Eram 13h46 em Portugal Continental quando o primeiro avião embateu numa das torres do World Trade Center. As imagens de um ataque impensável ficaram gravadas na memória colectiva. O PÚBLICO pediu a várias pessoas para recordarem um dia que não se esquece.

Gouveia e Melo

Gouveia e Melo

Na altura, eu estava na Esquadrilha de Submarinos, era o chefe de Estado-Maior [da Autoridade Nacional para o Controlo de Operações de Submarinos] e soube o que estava a acontecer porque um dos oficiais me chamou a atenção, de que algo se tinha passado nos Estados Unidos. Estava no comando, no [Arsenal do] Alfeite, onde havia sempre uma televisão ligada.

Começámos a ver as imagens e acabámos por ver o embate do segundo avião em directo. Aí, percebemos logo que era um acto terrorista e a principal preocupação foi perceber que consequências é que teria para a NATO, de que fazemos parte.

Guida da Ponte

Guida da Ponte

O dia 11 de Setembro foi uma pedra na minha vida... Não é que tenha nada de extraordinário para contar, além da memória que perdura no meu pensamento. Era época de férias da faculdade e eu encontrava-me, como habitualmente, na minha terra natal.

Estava só, em casa, era hora do almoço. Passei em frente da TV, sem som: vi um avião a embater num edifício. Havia uma nuvem enorme de fumo, cinzenta raiada de preto. Despertou-me curiosidade, estupefacção. “Isto aconteceu? quando? onde?”

António Mota

António Mota

“Lembro-me bem desse dia. Estava a terminar um período de férias em que fiz uma visita turística à Índia. Tinha lá estado nos últimos 15 dias, com os meus filhos todos, a minha mulher, a minha irmã e mais alguns amigos. Naquele momento dos ataques estava em Goa. A minha irmã tinha regressado a Portugal no dia anterior. Nós tínhamos voos para Portugal dois ou três dias depois.

Ao saber dos ataques — foi o meu filho quem me alertou, estava no hotel, liguei logo a televisão, acabámos por ver o atentado em directo [o embate do segundo avião no edifício do World Trade Center] — tive logo dois tipos de preocupações. A primeira foi a da paz e da estabilidade mundial. Toda a gente pensou nisso, não fui só eu. Depois pensei nos meus problemas: como é que eu vou embora para Portugal? Vai haver aviões, não vai haver aviões, vai ficar tudo bloqueado?

Sílvia Curado

Sílvia Curado

Há 20 anos, em Heidelberg, na Alemanha, não imaginava que estaria hoje a viver naquela cidade — Nova Iorque. Há 20 anos, em Heidelberg ou qualquer outro sítio do mundo, não se adivinhava que o mundo estava prestes a mudar.

Num dia que até aí parecia ser perfeitamente normal no European Molecular Biology Laboratory (EMBL), onde desenvolvia a minha tese de doutoramento, trabalhava num laboratório nesse instituto de investigação, juntamente com outros doutorandos e pós-doutorandos, onde, por hábito, ouvíamos música de rádio — porque também a ciência se alimenta das artes — enquanto cada um de nós desenvolvia as suas experiências de genética em mosquinha do vinagre.

Bruno de Almeida

Bruno de Almeida

Vivia, há mais de dez anos, num velho loft no bairro de Tribeca, em Manhattan, a poucas ruas do World Trade Center. No início de Setembro de 2001 tinha vindo a Portugal com o actor Robert de Niro e um grupo de amigos nova-iorquinos. Depois de saídas gastronómicas pelo país fora, que culminou num magnífico jantar no antigo Pap'Açôrda, eles voltaram para casa no dia 10. Eu fiquei mais uns dias em Lisboa. No dia 11 recebo um telefonema da Ece, a minha namorada turca que vivia no Soho, um bairro acima de Tribeca, aos gritos, a dizer que a caminho do trabalho tinha visto um avião a entrar por uma das torres. Primeiro achei que ela estava com os copos. Depois pensei que estava a ter um ataque alucinogéneo. Finalmente, decidi que deveria ter sido um acidente de avião e tentei acalmá-la.

