Portucel assegura 80 por cento da Soporcel

A privatização do sector de pasta e papel vai passar pela Portucel e não pela Papercel. Com 80 por cento da Soporcel já garantidos, resta agora à Portucel adquirir os restantes 20 por cento através de uma OPA. Juntas, as duas empresas passam a deter o terceiro lugar europeu na produção de papel.

A Portucel garantiu ontem 80 por cento do capital da Soporcel, ainda antes da concretização da oferta pública de aquisição (OPA) sobre esta empresa, operação que incidirá apenas sobre os 11 por cento da Sonae e os nove por cento dispersos no mercado (ver organigrama). Além da participação dos 40 por cento a adquirir à Arjo Wiggins, a Portucel assegurou já os 40 por cento detidos pela Papercel, "holding" do Estado para o sector da pasta e do papel. As duas operações ainda têm de receber "luz verde" das autoridades da concorrência."Acabámos de informar a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários de que a Papercel fez um contrato de venda das acções na Soporcel à Portucel", anunciou ontem o presidente da Portucel e da Papercel, Jorge Armindo, em conferência de imprensa. O responsável pelas duas empresas adiantou que o preço de venda da participação da Papercel será o mesmo que está definido para a OPA - 18 euros por acção - e que "a Papercel não receberá qualquer montante antes da concretização" da operação em bolsa, acrescentando que a "holding" do Estado "não está a retirar qualquer vantagem financeira da operação".No final, admitiu Jorge Armindo, a Portucel irá substituir a Papercel no processo de privatização do sector. "A Papercel tanto podia ser um veículo de privatização como, quando chegasse a hora, afastar-se calmamente do processo": "a Papercel cumpriu a sua função", a integração da Portucel e da Soporcel. Cabe agora ao Executivo definir como será feita a privatização da Portucel, acrescentou.O Ministério da Economia também se pronunciou ontem sobre a reestruturação do sector, antes da conferência de imprensa, afirmando à Reuters que o figurino final da operação ainda não foi definido e negando que vai avançar com negociações exclusivas com a Sonae, que detém também dez por cento na Portucel, onde o Estado ainda tem 56 por cento. Para concretizar a compra da totalidade do capital, a Portucel admite recorrer ao mercado de capitais mas, para já, vai utilizar o seu "cash flow" e recorrer a um financiamento bancário para comprar os 40 por cento da Arjo. Deverá, no entanto, propor aos accionistas um aumento de capital como forma de adquirir os 40 por cento da Papercel e os restantes 20 por cento, caso esta última posição venha a ser vendida na OPA.A operação de compra da Soporcel está a ser desenvolvida "numa vertente puramente empresarial e não tem nada a ver com medidas políticas", acrescentou Jorge Armindo. A Portucel enfrenta uma concorrência cada vez maior de países como o Brasil e a Indonésia, onde o custo da madeira "é extremamente mais reduzido". Um dos objectivos da aquisição é reforçar a produção de papel - com a integração a jusante na produção de papel fino - em que os custos da madeira representam apenas 15 por cento do custo total da actividade, quando na produção de pasta ascendem a 45 por cento da despesa total. A Portucel passa a ter dois terços da actividade dedicados à produção de papel, sector onde se prevê um crescimento anual de 4,9 por cento até 2005, e apenas um terço virado para a produção de pasta.Por fim, salientou o presidente da Portucel, a nova aquisição permite à produtora "outra força para fazer alianças e negociar com outros parceiros em pé de igualdade". No sector da produção de papel, a união Portucel-Soporcel representa um terceiro lugar europeu. E no âmbito do papel fino revestido, em termos de capacidade de produção, fica no segundo lugar no papel A4 e em primeiro no que respeita aos grandes formatos.Embora o modelo organizativo final ainda tenha de ser definido, Jorge Armindo diz que "a identidade de cada uma das empresas deve ser preservada tanto quanto possível". As duas produtoras estimam uma facturação conjunta superior a 200 milhões de contos em 2000.

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