Dia histórico em Matosinhos

Saneado o mar do Estoril, faltava reordenar as coisas em terra. É o que será feito até ao ano 2008. Mais uma revolução ao estilo "português suave", desta vez com estreia na Linha e reposições garantidas por todo o litoral, essa faixa de 845 quilómetros que funciona ainda como a principal mais-valia de Portugal para efeitos de consumo externo.

Com cerca de dois anos de atraso em relação à previsão inicial e um custo de quatro milhões de contos - bem superior aos 2,7 milhões da adjudicação, em 1995 -, foi ontem inaugurada a estação de tratamento de águas residuais (ETAR) de Matosinhos e o exutor submarino, duas peças gigantescas e fundamentais do plano director de saneamento básico municipal, que estão finalmente a tratar grande parte dos esgotos domésticos e industriais do concelho."É um dia que será para sempre histórico em Matosinhos! Fechámos o ciclo das grandes infra-estruturas ambientais", regozijou-se Guilherme Pinto, vereador do Ambiente e presidente dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS), na presença da ministra do Ambiente, Elisa Ferreira, que presidiu à cerimónia. A ETAR de Matosinhos fica situada em Leça da Palmeira, a norte do farol da Boa Nova, e ocupa uma área de 18 mil metros quadrados. Está equipada para tratar ao nível primário os esgotos de uma população estimada em meio milhão de habitantes, calculada para os próximos 40 anos - o tempo de vida previsto para o equipamento. O exutor, por seu turno, vai lançar as águas tratadas a 2,7 quilómetros da costa, a uma profundidade de 30 metros. Mas, neste "ano zero", segundo revelou Guilherme Pinto, o sistema vai apenas servir 60 por cento da população e 30 por cento do parque industrial. É que, apesar do "esforço financeiro" realizado na última década na rede de águas residuais - que ronda os 20 milhões de contos -, a autarquia tem ainda muito dinheiro a enterrar em redes secundárias, por forma a que todos os fogos do município fiquem ligados ao sistema. Um "problema" que "demorará a resolver" na totalidade, reconheceu o autarca. as assimetrias"A cargo de Narciso Miranda ficaram rasgados elogios à ministra - suportados em números sobre infra-estruturas ambientais, entre o cenário de 1995 e o actual, no Norte do país -, mas também um recado quanto à distribuição dos fundos do próximo Quadro Comunitário de Apoio: "A fatia está encontrada, falta encontrar o talher mais adequado para utilizar essa fatia". Ou seja, na opinião de Narciso, os próximos anos constituem "uma grande oportunidade para todas as regiões do país, mas em especial para o Norte e sobretudo para a área metropolitana do Porto". "É preciso corrigir as assimetrias que ainda existem", lembrou o edil, recuperando o discurso reivindicativo do PS-Porto dos últimos dias sobre esta matéria.Além desta inauguração, Elisa Ferreira presidiu à assinatura de contratos-programa com as câmaras de Espinho, Matosinhos e Vila Nova de Gaia com vista a pequenas obras de requalificação da orla costeira, no valor global de 355 mil contos. De manhã, em Viana do Castelo, a ministra já tinha apresentado a Carta de Risco do Litoral, um documento ontem revelado pelo PÚBLICO e que, segundo a governante, constitui uma ferramenta fundamental para as autarquias ao nível dos processos de revisão dos planos directores municipais e de outros planos de ordenamento do território. Um desses instrumentos nacionais são os nove planos de ordenamento da orla costeira (POOC), estando aprovados apenas quatro deles. "Os restantes serão aprovados a muito curto prazo", prometeu Elisa Ferreira, que, ao longo do dia, insistiu numa ideia-força: "Temos de passar dos mecanismos correctores para os mecanismos de prevenção."Foi nessa onda de prevenção que a ministra escolheu o primeiro dia da Semana do Ambiente promovida pelo seu ministério para assinar um protocolo com a Força Aérea Portuguesa com vista à realização de "voos de fiscalização" ao longo dos 830 quilómetros da costa continental portuguesa. O objectivo desta missão de patrulha aérea visa vigiar as rotas de passagem de petroleiros e outros navios, dissuadindo descargas poluidoras nas águas marítimas. "Trata-se de uma acção que procura libertar a costa dos fenómenos de poluição, muitos dos quais são de origem criminosa", frisou a ministra do Ambiente.

Sugerir correcção