O filósofo do nosso tempo

Friedrich Nietzsche morreu a 25 de Agosto de 1900. Na Alemanha, a sua obra não deixa de ser discutida e reavaliada. Para uns é considerado um anti-semita, para outros o maior crítico da ideologia burguesa depois de Marx. A sua importância como filósofo é imensa mas há quem pense que, depois de Lutero e Goethe, foi também um dos mais importantes renovadores da língua alemã. Nietzsche é, sobretudo, o filósofo do nosso tempo.

Na Alemanha, o "país dos poetas e pensadores", ninguém como Friedrich Nietzsche tem sido tão controverso e a sua mensagem interpretada com tanta ambivalência. A sua figura está associada ao grande drama da Alemanha contemporânea, uma nação por excelência cultural e que viveu a pior das barbáries. O interesse pelo filósofo e escritor aumentou ainda mais no centenário da sua morte, que se comemora hoje.O autor de "Assim Falava Zaratustra" está a ser recordado com um número imenso de conferências, seminários, exposições e novas publicações sobre a sua obra, não só na Alemanha, mas também em muitos outros países."Para uns é considerado como um pioneiro do irracionalismo e um anti-semita, um propagandista da besta loira do arianismo e fomentador do super-homem amoral", escreveu no diário alemão "Die Welt", o catedrático Gert Mattenklott. "Para outros, Nietzsche é o maior crítico da ideologia burguesa depois de Marx, o profeta de uma modernidade antimetafísica, ariete contra a administração burocrática do pensamento através dos seminários filosóficos. Naturalmente que estas opiniões díspares se baseiam nas afirmações ambivalentes de Nietzsche", acrescentou Mattenklott.No último número do semanário alemão "Der Spiegel", que intitula as noves páginas que dedica a Nietzsche como "O Assassino de Deus", refere uma interessante opinião do filósofo Manfred Riedel, discípulo do filósofo Gadamer, a propósito da qualidade de Nietzsche: "Com a morte de Hegel pareceu que tinha ficado superada a interrogação sobre as questões básicas que dizem respeito ao homem. Os filósofos converteram-se em especialistas e queriam sê-lo. Foi assim até aos nossos dias. Nietzsche, pelo contrário, quis resgatar a verdadeira tarefa dos filósofos. Para ele, o filósofo tinha duas caras: uma para si mesmo, outra para os outros. Só agora se conhece como ele foi crítico do seu tempo e psicólogo. Apenas se pode entendê-lo como alguém que desvela literariamente os enigmas da existência."Em Weimar, na Turingia, aguarda-se com expectativa o principal discurso da cerimónia do aniversário, a cargo do filósofo alemão Peter Sloterdijk, um autor também bastante controverso, depois de ter levantado uma enorme polémica no ano passado, com as suas declarações a propósito dos avanços da biomedecina e da genética. Sloterdijk, partidário de falar sem tabus sobre o tema da manipulação genética como forma de alcançar f+bum homem mais humanof-b, falará em Weimar sobre "A Feliz Mensagem, o Super-humanismo de Nietzsche".Na mesma cidade, está aberta desde meados de Abril uma exposição sobre a vida do filósofo, que mostra como ele foi um dos mais importantes renovadores da língua alemã depois de Lutero e de Goethe. Outros lugares de peregrinação para os amantes de Nietzsche são a localidade de Roecken, no estado da Alta Saxónia, onde nasceu em 1844 e está sepultado, e a cidade de Naumburg, onde passou a sua infância e juventude. Em Naumburg decorre uma semana durante a qual se representam peças de teatro, está aberta uma exposição na casa onde viveu, organizam-se excursões culturais e tem lugar um congresso sobre a sua obra. A localidade montanhosa de Oberengadin, na qual Nietzsche passou férias, acolhe o congresso anual sobre o filósofo, que este ano será inteiramente dedicado a "Assim Falava Zaratustra". A nível internacional, o Instituto Goethe organiza em Setembro um simpósio sobre Nietzsche e o f+bperspectivismof-b. Na Holanda, no mesmo mês decorrerá um congresso sobre a linguagem do filósofo. O ano terminará com uma conferência em Jerusalém, em torno do tema "Nietzsche no Século XX".O centenário da morte de Nietzsche teve como efeito o aparecimento de novas publicações, entre as quais se destaca "Nietzsche, uma Biografia do seu Pensamento", de Rufor Safranski, o mesmo autor de estudos importantes sobre Schopenhauer e Martin Heidegger. *Exclusivo PÚBLICO/"La Vanguardia"

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