João Nicolau de Almeida : O pioneiro dos vinhos de mesa do Douro que se rendeu à vitivinicultura orgânica

“Acho que dei o meu contributo na selecção das melhores castas e na forma de plantar no Douro, agora aprendo com as novas gerações”.

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Nelson Garrido

Há várias famílias do vinho que espelham bem as voltas que o Douro deu nas últimas décadas. Os Alves de Sousa são um bom exemplo.

Esta família do concelho de Santa Marta de Penaguião, hoje com quintas em várias zonas do Douro (possuem cerca de 130 hectares de vinha), foi durante várias gerações vendedora de uvas para vinho do Porto. Manteve-se assim até ao início da década de 90 do século passado. Em 1991, já com Domingos Alves de Sousa ao leme, quis dar um novo destino aos excedentes do vinho do Porto, para tornar a exploração mais rentável, e lançou o primeiro vinho de mesa, o Quinta Vale da Raposa Branco. No ano seguinte, produziu o primeiro tinto, o Quinta da Gaivosa, que viria a ser um sucesso (ainda é). Hoje, o nome Alves de Sousa é um dos mais aclamados do Douro.

Engenheiro civil de profissão, Domingos Alves de Sousa tinha o essencial, quando decidiu mudar o rumo da casa, passando a produzir e a engarrafar os próprios vinhos: as uvas. Para montar o negócio, socorreu-se de Jorge Dias (hoje director-geral da Gran Cruz, uma das maiores empresas de vinho do Porto e não só) e do enólogo Anselmo Mendes, que se manteve como consultor até ao ano de 2013. A partir deste ano, os vinhos ficaram a cargo exclusivo de Tiago Alves de Sousa, filho de Domingos. Doutorado em Enologia, Tiago é quem define os caminhos de modernidade da viticultura e dos vinhos Alves de Sousa, contando com a abertura e o entusiasmo do pai. “Já não aplicamos herbicidas em nenhuma das nossas quintas”, diz Domingos, com orgulho.

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Nelson Garrido

João Nicolau de Almeida, filho do criador do Barca Velha, também não. Na sua Quinta do Monte Xisto (Vila Nova de Foz Côa), que partilha com os filhos (Mateus e João cuidam da viticultura e dos vinhos e Mafalda trata da comunicação e a da promoção), só há espaço para tratamentos orgânicos, sobretudo à base de plantas locais.

É uma vida nova para o homem que teve um papel essencial na selecção das castas que, a partir de meados da década de 80 do século passado, estiveram na base da renovação dos vinhos do Douro. Um trabalho desenvolvido na Ramos Pinto com o tio José António Rosas que levou esta empresa a entrar, a partir da colheita de 1990, também nos vinhos de mesa com o tinto Duas Quintas, um ícone da altura.

João Nicolau de Almeida comprou a Quinta do Monte Xisto, quando ainda presidia à Ramos Pinto e, enquanto não se reformou, delegou a gestão da propriedade nos filhos. Um dia foi lá e viu umas barricas cheias com umas mistelas “que cheiravam muito mal”. Assustou-se e torceu o nariz aos “novos” produtos que os filhos se preparavam para utilizar na vinha.

Afinal de contas, João tinha feito toda a sua carreira em viticultura convencional e nunca imaginou que, depois de se reformar e guiado pelos filhos, em particular por Mateus, se iria transformar num fervoroso defensor da viticultura orgânica e dos vinhos de intervenção mínima. Mas foi mesmo isso que aconteceu.

“Estou a gostar muito deste salto para um novo mundo. Não desprezo o que fiz antes.” Acho que dei o meu contributo na selecção das melhores castas e na forma de plantar no Douro, agora aprendo com as novas gerações”, diz.

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