A11 fica sem nós

Quatro anos após a reprovação do Estudo de Impacte Ambiental da auto-estrada Braga-Guimarães, o projecto está novamente em fase de discussão pública. Há agora quem reivindique, um nó de acesso às Taipas, mas a solução deverá passar pela ligação ao Parque Industrial de S. João da Ponte à A7.

Os treze quilómetros de auto-estrada que farão a ligação entre Braga e Guimarães (entre os nós de Celeirós e de Silvares, respectivamente) ficarão concluídos até 2003, acabando com as eternas filas de trânsito na actual Estrada Nacional nº 101. Só que a futura estrada (o troço A11-IP9), cujo Estudo de Impacte Ambiental (EIA) se encontra em fase de discussão pública, não tem nenhum nó de ligação às freguesias por onde passa.Especialmente afectado por este lapso do projecto é o Parque Industrial de S. João da Ponte, o principal pólo de desenvolvimento económico da região, situado perto da Vila das Taipas, o maior núcleo populacional entre as duas cidades. A autarquia vimaranense já está, contudo, em negociações com a Aenor (a "Brisinha" do Norte, um consórcio liderado pela Mota & Companhia) para a criação de uma via rápida entre o nó de Silvares, o parque industrial e as Taipas.Ao contrário do que sucedeu há quatro anos, quando este mesmo projecto foi exposto publicamente durante um período de consulta, a discussão à volta do projecto quase não se está a fazer pelo lado ambiental. Em 1995, o traçado proposto, que foi reprovado, iria atravessar literalmente a freguesia de Figueiredo (liderada pelo PSD), em Guimarães, o que não acontece agora. A "boa gente" de Figueiredo, como descreve o presidente da junta local, João Almeida, ou seja, as oitocentas pessoas que aí moram, "está de acordo com a alteração do traçado", apesar de este, em termos reais, em nada contribuir para a melhoria das acessibilidades da localidade, que se situa a dez quilómetros de Guimarães e a seis das Taipas.João Almeida declara que há um percurso alternativo para Braga, que, neste caso, fica apenas a um quarto de hora. Qualquer que seja o traçado executado pela Aenor (uma vez que há duas propostas, designadas por A e B, que distam quatrocentos metros uma da outra), uma parte da área agrícola de Figueiredo irá certamente ser destruída. Embora as alternativas sejam semelhantes, o estudo realça, por diversas vezes, que a opção pela "solução A" tem impactes negativos mais elevados do que a B, cujas consequências ambientais são consideradas "negativas moderadas".No EIA, que está acessível ao público até aos primeiros dias do próximo mês, está expresso que "a construção da estrada não originará a destruição de qualquer espécie florística legalmente protegida", embora registe "afectações directas" nas freguesias de Leitões e Figueiredo, ainda que "os impactes positivos da estrada sejam superiores aos negativos". Os dois traçados propostos distam quatrocentos metros um do outro, entre o quilómetro cinco e o dez. A distância, contudo, parece ser suficiente para confundir a população e sustentar as críticas da JSD de Figueiredo, que chama a atenção para o facto de a discussão se estar a centrar num corredor que difere apenas quatrocentos metros "e não sobre o traçado exacto da futura estrada". Censuram ainda a inexistência de um nó de acesso às Taipas, as portagens previstas para os treze quilómetros de estrada e a ameaça a que estarão sujeitos alguns imóveis patrimoniais.Entre as sete freguesias de Braga e as cinco de Guimarães por onde passará a auto-estrada, são variados os bens patrimoniais que por elas se espalham. Tal é o caso da Igreja de Celeirós, em Braga, que não é afectada directamente, ou da Casa de Figueiredo, já em Guimarães, um edifício do século dezoito, por onde a via passará, segundo o EIA, "destruindo alguns dos edifícios". Outro caso a que se tem feito referência durante o processo de discussão é o da Casa do Assento, igualmente em Figueiredo, um imóvel que distará 150 metros da auto-estrada. Na maioria dos casos, a via não destruirá os bens em questão, mas trará, sobretudo, um "prejuízo para o conjunto em que estão inseridos", comenta António Xavier, da Associação Patrimonial Muralha, de Guimarães, que confessa não ter, por enquanto, "opinião formada" sobre o assunto, estando ainda numa fase de recolha de informações. O mesmo parece estar a acontecer com a Amave (Associação de Municípios do Vale do Ave), que, na voz do administrador-delegado da instituição, Martins Soares, afirma estar num período de "discussão interna".Se em Figueiredo há uma via alternativa de acesso a Braga, em Brito a situação já é diferente. O presidente da junta desta freguesia (PSD) de Guimarães adianta desde logo não estar contra a construção da auto-estrada, ao mesmo tempo que refere que a via "não serve nada as freguesias por onde vai passar" e que em Brito "não há saídas alternativas". Também o presidente da Junta da Freguesia das Taipas (PS), Carlos Remísio, parece não levantar muitos problemas à construção da auto-estrada. Em relação à possível criação de um nó de acesso à vila, é pragmático: "Do ponto de vista egoísta da junta de freguesia, o nó não interessa". E explica porquê: "É mais importante um acesso rápido ao nó de Silvares, que fará a ligação ao Porto [A3] e a Famalicão [A7]". Assim, o mais importante para a população desta zona, em termos de fluxo de pessoas e bens internos e externos, é a criação de uma alternativa à EN 101. Até porque as portagens pesam muito nas decisões da população das Taipas.Ora, o desejo manifestado pelo presidente da Junta da Vila das Taipas parece ir ao encontro das intenções da autarquia socialista de Guimarães e da Aenor. O assessor da autarquia, Raul Rocha, adiantou estar "em negociações com a Aenor para que haja uma ligação de Silvares ao Parque de S. João da Ponte e daqui à Vila das Taipas", acrescentando que "tem havido disponibilidade" da empresa concessionária para executar esta proposta.Do lado da Aenor, apesar dos insistentes contactos efectuados pelo PÚBLICO ao longo de uma semana, não foi possível obter qualquer esclarecimento sobre este assunto, bem como acerca de outros aspectos relacionados com esta questão. Se a câmara e a Aenor chegarem a acordo, serão construídas duas vias rápidas com cerca de quatro quilómetros de extensão, que poderão ter um custo total de cinco milhões de contos, as quais terão que estar concluídas ao mesmo tempo que a auto-estrada. Seja como for, pelo menos daqui a três anos terá que estar pronta uma obra que já conta com alguns anos de atraso. A via faz parte de um plano nacional rodoviário mais abrangente que prevê estabelecer ligações com outras estradas do interior. Uma parte do Norte do país estará assim ligada pela A11 - onde desembocará o IC14 (ligação Esposende a Braga) - até à A7 (Guimarães-Famalicão), que, por sua vez, ligar-se-á a Vila Pouca de Aguiar. Por outro lado, a A11 prolongar-se-á até Penafiel, onde fará ligação com o IP4, até Quintanilha, em Trás-os-Montes.

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