Derrocada arrasta idosa

As obras do Metro do Porto em Campanhã podem estar relacionadas com a derrocada de casas que ontem soterrou uma idosa. É uma possibilidade que os responsáveis da empresa não descartam e que só um inquérito poderá esclarecer. O acidente obrigou a evacuar moradores de casas vizinhas e deixou sem tecto quatro pessoas.

A derrocada de duas casas na Travessa da Formiga, em Campanhã (Porto), provocou ontem, cerca das 14h30, o soterramento de uma idosa de 78 anos, acidente causado, alegadamente, pelas obras da construção da linha subterrânea de metro para a Estação da Trindade, a decorrer a pouca distância daquelas habitações. De resto, a tuneladora tinha passado, há cerca de duas semanas, por baixo das casas, motivando posteriormente a injecção de várias toneladas de betão no subsolo. A Metro do Porto abriu já um inquérito para apurar as causas da derrocada das habitações 10 e 12 daquela artéria, mas Morais Ferreira, comandante dos Sapadores Bombeiros do Porto, admitiu que este acidente "poder-se-á associar à construção do metro".Vieira de Carvalho, presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, também não descarta a possibilidade de as obras terem provocado a derrocada, remetendo, todavia, a conclusão para mais tarde: "Não vamos dizer que tenha sido ou não por causa das obras. O que há a determinar sobre o que se passou será através de um inquérito que a empresa do Metro do Porto mandou instaurar", declarou.Testemunha ocular do sucedido foi Joana Teixeira, que estava à janela e viu "um senhor a gritar, dizendo que a sua mulher estava a morrer". "Nessa altura - continuou -, dois senhores de capacete azul estavam a tirar botijas de gás lá de dentro e em segundos a casa ruiu. Uma dessas pessoas de capacete azul ainda tentou entrar, mas saiu logo depois, porque a casa começou a desmoronar-se".Segundo o PÚBLICO apurou, momentos antes da derrocada foi feita a monitorização da casa por topógrafos, de modo a avaliar o grau de vibrações que as casas estavam a sofrer devido à tuneladora. Acção que, de resto, Vieira de Carvalho disse acontecer com regularidade. "Ainda esta manhã [ontem], foi monitorizada, assim como as outras casas, e nada foi detectado. Vejo este buraco a crescer continuamente. Pode ter sido feito pela existência de uma mina ou por uma máquina a actuar no subsolo".Na próxima sexta-feira já deverá ser conhecido o resultado do inquérito ordenado pela Metro do Porto, devendo também o Governo iniciar uma investigação paralela. A Normetro, consórcio responsável pelas obras, disponibilizou um número de telefone móvel (932205137), que vai estar a funcionar 24 horas por dia, de modo a esclarecer quaisquer dúvidas acerca da situação das várias casas da zona de Campanhã.As casas que desabaram fazem parte de um conjunto de seis habitações contíguas de um só piso, devendo todos os seus habitantes, entretanto evacuados por precaução, ser realojados até que sejam verificadas as condições de segurança daquela zona. A cratera, com cerca de cinco metros de profundidade, esteve a ser limpa por uma escavadora e por vários elementos dos sapadores bombeiros. O acidente deixou também sem tecto quatro pessoas que moravam nas habitações atingidas pelo desabamento.No momento da derrocada, Aurora Ferreira de Araújo encontrava-se acamada, devido a uma trombose que sofreu há pouco tempo. O seu marido, Idálio Moreira da Silva, de 75 anos, saiu ileso, mas teve de ser transportado para o Hospital de Santo António, por ter ficado em estado de choque, regressando algumas horas depois. Segundo o testemunho de alguns vizinhos, a Normetro terá tentado convencer os moradores das casas que desabaram a sair após a passagem da tuneladora, mas Aurora Ferreira de Araújo não terá concordado. O PÚBLICO, porém, não conseguiu confirmar esta informação devido ao silêncio a que se remeteu o empreiteiro. Sob a Travessa da Formiga haveria uma mina de água, razão pela qual só o inquérito determinará as verdadeiras razões da derrocada.Além de Vieira de Carvalho, estiveram no local Nuno Cardoso, presidente da Câmara Municipal do Porto, Maria José Azevedo, vereadora do pelouro da Habitação, Joaquim Couto, governador civil do Porto, Valentim Loureiro, administrador da Metro do Porto, bem como Oliveira Marques, presidente da Comissão Executiva da Metro do Porto.Devido à dificuldade em localizar o corpo - à hora do fecho desta edição, os bombeiros ainda o não tinham resgatado -, foi solicitado à Guarda Nacional Republicana a colaboração da sua equipa de cães. Um primeiro grupo chegou cerca das 17h10, mas houve necessidade de recorrer a cães especializados neste tipo de acções, só existentes em Lisboa. Cerca das 18h45, os referidos animais foram conduzidos ao local da derrocada e poucos minutos depois tinha sido confirmada a zona onde presumivelmente se encontrava o corpo da idosa.

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