Estava com o meu amigo John Frey, o actor e escritor, que na altura morava lá em casa, e ele disse que deveríamos ir procurar uma televisão para ver o que se passava. Deveriam ser umas 13h47, hora local, e estávamos com uma gigante ressaca.

Menezes Leitão

Menezes Leitão

No dia 11 de Setembro de 2001, tinha uma reunião à tarde no Centro de Estudos Judiciários (CEJ), de cujo Conselho Pedagógico era membro. Quando me preparava para sair de casa, vejo em directo na televisão as imagens das torres a arder, o que muito me preocupou, tendo acabado por chegar atrasado a essa reunião, que já decorria quando entrei. Pouco tempo depois, recebo uma mensagem da minha mulher no telemóvel a dizer que o Pentágono estava a arder e que a Casa Branca já tinha sido evacuada, o que aumentou os meus receios de uma situação muito grave. Não quis, no entanto, perturbar a reunião, que prosseguiu até ao fim. Quando acabou, os funcionários do CEJ informaram-nos de que ainda havia um avião no ar, cujo destino se desconhecia.

Dirijo-me de carro para o meu escritório de advogado, onde tenho um aparelho de televisão, e durante o percurso oiço na rádio a notícia da queda da primeira torre. Quando finalmente chego ao escritório, estava toda a gente a assistir pela televisão ao que se passava e, por isso, pouco mais se conseguiu trabalhar nesse dia.

Sobrinho Simões

Sobrinho Simões

Nessa tarde estava no Centro de Congressos de Berlim (CC). Na altura era Presidente da Sociedade Europeia de Patologia e moderava uma das sessões científicas do XVIII Congresso que havia começado a 8 de Setembro. Lembro-me (ou penso que me lembro...) de se ter instalado um barulho de fundo entre os participantes, mas a sessão foi até ao fim e, pelo menos eu, não me apercebi do que se havia passado.

Quando saímos para a zona social a agitação era grande, com as pessoas a correrem de um lado para o outro tentando aproximar-se dos poucos televisores disponíveis. Nesse tempo, os ecrãs eram pequenos e encontrei-me a apertar, e a ser apertado, em montões de gente que se espremiam de olhos para cima a procurar ouvir o que diziam. O sentimento era uma mistura de incompreensão e de medo.

Ana Cohen

Ana Cohen

Dois mil e um foi talvez o ano mais impactante da minha existência. O luto da morte do meu pai, a notícia feliz da gravidez da minha segunda filha, ensombrada por uma colestase hepática grave que quase me retirou a vida e me deixou um cansaço extremo, com episódios avassaladores sempre que amamentava.

No dia 11 de Setembro, estava a amamentar “o bebé lindo da mamã”, encostada a almofadas, com o quarto escurecido, a televisão ligada sem som, e a minha primogénita a brincar no chão. Aumentei o som. Numa primeira versão, pensava-se que teria sido acidente e mais tarde a derradeira verdade. Ao tempo, fiquei muito ansiosa ao ponto de o “bebé lindo” ter parado de mamar e começado a chorar sem parar.

Nuno Freitas

Nuno Freitas

Nessa trágica manhã do dia 11 de Setembro, estava de férias no Algarve, tinha o meu primeiro filho nascido há dois meses. Como a criança madrugava, íamos cedo para a praia e regressávamos a casa muito antes do almoço. Liguei a televisão, não havia então smartphones e, sem entender bem o que se estava a passar, se realidade, se ficção, vi em directo o segundo avião embater na segunda Torre Gémea em Nova York. Recordo-me que o locutor continuava a falar sem sequer se ter apercebido do segundo embate.

