Torne-se perito

Os segredos da "Caenorhabditis elegans"

Depois de Melissa e Chernobyl, a comunidade cibernáutica volta a preocupar-se com um novo vírus informático, que parece ter herdado as piores características de ambos. Chama-se Worm.ExploreZip e foi descoberto há cerca de uma semana, em Israel. Está a espalhar-se por todo o mundo, disfarçado de resposta a uma mensagem de correio electrónico previamente enviada.

A "Caenorhabditis elegans", um minúsculo verme que é um verdadeiro animal de estimação dos cientistas - pois foi o primeiro organismo multicelular cujo património genético foi completamente sequenciado -, está a revelar uma série de segredos que podem ser preciosos para os seres humanos. Os mais recentes têm a ver com a descoberta de genes que controlam o desenvolvimento dos órgãos e a longevidade.A supressão da actividade de um único gene (chamado daf-2) permitiu aos cientistas duplicar as três curtas semanas de vida deste verme. "O processo de envelhecimento neste verme não é inevitável", afirmou Cynthia Kenyon, da Universidade da Califórnia em São Francisco, ao apresentar o trabalho da sua equipa, publicado na revista "Nature", num encontro da Associação Médica Americana. Este gene comanda a produção de uma proteína semelhante aos receptores das células humanas para hormonas como a insulina e o factores de crescimento - que, por sua vez, controlam a transformação da comida ingerida em energia. E, ao inibirem a função do gene daf-2, os investigadores perceberam que o verme tinha uma vida duas vezes mais longa, mantendo um metabolismo jovem e saudável. "Se as coisas que estamos a descobrir no património genético de organismos inferiores tiverem equivalência nos seres humanos, é possível que, durante os próximos 10 a 20 anos, consigamos aprender como modificar o ritmo de envelhecimento, melhorando a qualidade de vida na terceira idade", concluiu Kenyon. O próximo passo, no entanto, será a procura de sistemas genéticos semelhantes em ratinhos. Mas, enquanto o aumento da longevidade é apenas uma ambição que não conseguimos ainda satisfazer, a "Caenorhabditis elegans" está também a fornecer-nos pistas para outros avanços na medicina, igualmente importantes. Um deles é o mecanismo que controla o desenvolvimento embrionário dos órgãos - que nos poderia permitir criar em laboratório novos órgãos para transplantes."Sabemos muito pouco acerca de como os órgãos se formam", diz Judith Kimble, citada num comunicado de imprensa do Instituto Médico Howard Hughes, nos EUA. Por isso, é importante terem-se isolado os genes que produzem a proteína que regula a forma dos órgãos neste minúsculo verme: "Esta é uma das primeiras moléculas descobertas que podem ser manipuladas para modificar a forma dos órgãos", acrescenta. Os cientistas relatam no último número da "Nature" terem descoberto os genes que comandam o fabrico de uma proteína - a que chamaram Gon-1 - fundamental para que uma amorfa massa de células de um embrião se transforme em diferentes órgãos complexos. Os cientistas estudaram a formação das gónadas - os órgãos que concedem a especificidade a cada um dos sexos, os ovários e os testículos. Neste verme, as gónadas formam-se a partir de um grupo de quatro células especializadas, cujo trabalho é organizado por uma espécie de célula-chefe, cuja função é determinar a forma do órgão. A produção da proteína Gon-1 é, precisamente, um dos principais papéis destas células-chefe. Assim, aumentam as possibilidades de que, um dia, os cientistas consigam controlar a divisão celular de forma a produzir novos órgãos para transplantes, através da manipulação em laboratório de células indiferenciadas humanas, que ainda não se especializaram numa certa função.É muito possível que o mesmo mecanismo regulador do crescimento dos órgãos seja partilhado pela maioria dos outros animais. "Por ora, isto é mera especulação, mas o facto de esta proteína controlar o desenvolvimento dos órgãos neste verme pode ser uma indicação clara de que o mesmo aconteça nos mamíferos", comentou Judith Kimble à agência Reuters. A "Caenorhabditis elegans" possui perto de 20 mil genes e o genoma humano cerca de 100 mil, mas temos em comum com este verme 40 por cento dos genes.

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