Centro Europeu de Controlo de Doenças diz que não faz sentido impôr restrições de viagens

Portugal continua com uma taxa de incidência muito elevada, a seguir à Suécia. O ressurgimento da infecção está a acontecer em vários países da União Europeia.

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Rui Gaudêncio

Na segunda metade de Junho, houve um ressurgimento da infecção pelo novo coronavírus em vários estados da União Europeia, mas não há razões que justifiquem a restrição de viagens entre os diferentes países, sustenta o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC na sigla em inglês) no último relatório de avaliação de risco publicado esta quinta-feira.

Para o ECDC, as restrições de viagens não constituem “um meio eficaz de redução da transmissão dentro da União Europeia uma vez que a transmissão comunitária está em curso” em todo o espaço económico europeu. Os dados do European Surveillance System  indicam que, em Junho, “apenas 3% dos casos confirmados” terão sido infectados noutro país, acrescenta.

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças faz esta ressalva numa altura em que os países da União Europeia e o Reino Unido estão a reabrir as suas fronteiras e alguns estão a invocar o critério dos novos casos por 100 mil habitantes registados na última semana para restringir a entrada de alguns turistas. Portugal é um dos países em pior situação, uma vez que o número de novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias se tem mantido elevado, colocando-nos na pior posição a seguir à Suécia, ainda que bem longe da taxa de incidência deste país.

Neste último relatório de avaliação de risco, o ECDC opta por elencar os países que, em 30 de Junho, tinham uma taxa de incidência nos últimos 14 dias superior a 10 casos por 100 mil habitantes — Bulgária, República Checa, Luxemburgo, Polónia, Portugal, Roménia, Suécia e o Reino Unido (que é incluído na análise). Dentro deste grupo, a variação é muito grande: a Suécia surge no topo da tabela com 149.4 novos casos por 100 mil habitantes, Portugal está em segundo lugar (47.4), seguido do Luxemburgo (30 casos por 100 mil) e do Reino Unido (22.7).

Enquanto em 16 países se observou uma descida da incidência, nos outros 12 aconteceu o inverso, mas as razões para o recrudescimento da infecção variam. Podem reflectir uma maior aposta na testagem, o surgimento de grandes surtos localizados e resultar também, como seria de esperar, do levantamento progressivo das restrições e do regresso à normalidade, observa o ECDC.

“Era expectável que, a partir do momento em que diminuíram as restrições, a tendência fosse de subida”, corrobora Paulo Santos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e investigador do Cintesis (Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde), que aconselha cautela na análise destes dados e nota que a taxa de incidência, apesar de merecer atenção, não é um critério de gravidade. “Era preciso perceber se os novos casos representam doença ou infecção”, diz o investigador, que defende igualmente que o fecho de fronteiras não faz sentido.“A União Europeia tem que começar a raciocinar como um todo. Somos 400 milhões de pessoas.”

Os dados são conhecidos numa altura em que vários países decidiram limitar ou proibir a entrada de cidadãos provenientes de Portugal, como é o caso da Dinamarca, que também coloca a Suécia na sua lista negra. Aguarda-se agora com expectativa em Portugal a decisão do Reino Unido. Ainda não é conhecida a lista oficial de países que ficam excluídos, ou não, dos corredores aéreos que os britânicos tencionam criar. A cada país será concedido um estatuto – que poderá ter cores diferentes consoante os cidadãos precisem de ser sujeitos a quarentena à chegada (vermelho), se apenas serão obrigados a preencher um formulário que permita localizá-los em caso de infecção (amarelo) ou se ficam livres de qualquer tipo de restrição (verde).

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