Gay e lésbico abrangente

Entre os dias 10 e 25 decorre a III edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, este ano com ambições mais razoáveis do que a edição anterior.Na segunda edição, no ano passado, foram projectados 114 filmes ao longo de duas semanas, o que originou confusão de horários e algumas salas vazias. No entanto, segundo Celso Júnior, director do festival, mais de nove mil espectadores frequentaram essa edição, chegando a haver sessões em que quase uma centena de pessoas ficaram de fora por falta de espaço na sala da Cinemateca Portuguesa, um dos espaços do festival.Mas este ano, juntamente com a experiência cresce também a capacidade de organização, diminuindo o número de filmes a ser projectados (45 no total), o que permite que o critério da qualidade se sobreponha ao da quantidade."Há que fazer uma análise realista do que vale a pena ", disse Celso Júnior durante a conferência de imprensa que teve lugar na passada terça-feira no Fórum da Fnac (um dos patrocinadores desta edição). Sendo "melhorar e desenvolver" um dos lemas da organização, a terceira edição, que decorrerá na Cinemateca Portuguesa e no Fórum Lisboa, irá apostar em filmes mais abrangentes, de modo a chegar a um público mais variado, como afirmou Gonçalo Diniz, produtor do festival e presidente da Associação ILGA - Portugal. "Pretende-se que o festival seja, também, uma referência para Lisboa".Quanto a filmes em destaque, os dois organizadores apontam "Amor de Hombre", de Juan Luis Iborra e Yolanda Garcia Serrano, seguidores da escola de Almodóvar; "Love is The Devil", de John Maybury, sobre a figura e vida do pintor britânico Francis Bacon; "Wilde", de Brian Gilbert, em antestreia nacional, sobre Oscar Wilde; "East Palace West Palace", dos chineses Dong e Xi Gong, libelo contra a opressão sobre os homossexuais na China; e "Fire", de Deepa Mehta, filme várias vezes premiado internacionalmente.A destacar, também, o filme do português André Delhay, "Liga-me...", o único título nacional presente. "Há uma grande procura de filmes portugueses a nível internacional", contou Gonçalo Diniz, "mas há ainda um grande medo nessa aposta" (por parte da produção nacional), como, confirmou Celso Júnior. "Não há mais filmes portugueses devido à produção nacional, que é muito pequena".Apesar da atitude mais controlada e selectiva deste ano, os organizadores não pretendem fugir completamente ao esquema dos festivais anteriores. O primeiro ano foi quase totalmente retrospectivo e o segundo, apesar de "mais experimental", teve os seus momentos de homenagem. Este ano há duas retrospectivas e uma homenagem. Rosa Von Praunheim, realizador natural da Letónia que fez nome no movimento do novo cinema alemão, é um dos autores em retrospectiva, com filmes como "Nich der homosexuelle ist pervers, sondern di situation in der er lebt", um título emblemático dos anos 70, "I Am My Own Woman", de 1992 e "Can I Be Your Bratwurst?", de 1999, este a ser exibido numa sessão que irá contar com a presença do realizador e com o seu show "56 anos de Perversidade". "E acreditem que ele consegue ser perverso", brincou Celso Júnior.Outra realizadora em destaque é a americana Rose Troche, que estará presente durante a sessão de encerramento do festival com os filmes "Go Fish", a sua primeira longa metragem, de 1994 (um dos títulos destacados quando se começou a falar no New Queer Cinema) e "Bedrooms and Hallways", de 1998.A actriz e encenadora Rosa Maria Sardà será a figura homenageada no festival, e estará presente na projecção do filme "Caricias", do espanhol Ventura Pons.Para o futuro, Celso Júnior e Gonçalo Diniz falam de um concurso internacional de cinema, ainda em fase de estudo. "É um projecto muito ambicioso, mas é esse o nosso objectivo final", disse Celso Júnior.

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