Contra as indicações da OMS, Europa começa a levantar restrições

Alguns países europeus começaram a levantar algumas das restrições de confinamento social e outros estão a discutir fazê-lo. Há estratégias diferentes, ainda que a gradualidade impere em todas elas.

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Centenas de milhões de pessoas estão confinadas em casa há mais de um mês Reuters/SUSANA VERA

Com as economias paralisadas e as populações a sentirem um crescente cansaço da quarentena, muitos são os governos europeus que começaram agora a discutir e a levantar as restrições de isolamento social, enquanto outros o recusam por agora. 

Para que as medidas de restrição possam ser levantadas, é necessário dar alguns passos. Em primeiro lugar, que o contágio esteja controlado; em segundo, que os cuidados de saúde dêem resposta; em terceiro, que as probabilidades de um segundo surto estejam, dentro dos possíveis, minimizadas; quarto, que medidas preventivas, como o uso de máscaras e distanciamento social, estejam garantidas nos locais de trabalho; e, por fim, que a importação de casos de outros países possa ser controlada e dada resposta célere. 

O relaxar das restrições não pressupõe o descurar da prevenção, como lavar as mãos e manter uma distância de segurança de dois metros, e as autoridades dos vários países não têm perdido uma oportunidade de o frisar. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) avisa que levantamento das medidas de emergência poderá promover o contágio, resultando em consequências graves e prolongadas no tempo. Estes são os posicionamentos de alguns governos europeus e quais as suas estratégias de saída do confinamento. 

