Esta agora, é uma causa familiar?R - Tive a minha infância e depois a adolescência marcadas pelo desacalabro da Parceria. De pessoas ricas passámos a pessoas pobres por causa do que aconteceu. A Parceria não podia acabar. Dava-me uma certa má consciência. Uma das pessoas que me encorajou foi [o antigo Presidente da República e autor do prefácio do livro de Parceria A. M. Pereira - Crónica de uma Dinastia Livreira"], Mário Soares.

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