Auto-Estradas do Atlântico acusa Brisa do mau estado da A8

O antigo e o actual concessionário da auto-estrada que liga Loures a Caldas da Rainha, respectivamente a Brisa e a Auto-Estradas do Atlântico, não se entendem sobre quem deve efectuar a manutenção da via. Quem sofre com o mau estado do pavimento e a falta de sinalização horizontal são os utentes, que ainda por cima pagam portagem.

"A Brisa não faz nada na A8. Nem sequer a reparação dos 'rails', nem a pavimentação horizontal. Nada! Sinto-me revoltado e impotente com esta situação", acusa o principal accionista da Auto-Estradas do Atlântico, Vasconcelos Guimarães, que é também presidente da Somague- Concessões e Serviços SA. A Auto-Estradas do Atlântico ganhou, em 1997, a concessão da auto-estrada que liga Loures a Caldas da Rainha. Antes disso a exploração da A8 estava entregue à Brisa.Vasconcelos Guimarães diz que estava estabelecido contratualmente que mesmo depois da transferência a Brisa assegurasse alguma da manutenção da via. "A Brisa tem vindo sistematicamente a denegrir a imagem da Auto-Estradas do Atlântico", diz. "Vamos ver se a partir de Setembro de 2001, com as receitas das portagens nos novos troços, conseguimos mudar a nossa imagem. Até lá, se a Brisa não fizer a repavimentação, teremos de ser nós a fazê-lo", refere.A auto-estrada que liga Loures a Caldas da Rainha é a primeira concessão atribuída a uma entidade privada, a Auto-Estradas do Atlântico, mas está longe de ser um exemplo de boa prestação de serviços. Os utentes queixam-se sobretudo do mau estado do pavimento, que está cheio de lombas, e da falta de sinalização horizontal. Com chuva é impossível aos condutores ver em que faixa circulam. Alguns trabalhos que têm vindo a ser feitos têm decorrido a um ritmo tão lento que não conseguem mudar a má imagem que os utilizadores têm desta infra-estrutura, que, ainda por cima, é paga, e cujas portagens foram altamente contestadas.O assessor de imprensa da Brisa, Helder Guerra, garante que a acta de transferência da A8 para a Auto-Estradas do Atlântico, assinada em finais de 1997 - e da qual não forneceu ao cópia ao PÚBLICO - diz que a auto-estrada seria entregue "no estado em que se encontrava, passando toda a sua manutenção para a nova concessionária". O mesmo responsável admitiu que "depois de 97 havia algumas reparações a fazer". Mas essas reparações "já foram efectuadas, pelo que não há qualquer razão para imputar à Brisa responsabilidades sobre o estado em que se encontra actualmente a A8". "O nosso relacionamento com a Auto-Estradas do Altântico é muito bom. É perfeitamente descabido dizer que pretendemos denegrir a imagem da empresa", acrescenta o porta-voz da Brisa.Em Agosto passado, em declarações a um jornal regional, o presidente da Auto-Estradas do Atlântico, Vasco Leite, acusava também a Brisa de se ter desinteressado da A8 quando soube que esta seria concessionada a uma outra empresa. "Quando soube a que auto-estrada era para ser afecta a terceiros, a Brisa não se preocupou muito com a sua manutenção", afirmou na altura. Somague e a Brisa estão em concorrência directa na construção e concessão da auto-estrada entre a Marinha Grande, a Figueira da Foz e Mira, que funcionará no regime de portagens virtuais. Dos seis concorrentes iniciais foram estas duas empresas que chegaram à fase final. Vasconcelos Guimarães contesta a legitimidade daquela operadora em ter concorrido. "Não há na história dos concursos que uma empresa já estabelecida e com uma rede de 800 quilómetros de auto-estradas seja aceite a um concurso desta natureza pois, sendo assim, o Estado limita-se a renegociar o aumento da rede". E recorda que a empresa Auto-Estradas do Atlântico foi impedida de concorrer a esta via por se tratar, exactamente, do prolongamento da "sua" A8 - embora a Somague tenha criado uma empresa instrumental para assegurar a concessão."Um dos nossos argumentos de força neste concurso é que o Estado para o ano deixa de ter participação na Brisa e não vai querer ter, concerteza, uma auto-estrada da Brisa ao lado da A1. Seria interessante serem duas empresas diferentes para se poder ver a diferença no serviço", diz o responsável da Somague.

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