A maioria socialista, os votos do PSD e a chegada de novos partidos. As interrogações das eleições açorianas

O socialista Vasco Cordeiro irá renovar a maioria a absoluta nas últimas eleições a que concorre? Bolieiro será o catalisador do aumento da votação do PSD? As regionais dos Açores são no próximo domingo e o PÚBLICO explica o que está em causa.

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Vasco Cordeiro, o presidente do Governo Regional dos Açores, vai tentar manter a maioria absoluta do PS LUSA/ANDRÉ KOSTERS

Não é pelo desfecho ser o mesmo há 24 anos que as eleições regionais do Açores do próximo domingo não têm matéria de interesse. A retirada da maioria absoluta socialista, a expectativa em relação ao resultado do PSD, a luta pelo terceiro lugar e a possibilidade da entrada de novos partidos no parlamento regional são algumas das incógnitas para a noite eleitoral açoriana. Os partidos andaram porta a porta, ilha a ilha, ao longo de duas semanas, numa campanha eleitoral sem jantares-comício (a não ser os do Chega) e sem grandes arruadas. Exigências de uma eleição em tempos de pandemia.

Ainda assim, ao longo do contacto de rua, o PS enalteceu a obra feita, enquanto todos os outros partidos alertaram para a necessidade de acabar com os 24 anos de governação socialista – de 1996 a 2012 com Carlos César, a partir de 2012 com Vasco Cordeiro. A investigação da Comissão Europeia às injecções de capital na SATA, a estratégia no combate à covid-19 na região, a necessidade da alternância democrática e o alegado envolvimento de Bolieiro na investigação à venda do Azores Park foram alguns dos temas que nortearam a campanha.

Nas regionais açorianas de 2020 concorrem 13 partidos: PS, PSD, CDS-PP, BE, CDU, PPM, Livre, PAN, MPT e PCTP/MRPP, Aliança, Chega e Iniciativa Liberal. Os últimos três participam pela primeira vez no sufrágio açoriano. Já o actual presidente do Governo, Vasco Cordeiro, concorre ao terceiro e último mandato permitido pela lei. Pela frente, terá José Manuel Bolieiro, que chegou à liderança regional há menos de um ano, após liderar a Câmara de Ponta Delgada, a maior dos Açores, de 2012 e 2019. É o oitavo líder do PSD desde 1996, ano em que os sociais-democratas perderam a liderança do Governo Regional que detinham desde 1976 com Mota Amaral.

Se é certo que todos os partidos começam com zero votos, não são necessários exímios dotes de adivinho para prever uma vitória socialista. A dúvida reside na renovação da maioria socialista. O PS governa com maioria absoluta há 20 anos, mas tem vindo a reduzir a percentagem de votos desde 2004. Nas regionais de 2016, os socialistas perderam nove mil votos (52.827 para 43.266) comparativamente às eleições de 2012 (a primeira em que concorreu Vasco Cordeiro) e perderam um deputado (passaram de 49% para 46%).

O PSD também acompanha a perda de votos dos socialistas. De 2012 para 2016, os social-democratas perderam oito mil votos, um deputado, e a percentagem passou de 33% para 31%. Face à história dos números, este mês, Rui Rio assumiu uma posição que o PSD-Açores nunca confessou: a retirada de maioria absoluta ao PS seria uma “meia-vitória” para as hostes “laranjas”. A única sondagem feita para essas eleições, realizada pela Universidade Católica para a RTP, dá o PS com 28 a 32 deputados (45%) e o PSD entre os 18 e os 22 parlamentares (32%). Actualmente, o PS tem 30 deputados e o PSD 19. Se o PS tiver o valor mínimo apresentado na sondagem (28 deputados) perde a maioria, uma vez que a maioria absoluta é atingida com 29 cadeiras.

Na sondagem surgem três partidos a fechar o pódio com 3% dos votos: o CDS (que em 2016 teve 7%), o BE (que antes teve 4%) e o Chega. Está aberta a corrida ao título de terceira força política. Logo a seguir surge o PAN, a Iniciativa Liberal e a CDU (que em 2016 teve 2,6%) com 2% e o PPM com 1%. A confirmar-se, PAN, Chega e Iniciativa Liberal entrariam para a Assembleia Regional. Três partidos que não apresentam candidaturas em todos os círculos eleitorais.

Mas as previsões são dificultadas pela complexidade do sistema eleitoral açoriano. A sondagem da Católica abrangeu apenas as ilhas de São Miguel e Terceira, que têm os dois maiores círculos ao eleger 30 dos 57 parlamentares (dez pela Terceira, 20 por São Miguel). Mas além dos círculos por cada ilha, existe um círculo de compensação. Assim, o Pico e o Faial elegem quatro deputados cada, enquanto São Jorge, Santa Maria, Graciosa e as Flores têm três lugares cada. A ilha mais pequena, o Corvo, tem direito a dois deputados. Os outros cinco são eleitos por um círculo de compensação que reúne os votos que não foram aproveitados nos outros círculos e que, por isso, beneficia os partidos que concorrem em mais círculos.

É um sistema eleitoral que dificulta a entrada de novos partidos - os quatro lugares do Pico, por exemplo, foram partilhados pelo PS e PSD nas últimas nove legislaturas – e que apresenta uma grande disparidade no número de votos que permitem a eleição. Em 2016, o último deputado eleito no Corvo, pelo PPM, alcançou 82 votos, enquanto os 1500 votos do CDS em São Miguel não chegaram para eleger ninguém directamente, mas contribuíram para eleger dois deputados pela compensação. Os outros três lugares da compensação foram destinados ao PS, PSD e BE.

A imprevisibilidade do número de votos suficientes para eleger deputados é também moldada pela taxa de abstenção. Em 2016, verificou-se a taxa de abstenção mais elevada (59,2%) nas eleições açorianas, numa região que, por exemplo, registou os índices de abstenção mais elevados do país nas europeias de 2019 (81,3%) e nas legislativas do mesmo ano (63,5%). De um total de 228.999 eleitores, perceber quantas pessoas irão se deslocar à mesa de voto para votar nas primeiras eleições em plena pandemia é também uma das expectativas das regionais do próximo domingo.

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