Uma comemoração multimédia

"25 de Abril, uma Aventura Democrática", o CD-ROM comemorativo dos 25 anos da Revolução dos Cravos que o PÚBLICO distribuiu, bateu recordes de vendas em Portugal. Com 55 mil unidades vendidas nas duas edições produzidas (já que a primeira esgotou mal chegou às bancas e a segunda seguiu pelo mesmo caminho), o êxito do CD-ROM foi surpreendente, mostrando a apetência dos leitores do jornal pelo multimédia. Realização do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra concretizada pela Ciberbit-Produções de Software, "25 de Abril, uma Aventura Democrática" é uma visão enciclopédica dos acontecimentos que levaram à Revolução de 25 de Abril de 1974, da sua efectivação e das suas consequências.Com base no trabalho de recolha, organização e catalogação realizado pelo Centro de Documentação 25 de Abril - dirigido pelo professor Boaventura Sousa Santos -, a equipa coordenada por Natércia Coimbra fez a selecção do material. Depois, a Ciberbit utilizou um modelo de organização simples para a concepção da obra, que teve coordenação de produção de Joaquim Ruas de Carvalho, do Instituto de História e Teoria das Ideias. Este CD-ROM foi uma conjugação de esforços, já que cada uma das instituições envolvidas tinha planeado o lançamento de um produto multimédia sobre o 25 de Abril. E o esforço foi recompensado com um êxito que a todos surpreendeu."Conhecíamos o resultado de 'Castelos de Portugal', do Grupo Forum, que em dois anos vendeu dez mil cópias, e depois soubemos que a 'Diciopédia' tinha atingido os 35 mil. Admitimos como melhor cenário vender 25 mil exemplares de '25 de Abril, uma Aventura Democrática'. Mas os leitores responderam de tal maneira que tivemos de fazer uma segunda edição de 30 mil e esgotámos as duas", explica Adelino Gomes, director-adjunto do PÚBLICO. "Três meses antes ninguém se arriscaria a dizer que o interesse pelo 25 de Abril seria tão grande. Nas comemorações dos 20 anos, não houve grande impacto; por isso, este ano não se esperaria esta resposta do público. Penso que isso se deve às iniciativas inéditas que alguns órgãos de comunicação tiveram, como a reconstituição da SIC, que surpreenderam as audiências e potenciaram novos interesses.""25 de Abril, uma Aventura Democrática" surge como uma parte das iniciativas do PÚBLICO para assinalar os 25 anos da Revolução. "Fizemos as entrevistas do Baptista-Bastos, uma edição do jornal totalmente produzida pela 'selecção dos sub-28' - jornalistas que ainda não sabiam ler em 1974 - e também a revista especial que reproduziu o percurso de Santarém a Lisboa de Salgueiro Maia. Mas não podíamos fazer a comemoração do 25 de Abril ignorando os novos meios."Adelino Gomes recorda que, na génese deste CD-ROM, esteve uma reunião com os membros mais novos do PÚBLICO, em que se quis perceber o que é que eles queriam saber sobre o 25 de Abril. "Chegámos à conclusão de que, apesar de o jornal só ter dez anos, já tínhamos publicado todas as respostas às suas perguntas e que tínhamos um bom acervo sobre a Revolução. Para não fazer uma reedição do que já tínhamos produzido, decidimos usar esse material como base para um CD-ROM. Era uma maneira de recuperar o bom trabalho que já tínhamos feito."Inicialmente, foi estabelecida uma parceria com o Grupo Forum para essa edição mas depois surgiram problemas com a sua viabilização económica. "Nessa altura, já tínhamos contactos com a Secretaria de Estado da Juventude (SEJ), que estava mobilizada para a ideia do Presidente da República para interessar os mais novos nas comemorações", relata o director-adjunto do PÚBLICO. "Foi então que houve o encontro com o Centro de Documentação 25 de Abril, que nos apareceu pedindo-nos apoio para um CD-ROM seu." O encontro de interesses das três entidades convergiu e nasceu "25 de Abril, uma Aventura Democrática".A SEJ patrocinou a iniciativa como modo de disponibilizar esta informação a quem nasceu depois do 25 de Abril, de uma forma pedagógica. Abrangendo o período 1956-1976, tem um enfoque no tempo a seguir à Revolução. Para a SEJ, o CD-ROM era a forma ideal de chegar aos mais jovens. Se eles têm maior apetência para o multimédia, fazia todo o sentido que se recorresse a ele.Quanto ao êxito do produto, para a empresa que o produziu não foi uma completa surpresa. "Os produtos desenvolvidos pela Ciberbit são sempre extremamente cuidados, o que já nos valeu três prémios internacionais. Claro que, neste caso, tanto a riqueza invulgar da informação utilizada neste CD-ROM como a ampla distribuição possibilitada pelo PÚBLICO, e até a própria conjectura das comemorações dos 25 anos do 25 de Abril, ajudaram bastante a conseguir o sucesso alcançado," explica Eduardo Esteves.A aposta num modelo mais enciclopédico que lúdico deve-se ao facto de o 25 de Abril ser "um acontecimento demasiado recente e que afecta demasiado o nosso presente para poder ser condensado numa 'história' simples ou vertido numa sequência divertida de acontecimentos," afirma Eduardo Esteves. "A experiência demonstra que os mesmos materiais relativos ao 25 de Abril podem ser considerados risíveis por umas pessoas e trágicos por outras. Ao adoptar uma abordagem 'enciclopédica', em que muitas visões diferentes dos mesmos factos são apresentadas para exploração pelo utilizador, permitimos que cada um construa a sua própria história, e possa usar o CD para mostrar a euforia e a tragédia, a firmeza das convicções e a agonia das incertezas, as conquistas e os excessos", acrescenta.Mas, tendo em conta os destinatários, para além da vertente informativa, quis-se apostar "numa forma lúdica apelativa para a faixa etária dos 8 aos 15 anos, sensibilizando um público mais jovem para a nossa história recente e dando-lhe a oportunidade de a conhecer", explica a SEJ. "O sucesso deste CD-ROM estimula-nos muito a que a linguagem multimédia seja cada vez mais utilizada." E o facto de ser o CD-ROM de maior sucesso no nosso país é o "resultado feliz desta parceria".Para a Ciberbit "a maior dificuldade foi conseguir colocar num CD toda a informação mantendo elevados padrões de qualidade (60 minutos de vídeo, 40 minutos de música, 30 minutos de som e 251 documentos). Para tal foi necessário recorrer a sistemas de compressão-descompressão de última geração", explica Eduardo Esteves. Quanto ao PÚBLICO, Adelino Gomes promete não perder o embalo e, "dentro de dois ou três meses, surpreender os nossos leitores com um produto sobre o final do século".

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