Uma nova selecção nacional

A estreia de Portugal no hóquei no gelo numa competição não oficial saldou-se por uma esperada derrota contra a equipa amadora dos canadianos do First Portuguese Canadian Cultural Centre. Mas a competição levou a modalidade e muitos visitantes a Viseu.

Octávio Contreiras era um homem feliz ao fim da tarde de quarta-feira, quando assistia ao jogo entre a primeira selecção portuguesa de hóquei no gelo e a equipa do First Portuguese Canadian Cultural Centre, de Toronto. "Trabalhei no Canadá 26 anos, nos correios de lá, e regressei a Portugal há oito anos. Quando dei conta deste torneio nos jornais nem pensei duas vezes e disse para mim mesmo: não conheço Viseu e vou aproveitar para ver a cidade e ver aquela malta de Toronto!" Este algarvio de 62 anos, que vive actualmente em Corroios, deslocou-se propositadamente a Viseu para assistir ao torneio Portugal-Canadá em hóquei no gelo. Durante mais de 20 anos fez parte da comunidade de 300 mil portugueses que vivem em Toronto e não resistiu a matar saudades do First Portuguese Canadian Cultural Centre, associação que trouxe a Viseu a sua equipa amadora de hóquei no gelo, e da qual fez parte dos corpos directivos há alguns anos.A alegria de Octávio Contreiras foi ainda maior quando, num dos dois intervalos do primeiro jogo do torneio, lhe foi apresentado o embaixador do Canadá em Portugal, Robert Wanderloo, um homem afável, que é um dos impulsionadores do hóquei no gelo em Portugal. Contreiras relembrou a terra à qual dedicou grande parte da sua vida e o hóquei no gelo, esse grande desporto canadiano que tem pena que "não se veja mais em Portugal".Eram poucos os espectadores nas bancadas do Palácio do Gelo viseense no primeiro jogo entre a selecção portuguesa e o First Portuguese Canadian. Mas, tal como o resultado final (18-6 a favor dos canadianos) não era o número de pessoas que interessava. "Estamos contentes com as pessoas que aqui estão e mais importante que o resultado é a aceitação que a modalidade já vai registando em Portugal", declarava Ronald Calhau, capitão da equipa portuguesa e brasileiro de origem, mas radicado em Portugal há oito anos.A maior parte dos jogadores portugueses da selecção de hóquei no gelo é de Viseu. No Palácio do Gelo (o primeiro empreendimento comercial que incluiu uma pista de gelo de dimensões aceitáveis para a realização de um jogo), os familiares dos jogadores marcaram presença no primeiro dia do torneio. Alguns emigrantes portugueses no Canadá, ligados a jornais, rádios e associações da comunidade portuguesa, deram ao ringue de Viseu um cheirinho do ambiente deste tipo de provas, que habitualmente seguem naquele país.Para o First Portuguese Canadian Cultural Centre de Toronto, a deslocação a Portugal também foi importante. Trata-se de uma associação (a primeira entre largas dezenas que existem actualmente no Canadá) fundada em 1956, embora o hóquei no gelo se pratique apenas há oito anos. "Os nossos jogadores, todos eles amadores, já praticam um bom hóquei e têm-se mantido de forma digna nas ligas amadoras onde têm participado", afirma, orgulhoso, Mário Corte-Real, o primeiro treinador da equipa de hóquei do First Portuguese de Toronto, um marceneiro que vive há 30 anos em Toronto.O embaixador do Canadá em Portugal, Robert Wanderloo, como entusiasta da modalidade e da sua divulgação, é de opinião que "na aldeia global onde vivemos, já não se pode falar de desportos do Norte, do Sul, do frio ou do calor": "Também no Canadá, há 20 ou 30 anos era quase desconhecido o futebol e hoje o país já tem uma equipa agradável e um considerável número de futebolistas." Os jovens jogadores de Portugal já aceitaram o desafio dos canadianos, que os convidaram para um segundo torneio, a realizar em 2001 em Toronto.

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