  • Espanha. Foi um dos dois países europeus em que toda a actividade, mesmo a não essencial, foi encerrada duas semanas, reabrindo alguns sectores nesta segunda-feira. Sem conhecer a verdadeira dimensão da pandemia no país, o Governo espanhol pretende ter uma amostra da circulação do vírus na população, fazendo testes em massa (mais de 60 mil) de despistagem da covid-19, para ter uma ideia da dimensão do contágio. Só depois deverá decidir sobre o relaxamento de todas as medidas de emergência. O executivo, que na semana passada disse que os espanhóis poderiam regressar gradualmente à normalidade a partir de 26 de Abril, não descartou esta segunda-feira a possibilidade de reforçar ou manter as restrições, dependendo da situação epidemiológica.
  • Itália. O número de infecções e mortos começou a descer em Itália, o epicentro do surto na Europa, e o Governo começa a preparar o levantamento cauteloso das restrições, chamando-lhe II Fase. A maior parte da economia ficará fechada até 4 de Maio, mas algumas lojas (como livrarias e de roupa para crianças e bebés), serviços de lavandaria fábricas de computadores, actividades florestais vão reabrir esta terça-feira e quem neles trabalhar ou frequentar terá de usar máscaras. Entretanto, o executivo prepara-se para alargar os testes à covid-19, para se saber a real dimensão da pandemia no país, e está a dar os últimos retoques técnicos a uma aplicação que permitirá aos italianos saber quem está infectado, já a pensar numa segunda vaga.
  • França. O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou o prolongamento do confinamento até 11 de Maio, mas “as pessoas mais vulneráveis, idosas, com doenças crónicas ou deficiência severa devem ficar confinadas ainda mais tempo”, avisou o chefe de Estado. A partir dessa data, creches e escolas devem reabrir, de forma progressiva, mas não as universidades. Bares, restaurantes e salas de espectáculo permanecerão encerradas. A realização de testes de despistagem da covid-19 será tão ampla quanto possível. O Presidente francês anunciou ainda um plano específico de apoio a sectores como o turismo, a hotelaria e a cultura.
  • Alemanha. A chanceler alemã, Angela Merkel, vai debater, esta quarta-feira, com os chefes dos governos dos estados federados quais os próximos passos a dar. A Academia Nacional de Ciências Leopoldina sugeriu uma série de medidas (uso de máscaras e de aplicações para rastrear as pessoas infectadas) se algumas restrições forem levantadas. Apesar de a maioria dos alemães estar preocupada de se avançar demasiado cedo, especialistas de saúde têm aconselhado ao Governo federal a reabertura de escolas primárias, e não de creches, por as crianças não saberem usar máscaras.
  • Áustria. Foi o primeiro país a avançar com o levantamento de medidas. O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, anunciou na semana passada que, a partir desta terça-feira, as pequenas lojas (com menos de 400 metros quadrados) vão poder reabrir, seguindo-se, a 1 de Maio, as outras lojas, centros comerciais e cabeleireiros. O executivo vai decidir, no final de Abril, sobre se prolonga ou não a telescola para além de meados do próximo mês e o uso de máscara foi tornado obrigatório para quem sair de casa. Restaurantes e hotéis vão abrir a partir de meados de Maio. 
  • Dinamarca. As creches e as escolas primárias serão abertas esta quarta-feira e o Governo vai discutir uma data com os patrões para os trabalhadores regressarem aos seus postos de trabalho. O executivo estendeu a proibição de ajuntamentos com mais de dez pessoas até 10 de Maio e todas as igrejas, cinemas e fronteiras vão continuar fechados.
  • Noruega. O Governo norueguês está a privilegiar a reabertura das escolas para o regresso à normalidade e, por isso, os jardins-de-infância vão reabrir já na próxima semana.
  • Irlanda. O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, disse em entrevista ao Irish Independent estar “optimista” de que as medidas possam começar a ser levantadas em meados de Maio, de forma gradual. Varadkar estendeu as restrições à liberdade de movimentos e encerramento de creches e escolas até 5 de Maio.
  • República Checa. Apresentada como um dos exemplos europeus na contenção do coronavírus, a República Checa começou a levantar as restrições permitindo a reabertura de lojas de materiais de construção, de tecnologia e de bicicletas. Os espaços desportivos ao ar livre também foram reabertos, como campos de ténis, e as viagens essenciais para fora do país serão permitidos a partir desta terça-feira. 
  • Polónia. O Governo vai manter as restrições até 20 de Abril, não tendo dado mais pormenores sobre o que fará de seguida.
  • Suíça. O Governo prolongou as restrições de distanciamento social até 26 de Abril, mas já disse que vai começar a levantar as restrições a partir de meados de Abril, sem dar mais pormenores e apontando 16 de Abril como data para o anúncio ao país. A Presidente suíça, Simonetta Somaruga, disse em entrevista ao Sonntagsblick que o executivo não quer manter os idosos e quem pertencer a grupos de risco confinados indefinidamente. 
  • Reino Unido. Depois de um fim-de-semana de Páscoa em que as orientações do executivo foram ignoradas, com britânicos a irem aos parques, o primeiro-ministro, Boris Johnson, voltou a realçar a necessidade das restrições de isolamento social e disse que serão reavaliadas no final desta semana. O período crítico de três semanas já passou e há membros do executivo a pressionar para o levantamento gradual das medidas. 
  • Bulgária. O Parlamento búlgaro votou na semana passada o levantamento de algumas das restrições. Os mercados agrícolas vão poder reabrir e as multas a algumas das actividades proibidas foram reduzidas. 
  • Hungria. Munido de poderes de estado de excepção, o primeiro-ministro, Viktor Orbán, recusa-se a apontar uma possível data para o fim gradual das medidas, referindo apenas que o Governo vai discutir o assunto todas as semanas. 
  • Roménia. O Presidente romeno, Klaus Iohannis, estendeu o estado de emergência por mais 30 dias, até meados de Maio. Não se fala ainda de se reduzirem as restrições depois desse período. 
  • Ucrânia. O primeiro-ministro ucraniano, Denis Dshmigal, que anunciou novas restrições a ajuntamentos e à circulação de pessoas no início de Abril, disse que algumas poderão ser levantadas já no final deste mês. Os transportes públicos voltarão a circular e as pessoas deslocarem-se para o trabalho. 
  • Lituânia. O executivo estendeu o confinamento até 27 de Abril, mas o primeiro-ministro, Saulius Skvernelis, deixou no ar a hipótese de as restrições começarem a ser gradualmente levantadas depois da Páscoa. Os pequenos negócios poderão reabrir. 
  • Grécia. O Governo grego planeia levantar medidas a partir de 10 de Maio, frisando que o serão gradualmente e por fases. Podem ser totalmente levantadas até em Julho, se não houver novos surtos, diz o Kathimerini. Por exemplo, as liberdades de circulação não irão, numa primeira fase, abranger os mais idosos e grupos de risco, mantendo-os confinados, e as restrições às viagens serão levantadas entre meados de Junho e início de Julho.
  • Holanda. As medidas de isolamento já impostas, como o encerramento de bares e restaurantes, manter-se-ão até 28 de Abril, com o Governo a dizer que vai anunciar nessa semana os seus planos. 
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