Mori já é primeiro-ministro

O Japão já tem primeiro-ministro. Tal como se esperava, o nome de Yoshiro Mori foi aprovado pelo Parlamento. O chefe do Governo garante que vai prosseguir a reforma económica de Obuchi. Vai estrear-se nos assuntos externos, e tem pela frente as negociações com a Coreia do Norte.

"Eu não espero nada dele. Acho que nada vai mudar, não importa quem seja o primeiro-ministro." Como esta mulher de 55 anos, a maioria dos japoneses acolheu sem entusiasmo, mas também sem preocupação, a eleição de Yoshiro Mori como novo chefe do Governo.As duas câmaras do Parlamento aprovaram ontem o sucessor de Keizo Obuchi, que se encontra ainda em estado de coma, depois de ter sofrido uma embolia cerebral. Mas, primeiro, Mori teve de ser nomeado presidente do Partido Liberal Democrata (PDL, no poder), do qual era secretário-geral. Os japoneses têm razão para não esperar nada de novo de Mori. O seu primeiro passo como primeiro-ministro foi manter todo o Executivo que, na véspera, se demitira para permitir a sua eleição. E é ele próprio quem garante que vai continuar "as políticas de revitalização [iniciadas por Obuchi] e fazer todos os esforços para conseguir um crescimento estável". Para já, terá de lidar com a situação provocada pela erupção do vulcão na ilha de Hokkaido, que deixou 13 mil pessoas sem casa. E com a cimeira dos oito países mais industrializados (G8), que em Julho se realizará em Tóquio.Existe também a possibilidade de o primeiro-ministro não desempenhar durante muito tempo as suas novas funções. Estão marcadas eleições para Outubro e o Parlamento pode sofrer alterações. É por isso que circulam rumores de que Mori vai querer aproveitar a simpatia do eleitorado, que por todo o lado não se cansa de dizer "pobre Obuchi", e f+bantecipar o escrutínio já para o próximo mêsf-b. "Não vai demorar muito para que se realizem as legislativas para recolher apoio para o novo Governo", afirmou Tamisuke Watanuki, líder da maior facção do PLD. Mori desmentiu, ontem, que fossem essas as suas intenções. "Neste momento, não penso numa dissolução do Parlamento", declarou na sua primeira conferência de imprensa como chefe do Governo.A troca de primeiro-ministro chega numa altura de agitação na vida política nipónica. A coligação tripartidária de centro-direita, formada por Obuchi em 1998, tem mostrado alguns sinais de enfraquecimento. No sábado, Obuchi mostrou vontade de quebrar o acordo com os outros dois partidos no poder, o Partido Liberal e o Novo Komeito (uma formação centrista apoiada por uma seita budista). E uma parte dos elementos do Partido Liberal decidiu, entretanto, criar um novo movimento, o Partido Conservador, que pretende ficar comf+b a aliança com os outros dois membros da coligação, visando uma vitória nas próximas eleiçõef-bs para a Dieta, a Câmara Baixa do Parlamento.Mori é um político com 30 anos de experiência. Foi eleito como deputado pela primeira vez em 1969, depois de dois anos passados num jornal conservador do Japão. Ocupou vários cargos ministeriais, como o da Educação, em 1983, e o do Comércio Internacional e da Indústria.O novo primeiro-ministro, casado e pai de dois filhos, ainda gosta de jogar râguebi, o desporto que praticava com assiduidade na juventude. E tem também outro vício herdado da mesma altura: dizem que fala demais. O jornal "Mainichi Shimbun" citava uma das suas "gaffes", cometida em Janeiro. Ao comentar a sua primeira campanha eleitoral, em 1969, Mori afirmou: "Quando estava a saudar os camponeses, do meu carro, todos fugiam para dentro de casa. Senti que tinha sida." Os membros das organizações contra a sida não gostaram da comparação, e Mori teve de pedir desculpa.Em 1989 esteve envolvido num escândalo financeiro que envolveu o então primeiro-ministro Noboru Takeshita. Isso provocou uma quebra na sua ascensão partidária.Mas se Mori é um veterano na política interna, não tem ainda provas dadas nos Negócios Estrangeiros. Ao contrário de Obuchi, que ocupou a pasta antes de ser primeiro-ministro, Mori vai ter de lidar com as relações externas do Japão pela primeira vez. E tem já pela frente as negociações com a Coreia do Norte, iniciadas ontem, com o objectivo de restabelecer as relações diplomáticas entre os dois países.Os dois lados manifestaram a sua intenção de superar as suas divergências, incluindo as preocupações de Tóquio com os mísseis norte-coreanos, e a exigência feita por Pyongyang de um pedido de desculpa pelo domínio colonial japonês. Esta não foi a primeira vez que os dois países se sentaram à mesa das negociações. Em 1992, as suas delegações encontraram-se, mas o diálogo ficou por concluir porque o Japão acusou a Coreia do Norte de rapto de alguns cidadãos japoneses. "Estamos muito determinados em obter conclusões nas negociações", disse o chefe da delegação norte-coreana. Terão mais quatro dias para o fazer.

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