Cursos mais disputados esgotaram e as médias subiram

As médias de ingresso subiram na generalidade dos cursos. Mesmo nos que são habitualmente mais procurados por alunos com notas mais elevadas e que, por isso mesmo, tiveram luz verde para fazer crescer a oferta. Havia 11 nesta circunstância que vão agora receber no total 818 dos 44.500 estudantes colocados nesta 1.ª fase do concurso de acesso ao superior.

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gabriel sousa

O Governo tinha fixado novas regras no acesso ao ensino superior deste ano, que resultaram num aumento de 15% nas vagas nos cursos habitualmente mais procurados pelos alunos com notas mais elevadas, e a resposta dos estudantes não podia ter sido mais expressiva: não só cresceu a procura destas formações, esgotando todos os lugares disponíveis, como quase todas as médias de acesso subiram. O que significa, igualmente, que nesta disputa pelas formações mais desejadas a fasquia voltou a subir.

Havia 11 cursos que cumpriam os requisitos do Governo para aumentar a oferta. Estes vão receber, no próximo ano lectivo, 818 estudantes – dos 44.500 colocados na 1.ª fase do concurso nacional de acesso, cujos resultados são divulgados neste domingo. Em função das regras aprovadas para este ano, estes cursos, que estão todos sediados na Universidade de Lisboa e Universidade do Porto, criaram 107 vagas adicionais. Foram todas ocupadas.

Só as formações que tivessem 100% no chamado “índice de excelência dos candidatos” é que podiam aumentar o número de lugares para este concurso nacional. Esse indicador era dado por uma fórmula que tinha em conta o número de candidatos que entraram em 1.ª opção no concurso de acesso do ano passado com nota de ingresso igual ou superior a 17 valores, bem como o número de vagas de cada curso. Ou seja, só nos casos em que o número de candidatos “excelentes” fosse superior aos lugares disponíveis é que haveria aumento de oferta.

Dos 15 cursos com médias mais elevadas, apenas os de Medicina – que têm tido tratamento de excepção nas mudanças de regras de acesso ao superior nos últimos anos – não aumentam os lugares disponíveis. Por exemplo, Engenharia Física e Tecnológica, do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, que foi o curso com média de acesso mais elevada no ano passado (o último colocado tinha 18,9 valores), passou de 60 para 69 vagas disponíveis.

Aumentou a oferta também nos cursos de Gestão, Engenharia Informática e Computação, Bioengenharia, Engenharia e Gestão Industrial, Línguas e Relações Internacionais e Design de Comunicação da Universidade do Porto e Engenharia Aerospacial, Matemática Aplicada à Economia e à Gestão, Matemática Aplicada e Computação e Engenharia Biomédica da Universidade de Lisboa. 

O presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, João Guerreiro, que liderou o grupo de trabalho que propôs ao Governo este aumento de vagas nos cursos procurados pelos melhores alunos, não esconde a satisfação com os resultados da sua implementação: “São números muito bons.”

Guerreiro valoriza a “resposta conjunta” dada pelas instituições de ensino superior, que aumentaram em 15% as vagas nestes cursos, e também das famílias e dos estudantes “que aproveitaram esta oportunidade para se candidatarem” a formações que, nos últimos anos, têm tido cada vez mais procura – nomeadamente de alunos com notas elevadas.

A média mais alta em aeroespacial

Com o aumento do número de lugares nestas formações superiores era expectável que as médias de acesso às mesmas baixassem – uma vez que havia mais lugares para acomodar todos os candidatos. Não foi, porém, isso que aconteceu.

Dos 11 cursos que fizeram crescer em 15% as respectivas vagas, só três têm este ano uma média de ingresso inferior à do ano passado. Nos restantes, a nota de acesso cresceu. O maior destaque vai para Matemática Aplicada à Economia e à Gestão, na Universidade de Lisboa, onde a nota do último colocado passou de 17,85 valores para 18,4, um aumento de mais de meio valor. Neste curso houve um ligeiro crescimento no total de lugares disponíveis (eram 44, mais seis do que em 2018).

O curso com a média mais alta este ano foi Engenharia Aeroespacial, no Instituto Superior Técnico, com 18,95 valores numa escala que vai até 20. Nota: nas listas completas de colocações, divulgadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e que pode consultar nesta edição, a escala de classificação apresentada vai até aos 200 pontos. Esta é, formalmente, a escala de classificação usada no acesso ao ensino superior. Nos seus textos, contudo, o PÚBLICO adopta, como nos anos anteriores, a escala até 20 valores, que é aquela em que são habitualmente apresentadas na pautas as notas dos estudantes e com a qual estes e as famílias estão mais familiarizados. 

Em sentido contrário, há nove cursos em que a média de entrada ficou no limite mínimo, de 9,5 valores: Reabilitação Psicomotora, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; Educação Social e Ciências Biomédicas Laboratoriais, no Politécnico de Bragança; Gestão Hoteleira, Solicitadoria e Imagem Médica e Radioterapia, no Politécnico de Castelo Branco; Tecnologia e Gestão Ambiental e Engenharia Informática, no Politécnico de Coimbra; Desporto, no Politécnico da Guarda.

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Mais alunos no interior

João Guerreiro adverte que o aumento das médias de acesso pode ser uma “situação conjuntural”, uma vez que este ano houve notas mais elevadas no ensino secundário e melhores resultados nos exames nacionais. Nesse contexto, as notas de ingresso no superior subiram neste ano, não só nestes cursos, mas transversalmente na maioria das formações do ensino superior público.

Se este ano foram os cursos procurados com os melhores alunos a ter regras diferentes para a fixação de vagas, no ano passado foram as instituições de ensino superior de Lisboa e do Porto a ser alvo das inovações do MCTES. As universidades e politécnicos das duas principais cidades do país foram obrigados a cortar 5% na oferta. A intenção era fazer com que mais alunos fossem estudar para o interior.

O número de estudantes colocados nas instituições localizadas no interior do país aumentou este ano 2,6% face ao ano passado – e 3,8% em relação a 2017. Este ano, a regra foi distinta: as instituições de Lisboa e do Porto tinham que reduzir as vagas nos cursos que, no ano passado, não tiveram qualquer candidato em 1.ª opção no concurso nacional de acesso com nota superior a 17 valores, o que teve um impacto reduzido. 

Nos últimos três anos, a tutela também deu indicações às instituições de ensino superior para que aumentassem o número de vagas em cursos de tecnologias digitais, em linha com os princípios da Iniciativa Nacional de Competências Digitais. Neste concurso nacional de acesso, entraram 6486 estudantes em cursos desta área de formação, o que representa um aumento de 4% face ao ano passado. Em relação a 2015, a subida é de 14%.

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