Estacionamento subterrâneo nas zonas históricas?

A Câmara Municipal de Lisboa em vindo a construir parques de estacionamento subterrâneos em vários pontos da cidade, tentando dar resposta às necessidades de estacionamento bem à vista um pouco por todo o lado. Para isso tem utilizado largos e praças, como são exemplos os parques das Avenidas Novas. Pretende-se agora atingir as zonas históricas, tendo já sido executada a ampliação do parque dos Restauradores, o parque da Praça do Município e o parque da Praça do Martim Moniz.Neste momento foram iniciadas as obras do parque da Praça Camões ao Chiado, ao qual se seguirão mais quatro parques na zona do Bairro Alto, Jardim de S. Pedro de Alcântara, Largo da Misericórdia, Hospital de Jesus, Rua da Academia das Ciências e também no Campo de Sant'Ana e eventualmente no Castelo de S. Jorge.A questão que se coloca é se é boa política para resolver o problema do estacionamento nas zonas históricas a execução de parques de estacionamento, o que vai aumentar o tráfego automóvel, chamando mais carros a essas zonas, com condições precárias de acessibilidade e fluidez de tráfego, ou se pelo contrário devem ser procuradas soluções alternativas que diminuam o tráfego e o congestionamento dessas áreas, dando prioridade aos transportes públicos de superfície ou subterrâneos, condicionando o acesso automóvel até por razões de poluição, como é exemplo em numerosas cidades europeias. Julga-se que para melhorar a acessibilidade no Chiado e Praça Camões, a entrada em funcionamento da Estação do Metropolitano da Baixa-Chiado é muito mais importante do que a projectada construção do silo automóvel na Praça Camões. Não se pode desvalorizar o impacto que no ambiente urbano tem a construção de um parque automóvel subterrâneo, pois ao contrário do que poderá ser ideia corrente, os parques de estacionamento subterrâneos não são invisíveis, antes deixam numerosas marcas da sua existência, como as extensas rampas de acesso e respectivas guardas, os elevadores de superfície ou as grelhas de ventilação, o que, dada a exiguidade desses espaços, vão ser elementos muito presentes e que alteram de modo mais ou menos grave a harmonia e o sossego da actual fisionomia desses locais. Para a sua execução, é necessário proceder à total destruição da zona de superfície, com sacrifício de todas as árvores existentes, que no caso Camões têm mais de quarenta anos, a sua replantação é problemática, pois a camada de terra em cima da laje do estacionamento necessariamente de reduzida altura não pode permitir as melhores condições para o seu desenvolvimento. Estamos a falar de áreas de grande valor patrimonial, histórico e artístico para a cidade e que deveriam ser a todo o custo preservadas, evitando-se a sua descaracterização ou desfiguração. Haverá o direito de, por razões pelo menos controversas, proceder a obras que ponham em risco as zonas históricas?Onde está o debate público em que estas questões sejam analisadas e encontradas as soluções alternativas?Não deveria ser privilegiada a construção de parques de estacionamento, enterrados ou não em locais estratégicos, em áreas da cidade que necessitam do obras de renovação urbana, que pelo seu desafogo reúnam as necessárias condições de segurança e em conexões com os transportes públicos, onde possam constituir pelo contrário factores de melhoramentos do ambiente urbano actualmente degradado?Na zona do Chiado já está em construção uma importante área de estacionamento enterrado no conjunto de renovação urbana da Companhia de Seguros Império, assim como se prevê a inclusão de estacionamento na área dos Antigos Armazéns do Chiado, o no futuro empreendimento dos Terraços de Bragança. Será preciso mais?

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