Tinha por essa altura 31 anos e apercebi-me do alcance que o momento poderia ter. Era um acontecimento histórico sem paralelo, um ataque ao complexo do World Trade Center no coração dos Estados Unidos. O que via estava ao mesmo nível do ataque do Japão a Pearl Harbour que estendeu a Guerra Mundial ao Pacífico. Um acontecimento que iria trazer sem dúvida consequências complicadas para a humanidade. E na verdade, vinte anos depois, está ainda o mundo inteiro a sofrer os efeitos desse acto, com reflexo na vida de todos nós.

Augusto Inácio

Augusto Inácio

Era treinador do V. Guimarães em 2001. O Vitória tinha vencido (2-1) o Sp. Braga na véspera, na 4.ª jornada. Lembro-me perfeitamente desse dia. Estava a almoçar com o dr. Pimenta Machado [antigo presidente do Vitória], no Águia d’Ouro, em Vizela, e começámos a ver as imagens na televisão.

Primeiro havia umas fumaradas, mas não nos apercebemos logo da gravidade da situação, até porque estávamos a conversar, sem prestar muita atenção às notícias. E só quando aumentaram o som é que tivemos noção de que era algo de extremamente grave.

Armindo Araújo

Armindo Araújo

Lembro-me muito bem desse dia. Estava a sair da minha empresa, em Guimarães, pronto para ir lanchar. Entrei na pastelaria e vi o aparato todo na televisão. Foi um choque tremendo.

Na altura nem percebi se era um acidente ou um atentado, até porque havia coisas a acontecer nas torres, nas ruas, etc. Lembro-me de que, nesse momento, havia muitas informações contraditórias. Não percebíamos bem o que estava a acontecer, mas foi um choque.

António de Sousa Pereira

António de Sousa Pereira

Naquele fatídico dia 11 de Setembro de 2001, encontrava-me a dar consultas e foi inclusivamente um paciente quem me avisou do atentado. Consegui ir acompanhando, embora de forma intermitente, o desenrolar dos acontecimentos, esgueirando-me sempre que podia para a sala de espera do consultório para ver, na televisão, o que se estava a passar.

Devo confessar que, como muitos de nós, a primeira reacção foi de alguma incredulidade. Tudo aquilo parecia irreal, como se de um filme se tratasse. E mesmo para cinema era pouco verosímil, demasiado hollywoodesco.

Carlos Rodrigues

Carlos Rodrigues

Regressei ao Atrium Saldanha pela zona da restauração poucos minutos antes das 14h, depois de um rápido almoço nas traseiras do edifício. O que vi foi a grande maioria dos comensais levantados a olhar para as televisões espalhadas pelos pilares do edifício.

A repetição de imagens dum avião comercial a atingir a Torre Norte era chocante e os comentários os mais diversos, desde erro de pilotagem a acidente. Subi ao 8.º andar onde funcionava a sede do BiG e fui para o Trading Room, a tempo de ver o impacto do 2.º avião a embater na outra Torre, bem mais abaixo do que o que tinha embatido na Torre Norte provocando o colapso da Torre Sul, menos de uma hora após o impacto. As perguntas fervilhavam na mente de todos e a possibilidade de um ato de guerra ou ataque terrorista concertado ganhava corpo. A verdade é que não havia comentário seguro que explicasse o que se passava.

Paulo Marcos

Paulo Marcos

Comecei o dia 11 de Setembro de 2001 com uma sessão de reflexão e de trabalho, com os meus colegas no BES com responsabilidade na concessão e decisão de crédito, para tentarmos perceber o motivo pelo qual os bancos de retalho tinham tão pouca produção de crédito para segundas habitações de estrangeiros em Portugal. Em comparação com Espanha, tínhamos um mercado 50 vezes mais pequeno do que o dos nossos vizinhos, o que estava longe de fazer jus às vantagens comparativas do nosso país.

A sessão de trabalho foi bruscamente interrompida pelos ataques às Torres Gémeas, pelos diretos, pelo colapso da Torre Norte e pelas imagens do ataque ao Pentágono.

