Um "dandy" fim-de-século

A poesia épica e a grande arte clássica misturadas com piadas venenosas e música de elevador. É o "cocktail" proposto como programa de vida por Neil Hannon e os seus Divine Comedy. Em entrevista ao PÚBLICO, o autor de "Generation Sex" fala das circunstâncias em que gravou "Fin de Siècle", da sua carreira e do futuro da música pop no próximo milénio. E dos seus dois concertos, amanhã em Gaia e domingo em Lisboa, às 21h30. A primeira parte ficará a cargo dos portugueses The Gift.

"Não me venham dizer quem eu sou", afirma um dos músicos que mais se deixou conotar com uma visão irónica da pop. Ao fim de quase dez anos de existência dos Divine Comedy, o seu mentor, Neil Hannon, ambiciona fazer da pop um estilo musical sem fronteiras, em que o prazer e a erudição musical lhe permitam assinalar as emoções do seu tempo. Não esquecendo o seu providencial gosto pelo revivalismo e pela citação. Conversador afável e descontraído, por certo que aproveitará o ambiente familiar do Hard Club, de Gaia (amanhã) e do grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa (domingo), para expressar o seu requintado sentido de humor. Pela terceira vez em Portugal, os Divine Comedy serão antecedidos em palco pelos The Gift, uma das mais sugestivas propostas da recente música portuguesa. NEIL HANNON - Na altura não foi, mas agora julgo poder encontrar um significado. Esse disco é mais aberto e óbvio, não tem tantas coisas à volta, o que não quer dizer que seja melhor do que os outros. É muito difícil ser um purista, há qualquer coisa de estimulante em nos tornarmos grandes, e não só pelo dinheiro (apesar de até agora ter ganho pouco). Talvez porque preciso do sucesso para me considerar bom. Só que as únicas coisas que consigo fazer são as que têm vindo a ser lançadas. Talvez seja por ter vivido na Irlanda do Norte, só via os canais britânicos. A minha relação com a cultura irlandesa é mais distante do que era suposto. Nunca gostei de música folk, apesar de agora a apreciar mais. Tem a ver com o amadurecimento. Em adolescente, sentia-me atraído por coisas refinadas, como Oscar Wilde, os Beatles.

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