Torne-se perito

Macaenses conformados

Há macaenses emocionados com a aproximação da hora da retirada dos portugueses, embora considerem a situação "irreversível". A administração portuguesa começou a fechar as portas e os chineses não disfarçam a alegria que sentem pelo regresso de Macau à soberania de Beijing. O Presidente da República, Jorge Sampaio, chegou ontem ao território para protagonizar, do lado português, as cerimónias da passagem de Macau para a soberania chinesa.

O Presidente da República, Jorge Sampaio, chegou ontem a Macau para assistir às últimas horas da administração portuguesa que, à meia noite de domingo, reverte para a China. Esta é a terceira visita oficial de Sampaio ao Território mas, ao contrário das anteriores deslocações, a última das quais no passado mês de Março para inaugurar o Centro Cultural, não havia praticamente ninguém da comunidade portuguesa a aguardar o Presidente no aeroporto. Apenas o Governo, deputados e representantes dos sectores chineses receberam o avião presidencial no qual viajaram antigos dirigentes portugueses, como Ramalho Eanes e Cavaco Silva. O frio e a chuva, que caía à hora da chegada de Sampaio, terão afastado os populares mas a verdade é que a contagem final para a transição já causa bastante tristeza no seio da pequena comunidade. "Sou um 'filho da terra' e é natural que me sinta emocionado. Mas, bem ou mal, temos que aceitar este facto, que é irreversível", considera José Maria Tavares, reformado, natural de Macau.Jorge Sampaio não prestou declarações à chegada e na sua agenda constava apenas um jantar que oferecia a quadros superiores da administração pública. Na prática, o Governo português de Macau deixou ontem de exercer funções, quando os serviços públicos fecharam para um período de fim de semana seguido de feriados que dura até ao início da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Ontem, soube o PÚBLICO, alguns secretários adjuntos já não despacharam depois das 17 horas e o dia foi ocupado com despedidas nos gabinetes. Ao fim da tarde, foram distribuídos nos departamentos públicos os novos impressos identificativos e carimbos, nos quais, a verde, o símbolo da RAEM substitui os antigos escudos portugueses. No tarde de segunda-feira, um avião da Air Macau, especialmente fretado, transportará a maioria dos elementos do ex-Governo e funcionários superiores para Lisboa, num voo que fará diversas escalas. Em Banguecoque, Rocha Vieira junta-se à comitiva - o governador sai de Macau às primeiras horas do dia 20, acompanhando o Presidente da República até à capital tailandesa, onde se separam.Também ontem, foi formalmente encerrada a actividade do Grupo de Ligação Conjunto (GLC) após doze anos de negociações entre portugueses e chineses. No final, os embaixadores-chefes, Santana Carlos e Han Zhaokhan, destacaram os êxitos alcançados no seio do GLC, os quais, referiram, permitem encarar com optimismo o nascimento da RAEM.O optimismo é, aliás, o que mais abunda junto dos sectores oficiais chineses e transbordou para o outro lado de fronteira. Nos últimos dias, o novo edifício da alfândega de Zhuhai foi totalmente redecorado, com gigantescos lampiões chineses e grandes cartazes comemorativos do regresso de Macau. É por ali que, ao meio dia de segunda-feira, entram os efectivos da guarnição do Exército Popular de Libertação chinês que ficará estacionada em Macau e, no Território, as associações pró-Beijing estão mobilizar a população para receber em festa as tropas. "De certeza que vou lá estar para ver. É um momento muito importante para nós, chineses", garante Patricia Heong, caixa num supermercado.Há mais de uma semana que navios-patrulha chineses estão fundeados nas imediações da zona onde vão decorrer as principais cerimónias e a segurança aumentou em todo o Território. Ontem, agentes policiais de elite vindos de Portugal passaram a pente fino as ruas adjacentes ao local da cerimónia conjunta luso-chinesa, a qual se encontra isolada por tapumes. A PSP de Macau chegou a pedir aos moradores dos prédios vizinhos para não tiraram fotografias nem se chegarem muito às varandas e diversas lojas, que se encontram no perímetro, foram obrigadas a encerrar as suas portas.Para as autoridades, o principal receio de perturbação provém da seita Falun Gong, cujos elementos expressaram a intenção de se manifestar em Macau contra a repressão que se abateu sobre o movimento na China. Ontem, seis seguidores da seita foram expulsos do Território, confirmando-se assim a existência de uma "lista negra" na qual deverão constar os que, no último fim de semana, estiveram reunidos em Hong Kong numa conferência internacional do movimento que mistura princípios budistas, taoístas e exercícios de respiração.De acordo com fontes do movimento, os seis deportados, que eram originários da Austrália, Japão, Malásia e Hong Kong, foram expulsos depois dos seus quartos de hotel terem sido revistados pela polícia.

Sugerir correcção