Cristina Dourado

Cristina Dourado

No dia 11 de Setembro de 2001, estava na sede da Fertagus quando uma colega irrompeu pela minha sala a dizer que tinha havido um acidente enorme em Nova Iorque, nas torres gémeas, que estavam a arder. E o primeiro pensamento que nos veio à cabeça foi que uma amiga nossa estava em Nova Iorque a tirar uma pós-graduação. Será que estava bem?

E o nosso pensamento concentrou-se nela até termos conseguido falar com a família e perceber que estava em segurança. Entretanto liguei à minha mãe para saber da minha tia, que vivia nos Estados Unidos. Era pouco provável que ela estivesse naquela zona, mas ainda assim… Felizmente estava bem.

Elisa Ferreira

Elisa Ferreira

No dia 11 de setembro de 2001, tinha saído à hora do almoço do Ministério – era Ministra do Planeamento – para tratar de uns assuntos administrativos, quando encontrei por acaso, na Rua Augusta, um colega da Faculdade de Economia do Porto que já não via há muitos anos. Fizemos uma festa! Mas, enquanto conversávamos animadamente, começámos a notar alguma agitação à nossa volta, com pessoas apressadas a falar de “notícias”, “atentado”, “avião”.

Despedimo-nos rapidamente e fui direta para o Ministério, no Terreiro do Paço. Quando cheguei, fiquei estarrecida a olhar para as imagens transmitidas pela televisão do Gabinete, totalmente incrédula. Seria 1 de abril? Uma versão moderna da aterragem dos marcianos de Orson Welles? Por mais que me esforçasse, não conseguia definir onde, no meu quadro mental, poderia encaixar o que estava a ver.

Isabel Zuaa

Isabél Zuaa

“Tinha estado nas piscinas, perto de Loures, com os meus irmãos e a minha prima. Os meus primos tinham ido passar uns dias connosco, ainda estávamos de férias. Chegámos a casa para lanchar. Estava tudo uma confusão, uma brincadeira, alguns tomavam banho de mangueira no quintal, outros já queriam lanchar, famintos. Estávamos na coisa de ir ligando a televisão. De repente, nessa brincadeira de entra-e-sai da casa, a televisão é interrompida. Já havia notícias. Uns diziam: “Não, é um filme, é um filme”, outros, mais velhos, “isto não é um filme, está a acontecer de verdade, estão pessoas a morrer de verdade”.

Eu nunca achei que fosse um filme, pela forma como os jornalistas estavam a agir sobre aquele acontecimento, o mundo ocidental parou. Foi muito curioso, eu não parei logo, estava na coisa da brincadeira, de ir ligar a mangueira, ainda estava Sol, queria dançar, fazer uma coreografia com a minha prima Maria, ir vendo as pessoas a sentar na sala e a irem comendo.

Angela Ferreira

Ângela Ferreira

“Eu estava em Cape Town, na África do Sul, em casa a trabalhar. Devia ser final da manhã. Um vizinho, que também trabalhava em esculturas, apareceu-me — ainda me lembro da cara dele por cima do portão — e disse-me, histérico: “Switch on your TV, switch on your TV!”. Acendi a televisão. Levei algum tempo a conseguir perceber, ou a tentar perceber, o que estava a acontecer. Como toda a gente. Vi a primeira torre cair, e depois a segunda. Quando a segunda caiu, já tinha percebido. Já havia notícias no ar, fiquei colada à televisão e ao telefone, as duas coisas aconteciam entre os amigos e as pessoas. Foi um evento global, eu tinha família cá em Portugal e os meus pais telefonaram.

Foi um dia alucinante, uma coisa estranha e desafiadora, particularmente no contexto sul-africano, porque nessa altura, na África do Sul, vivia-se uma pandemia, a sida, que afectou, e continua a afectar, a população de uma forma violenta.