Grávida de gémeos aos 56 anos graças à fertilização "in vitro"

DIREITOS DAS CRIANÇAS EM QUESTÃO. Os três filhos, de 32 anos, 30 e 26 anos, deram a sua bênção a Lynne Bezant

Lynne Bezant, 56 anos, tem já uma família crescida, com o marido Derek, de 55. Têm três filhos. Quando o mais novo fez 26 anos, decidiram ter mais um. Recorrendo à fertilização "in vitro", Lynne acabou por ficar grávida e, se tudo correr bem, será a mais velha mãe de gémeos da Grã-Bretanha - o título de mãe mais velha pertence a Elizabeth Buttle, que deu à luz uma criança em 1997, com 60 anos. Quando os gémeos tiverem cinco anos, Lynne terá 61. Quando deixarem a escola ela terá mais de 70. O diário "The Guardian" questionava: "Será um triunfo da ciência sobre o envelhecimento humano ou um desrespeito dos direitos das crianças?" O debate está lançado na Grã-Bretanha. Lynne Bezant, que vive em Oxfordshire, ficou grávida depois de três óvulos de uma dadora terem sido fertilizados e dois deles serem implantados com sucesso no seu útero. Ian Craft, director da clínica Harley Street, onde foi realizada a fertilização, defendeu a decisão da sua unidade médica. O casal Bezant sempre quis uma família maior, mas as últimas gravidezes de Lynne tinham acabado em aborto. Há 20 anos, dois gémeos nasceram já sem vida. Por isso, esta gravidez "é o fim feliz de uma história trágica", considerou o clínico."Mas o que faz dar ovócitos de uma dadora, que são difíceis de encontrar neste país, a uma mulher de 56 anos que já tem três filhos?", pergunta o "The Guardian". "E quando os filhos [Jenny, 32 anos, Andrew, 30 e Chris, 26] já têm idade para serem eles próprios pais? Não faria mais sentido dá-los a uma mulher mais nova, que não tenha tido ainda a felicidade de ter um filho?"O director de uma clínica de fertilidade no hospital de Hammersmith, lorde Winston, não acredita em limites de idade mas acha que os ovócitos devem ir para as mulheres mais jovens, com menopausas precoces. "Há mulheres em espera quatro ou cinco anos para estes ovócitos." O porta-voz do órgão encarregado de fiscalizar os tratamentos de fertilização na Grã-Bretanha, Human Fertilization and Embriology Authority (HFEA), afirmou, entretanto, que apenas uma em cada mil mulheres que recebem tratamento para a infertilidade tem mais de 50 anos.Segundo a legislação em vigor, o bem-estar da criança tem de ser considerado. O diploma da reprodução medicamente assistida, de 1990, diz que "uma mulher não deve receber tratamento para a infertilidade sem se ter em conta a criança que poderá nascer daquele tratamento (incluindo a necessidade de um pai)".Mas, argumenta o "The Guardian", tudo isto é esquecido nas clínicas privadas, onde basta pagar para conseguir um tratamento. Derek e Lynne pagaram, adianta o diário, 5 mil libras (quase 1600 contos) pela fertilização. O editorial do "Daily Mirror", que deu a história em primeira mão, é a favor desta gravidez. "Lynne e Derek têm experiência de paternidade, adoram crianças e sabem o que os espera." Além disso, "as pessoas hoje estão mais saudáveis que os seus pais nesta idade", lembra o jornal. A mesma opinião tem Peter Brinsend, director da clínica Bourn Hall: "A maior parte das mulheres vive até aos 85. Estes gémeos terão 30 anos quando a sua mãe morrer. Poderão ficar embaraçados quando a sua mãe de 65 anos os esperar à porta da escola. Mas hoje temos mães de 35 ou 40 anos a ir buscar os seus filhos à escola, quando há 10 anos isso nunca acontecia."Já Liv O'Hanlon, directora do Fórum de Adopção, lembra que a resposta à questão "deve-se focar os desejos e necessidades dos pais ou os das crianças?" é facilmente respondida pelos os casais que querem adoptar: não importa quantas tentativas de fertilização os pais fizeram, quanto tempo esperaram - as necessidades das crianças vêm primeiro. E termina perguntando: "Quem é que quer ser criado pelos avós?"

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