Célia adoptou o garrafão reutilizável para produzir menos lixo

Projecto Eco, que permite o reenchimento de recipientes com água filtrada, evitou a utilização de 163 toneladas de plástico entre 2018 e 2020. Um exemplo para criar novos hábitos.

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O projecto Eco permitiu evitar a utilização de 163 toneladas de plástico entre 2018 e 2020 Rui Oliveira

Célia Azevedo vivia um dilema comum: sonhava reduzir o volume de lixo plástico que produzia, mas, ao mesmo tempo, não conseguia tolerar o sabor da água da torneira. Por isso, continuava a comprar água no supermercado e a levar, todas as semanas, uma grande quantidade de garrafas recicláveis ao ecoponto. Até que descobriu o garrafão Eco, um recipiente reutilizável que pode ser enchido com água filtrada nas lojas Pingo Doce.

“Comecei por comprar apenas uma garrafa Eco para experimentar a água. Achei que tinha um sabor agradável e voltei para comprar três garrafões de seis litros”, conta a assistente social de 51 anos, residente em Vila Conde. Para Célia Azevedo, o planeamento que as embalagens reutilizáveis exigem não é um problema. “Antes eu tinha de sair para comprar água engarrafada e separar depois os plásticos. Hoje organizo-me para ter sempre os recipientes vazios na garagem, prontos para entrar no carro – assim, nunca me esqueço de os trazer quando vou às compras”, explica.

A iniciativa nasceu há quatro anos e, hoje, o serviço de reenchimento de embalagens reutilizáveis está disponível em 142 lojas do país. Segundo uma nota enviada pela Jerónimo Martins (proprietária do Pingo Doce) ao PÚBLICO, o projecto Eco permitiu evitar a utilização de 163 toneladas de plástico entre 2018 e 2020. Nesse mesmo período, foram vendidos 10,5 milhões de litros de água filtrada e purificada. O Pingo Doce é o único retalhista no país a oferecer este serviço. “O garrafão reutilizável é um exemplo de boa prática no sector do retalho”, avalia Susana Fonseca, da associação Zero.

Júlio César, reformado de 64 anos, é fã de embalagens reutilizáveis. Não pensou duas vezes em comprar os garrafões Eco, quando a mulher, Marisa d’Ottaviano, de 69 anos, descobriu que existia uma forma de comprar água sem acumular garrafas plásticas em casa. “Toda a minha vida tive uma preocupação com o ambiente. Há 40 anos, eu já mergulhava, no Norte do estado de São Paulo, no Brasil, e ficava chocado com a quantidade de lixo no fundo do mar. Já vi tartarugas com plástico preso no corpo, é de partir o coração. Tudo o que pudermos fazer para produzir menos plástico é pouco”, conta Júlio. O casal brasileiro, que vive em Portugal há apenas três meses, já incorporou a rotina de deixar as embalagens vazias no porta-bagagens do carro.

“Isto é como o que aconteceu no passado com os sacos reutilizáveis. Aos poucos, as pessoas vão criar novos hábitos e passar a trazer o garrafão Eco para as compras”, prevê Paulo Ramos, director do Pingo Doce da Póvoa de Varzim. Na loja, há duas fontes de água Eco, uma delas localizada estrategicamente perto do talho. “A ideia é que os clientes, enquanto esperam pela vez para comprar carne, possam ter oportunidade para conhecer melhor como funciona o sistema de reenchimento”, afirma o responsável.

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Júlio Cesar, reformado de 64 anos, é fã de embalagens reutilizáveis Rui Oliveira

Foi precisamente nas imediações do talho que Felipe Guedes, um empregado de mesa de 25 anos, descobriu o projecto Eco. “Não conhecia, mas acho uma ideia excelente. Não me sinto bem com a quantidade de garrafas que esvaziamos e deitamos ao lixo”, explica Felipe, que escolheu o formato garrafa (o mais pequeno) e já o levou cheio para a caixa de supermercado. Na hora do pagamento, a operadora fornece a pega da embalagem. É assim que os funcionários do hipermercado diferenciam as embalagens usadas daquelas que ainda não foram pagas: as primeiras apresentam a pega junto ao bocal e as outras não.

O grupo retalhista disponibiliza recipientes em três tamanhos: 1,5, três e seis litros. O custo é de um euro, 1,30 e 2,50 euros, respectivamente, sendo o primeiro enchimento gratuito. Paulo Ramos conta que, na loja que dirige, o modelo maior é o mais vendido. Este pode ser colocado na posição horizontal, sobre a banca da cozinha ou a prateleira do frigorífico, e receber uma torneira para funcionar como um dispensador.

As irmãs Michele e Estefânia Cardoso, de 16 e 18 anos, também vão regularmente ao hipermercado encher os garrafões Eco da família. Para as duas, esta é a solução “mais económica” e “simples” para comprar água. “Moramos na freguesia de Rio Mau, em Vila do Conde, onde fazemos a separação completa do lixo. Os resíduos orgânicos vão para a minha avó, que tem um quintal, e fazemos a triagem do plástico, do vidro e do papel. Quem faz mesmo a separação e vê o volume que se produz percebe como são práticos estes garrafões”, explica Estefânia, estudante de Informática.

Vendida a seis cêntimos o litro, a água do projecto Eco passa por um filtro que retém resíduos e impurezas, depois por outro de carbono que promete reter químicos que interferem com o sabor e o cheiro e, por fim, por uma lâmpada ultravioleta capaz de esterilizar o líquido.

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