Anabela Chalana, a rebelde do Euro 84

Com mais de década e meia passada sobre os seus "15 minutos de fama", a ex-mulher de Fernando Chalana arrepende-se de se ter exposto tanto. Não que Anabela mudasse a sua atitude de estar sempre presente, ao lado de Fernando. Apenas não se exporia tanto, não seria tão cáustica em muitas das declarações que então proferiu. E essas foram as razões que a fizeram tão famosa, a certa altura tanto quanto Fernando Chalana. Ousou ser uma mulher de futebolista diferente das outras.

Anabela Mateus é hoje, aos "40 e poucos" anos, produtora de programas de televisão. Está na equipa de Bora lá Marina e antes já passou pela produção do SIC 10 Horas e do Fátima Lopes. E, se isto parece não dizer muito a muita gente, esclareça-se que Anabela Mateus é a mulher que há 16 anos respondia pelo nome de Anabela Chalana. Depois da separação de Fernando Chalana, há cerca de sete anos, recuperou o apelido de solteira, mas não deixou de ser a mesma mulher. Muito extrovertida, conversadora, com ideias próprias e sempre muito crítica em relação a tudo o que não lhe agrada. Chamaram-lhe "agente subversiva", "mandona" e a regularidade com que aparecia nos jornais, rádios e televisões não foi bem aceite. Ela nunca se importou com isso.Nascida em Abrantes, onde o avô foi fundador da primeira casa do Benfica, Anabela foi educada em colégios de freiras, de onde foi "convidada a sair" por ser considerada demasiado rebelde. Guarda muito da disciplina e dos valores que aprendeu naqueles colégios - primeiro como semi-interna nas Doroteias e depois no regime de internato do Colégio de Santa Maria, em Torres Novas -, mas também confessa que procurou sempre arranjar forma de se ir embora. No liceu, então no Barreiro, prosseguiu a sua "carreira" de contestatária. Frequentou a Cambridge School e o ISLA e trabalhou em várias empresas.Foi já com pouco mais de 20 anos que Anabela conheceu Fernando Chalana, quando ambos moravam no Lavradio. A história do par nascia em 1980. Uma história que a retirou do anonimato, não apenas porque casara com Chalana, mas sobretudo porque desde logo se mostrou decidida a acompanhar o marido tanto quanto possível. E não era uma mera presença física: tinha opiniões e não se fazia rogada em dá-las. A imprensa interessou-se: Anabela aparecia a dar entrevistas e também a assinar pelo próprio punho crónicas regulares nos jornais desportivos. Primeiro para "A Bola", durante o Europeu de 1984, depois para o "Record", durante a estada em França, quando Fernando Chalana alinhou pelo Bordéus, e também para "A Bola Magazine", durante cerca de um ano, já depois de o casal ter regressado a Portugal."Anabela Chalana, uma mulher que é já um mito": era assim que a revista desportiva "Foot" abria a reportagem sobre Anabela e Fernando - mais sobre Anabela do que sobre Fernando - no número inaugural, em Novembro de 1984. Poucos meses tinham passado sobre o Europeu e nada tinha de extraordinário que a mulher de Chalana ombreasse com o Mundial do México, com os goleadores Gomes e Djão, com o treinador Eriksson e com a Taça UEFA. Nada de mais justo: afinal, fora ela quem captara as maiores atenções durante aquele Europeu; ela fora maior de que qualquer jogador da selecção portuguesa e até do que eles todos juntos.Anabela Chalana "foi o grande pólo de interesse da imprensa estrangeira", contava em Julho de 1984 João Marcelino, enviado especial do "Record" ao Europeu. E explicava: "Sozinha, deve ter dado mais entrevistas que todos os jogadores da selecção portuguesa. As televisões espanhola, francesa, os jornais ingleses, alemães, todos tinham coisas a perguntar-lhe." De Anabela muito se falou naquele ano. Muito se falou de Anabela, "muito se ouviu a Anabela - a falar de Chalana - e muito se entrevistou Anabela - sobre Chalana", escrevia também Carlos Pinhão em "A Bola".O protagonismo ganho por esta mulher - em especial porque falava abertamente de tácticas, contratos e dinheiros, criticava treinadores e até equipas médicas - valeu-lhe muita oposição por parte da classe dirigente desportiva. Mesmo antes do Campeonato da Europa, Anabela já era considerada tão polémica como "lady" Antognoni, a mulher do jogador da Fiorentina que fora responsável por uma forte controvérsia entre o marido e o presidente da sua equipa.A verdade é que Anabela estava sempre presente em todos os momentos importantes da vida profissional de Fernando Chalana. Nos jogos, nas negociações de contratos, nas entrevistas. Numa dessas entrevistas, ao "Record", o jornalista referia mesmo que "com Anabela presente é muito mais fácil entrevistar o jogador, pois ela puxa por ele, lembrando-lhe algumas coisas importantes". Mais: ficava perfeitamente assente que "os dois são um só". Devido a esta presença constante, a certa altura, a imprensa já se referia a Fernando, com alguma ironia, como "o marido da Anabela" ou "o Chalana, o Fernando, aquele rapaz que é casado com a Anabela".Fernando Chalana foi sem dúvida uma das estrelas maiores dos relvados daquele Europeu - superado apenas pelo francês Platini - e era ele o ídolo do futebol, mas era o nome de Anabela e o que ela dizia que enchiam as páginas dos jornais. Era Anabela que suscitava a maior das curiosidades. Por essa altura, a pianista portuguesa Maria João Pires, numa entrevista para "A Bola" conduzida por Leonor Pinhão, terá, já lá para o fim da conversa, perguntado à entrevistadora: "Explique-me cá uma coisa: quem é a Anabela?"ANABELA MATEUS - A Anabela sou eu. A mesma que era antes. A que já era antes de conhecer o Fernando. Sou uma pessoa muito extrovertida, muito crítica em relação a tudo o que acho que está mal. Nada conservadora e com uma personalidade e uma educação que não me permitem acomodar-me.

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